Tecnologia de Satélites Ajuda a Monitorar a Pesca

EQUIPA DA ADF

Recentes imagens de satélite da África Ocidental mostraram uma concentração de pontos azul claros, da Mauritânia ao Gabão. Mais abaixo da costa, muito mais grupos apareceram perto de Angola e Namíbia.

Os pontos representavam arrastões de pesca industrial a pescarem activamente nas áreas onde a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), nas zonas económicas exclusivas (ZEE) dos países, já existe há décadas. A pesca ilegal já dizimou os meios de subsistência dos pescadores locais, esgotou de forma severa unidades populacionais de peixe já sobreexploradas e causou destruição ambiental.

Um novo estudo da Universidade de Delaware utilizou imagens produzidas pelos sistemas de identificação automática das embarcações (AIS) — e fornecidas pela Global Fishing Watch — para avaliar a pesca industrial estrangeira nas ZEEs costeiras africanas. A Global Fishing Watch rastreia a pesca através de um mapa público online gratuito.

Os resultados do estudo demonstram o potencial para o uso de AIS e outras bases de dados para revelar a pesca INN no continente, de acordo com Mi-Ling Li, da Escola de Ciências Marinhas e Políticas da Universidade de Delaware e co-autora do estudo.

“Descobrimos que as embarcações de pesca com bandeiras dos países de conveniência estão na maior parte das actividades de pesca, nas águas africanas,” disse Li à ADF num e-mail.

As embarcações de pesca, muitas vezes, içam a bandeira de um país no qual o navio está registado, em vez do país do proprietário do navio, para evitar encargos financeiros ou regulamentos restritivos. As embarcações pagam taxas de registo aos países.

Os economistas afirmam que a pesca INN custou aos países da África Ocidental mais de 300.000 empregos da pesca artesanal e aproximadamente 2,3 bilhões de dólares em receitas, entre 2010 e 2016, de acordo com o jornal Daily Observer, da Libéria.

Existem desvantagens em confiar em dados de satélite para apanhar os pescadores ilegais. As embarcações envolvidas na pesca INN, muitas vezes, desligam os seus sistemas AIS para evitar a detecção pelas forças de segurança marítima e não atracam nos portos locais onde as autoridades podem inspeccionar as suas capturas.

Esta actividade foi observada na Namíbia, Li disse na página da internet da Universidade de Delaware. Durante o estudo, os dados de AIS mostraram 20 embarcações de pesca nas águas namibianas, mas algumas não declararam ter capturado peixe naquele lugar.

“Este é um problema grave em relação à pesca ilegal nas águas africanas,” disse Li, na página da internet.

Embora a China seja o pior infractor envolvido na pesca INN ao nível do mundo e, muitas vezes, tendo como alvo a África Ocidental, aquele país não é o único na sua procura por vida marinha africana.

O estudo demonstrou que arrastões japoneses passam a maior parte do seu tempo a pescar atum nas águas da África Oriental, com 75% do total das capturas japonesas a serem provenientes de Madagáscar, Maurícias, Moçambique e Seychelles.

O documento demonstra como os locais de pesca africanos estão globalmente ligados e destaca a necessidade de “cooperação internacional para lidar com os desafios dos locais de pesca que o continente enfrenta,” William Cheung, do Instituto de Oceanos e Locais de Pesca da Universidade de British Columbia e co-autor do estudo, disse na página da internet da Universidade de Delaware.

“Demonstramos a importância de ter dados acessíveis, incluindo aqueles que são provenientes das novas tecnologias, para gerar conhecimentos que são necessários para lidar com estes desafios,” acrescentou Cheung.

Embora os sistemas AIS existam há muitos anos e sejam exigidos por lei para os navios acima de certa tonelagem, a capacidade de vigilância de muitos países e de outros observadores está a melhorar.

Em Março, a Sea Shepherd Global utilizou dados de AIS para rastrear embarcações que pescavam na zona exclusiva costeira da Serra Leoa. A tecnologia ajudou a Sea Shepherd Global a apoiar a Marinha da Serra Leoa e apreender cinco embarcações em dois dias.

Alguns dos arrastões estavam a pescar sem licença e a transmitir informação de identificação electrónica falsa. Uma delas estava a utilizar a identidade de uma outra embarcação de pesca que se encontrava a mais de 7.000 milhas de distância, no Oceano Pacífico.

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