Hesitação da Vacina Ameaça Resposta Africana à Pandemia

EQUIPA DA ADF

A Dra. Edite Serem não foi capaz de ficar sem perceber as reacções dos seus colegas depois de ela ter recebido a vacina contra a COVID-19 no hospital onde ela trabalha em Nairobi, Quénia, em Abril.

Algumas enfermeiras fizeram troça sobre os efeitos secundários. Outros colegas observavam atenciosos durante dias para ver se ela estava saudável ou não. Alguns posteriormente receberam as suas primeiras doses. Outros recusaram-se.

O que Serem viu na primeira pessoa é um fenómeno conhecido como hesitação da vacina, e não é algo novo. Na verdade, com o desenvolvimento rápido das vacinas contra COVID-19, a hesitação está a acontecer em todo o mundo.

“Existem muitas pessoas que ainda têm receios em relação à vacina,” disse Serem à Reuters. “Muitas pessoas estão à espera de que alguma coisa aconteça. Muitas pessoas ainda estão muito apreensivas quanto aos efeitos colaterais.”

Meses antes de a COVID-19 ter sido identificada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou a hesitação da vacina como uma das suas 10 principais ameaças à saúde global.

“A relutância ou a recusa de vacinar apesar da disponibilidade das vacinas ameaça reverter o progresso feito em lidar com doenças que podem ser prevenidas através de vacinas,” declarou a organização, em 2019.

Com a carência de fornecimentos de doses da vacina contra COVID-19 em todo o continente, contudo, África não se pode dar ao luxo de esperar mais.

Os 1,3 bilhões de habitantes de África representam 16% da população mundial, mas a OMS afirma que o continente recebeu menos de 2% das doses de vacinas administradas ao nível do mundo.

Alguns países estão a experimentar uma segunda ou terceira vaga da doença, mas com mais de 4,5 milhões de casos e mais de 122.000 mortes, África não foi tão atingida como outras partes do mundo.

Aqueles números e a falta de experiência pessoal com a COVID-19 fez com que alguns africanos acreditassem que a pandemia não era importante ou que era uma farsa — uma das muitas novas teorias de conspiração. Muitos cidadãos não confiam nos seus governos e nos políticos que os apelam para que sejam vacinados.

“Se for para derrotamos esta pandemia, que é o que devemos fazer para a nossa própria sobrevivência e a sobrevivência das nossas economias, temos de fazer isso de forma rápida e em grande escala,” disse o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.

Por causa da carência de doses, as autoridades de saúde africanas agora dizem que a sua meta é de vacinar pelo menos 30% da população até ao final do ano, alcançando 60% em 2022.

Mas a hesitação já afectou muitas campanhas de imunização.

O Quénia começou com 400.000 membros do quadro de pessoal de saúde da linha da frente e outros trabalhadores essenciais, no início de Março, depois da entrega de mais de um milhão de doses da COVAX, a iniciativa global de partilha da vacina.

Próximo do final de Abril, os dados do Ministério de Saúde demonstraram que apenas 152.700 profissionais de saúde tinham sido vacinados.

A Nigéria recebeu o seu primeiro envio de 3,92 milhões de doses no dia 2 de Março. Até ao dia 23 de Abril, o Ministério de Saúde comunicou que apenas 1,15 milhões de doses tinham sido administradas.

A este ritmo, pode levar meses a utilizar as doses e aproximadamente uma década para vacinar a população adulta do país.

Chika Offor, fundadora do grupo de advocacia da Rede da Vacina para o Controlo da Doença, na capital da Nigéria, Abuja, disse que os receios dos nigerianos aumentaram quando alguns governos europeus paralisaram o uso da mesma vacina.

“Infelizmente, imediatamente após eles terem começado a distribuir as vacinas, esta história toda de coágulo do sangue e todo o tipo de coisas surgiram,” disse à Reuters. “Isso provocou muitos problemas na Nigéria.”

Nkengasong rapidamente contestou esses receios, citando dados que demonstram que as reacções de coágulos do sangue são extremamente raras.

“Permitam-me dizer isto com muita clareza — os benefícios são maiores que os riscos,” disse num comunicado. “Não se vai à guerra com aquilo que se precisa, vai-se à guerra com aquilo que se tem.”

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