EQUIPA DA ADF
Um ano após a COVID-19 ter causado uma pandemia global que infectou 115 pessoas e matou mais de 2,5 milhões, um relatório demonstra que um país africano foi um modelo de como responder e comunicar com os seus cidadãos.
O Gana foi apontado como um dos dois países dentre 27 estudados que demonstraram empatia e clareza nas comunicações necessárias durante a emergência de saúde, escreveu Darren Lilleker, professor de comunicação política na Universidade de Bournemouth, num artigo para o The Conversation.
O outro país que foi elogiado pela sua abordagem foi a Coreia do Sul.
“A transparência desta abordagem teve o seu eco no estilo de comunicação do presidente ganense, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo,” escreveu Lilleker. “Akufo-Addo tomou responsabilidade pela política do coronavírus e explicou com cuidado cada medida necessária, sendo honesto quanto aos desafios que o país enfrentava. Demonstrações simples de empatia fizeram com que ele ganhasse aclamação no seu país e também pelo mundo afora.”
O estudo de 27 países foi publicado em Março, no livro Comunicação Política e COVID-19: Governação e Retórica em Tempos de Crise. No livro, os especialistas analisaram as respostas dos seus respectivos países, estilos de comunicação e acções da sociedade civil. Estas métricas foram comparadas ao número de casos e de mortes em cada país. O trabalho resultante concluiu que as respostas estavam fortemente ligadas a “padrões existentes de liderança,” escreveu Lilleker.
Resumindo, os países que levaram o vírus a sério, comunicaram com clareza e com frequência e agiram com transparência em relação às medidas e aos desafios tiveram os melhores resultados, especialmente nos primeiros meses da pandemia.
O Gana e o seu presidente muito cedo foram elogiados por uma lista abrangente de medidas tomadas numa altura em que o vírus mortal ganhava espaço no continente.
Até 27 de Março de 2020, o presidente Akufo-Addo estava a dirigir-se à nação através da televisão pela quarta vez, apresentando com cuidado as mais recentes restrições do governo e implorando pessoalmente os seus cidadãos a cumpri-las. Ele tinha-se dirigido à nação 13 vezes até finais de Julho de 2020, de acordo com o Brookings Institution.
As restrições impostas naquela altura afectaram sobremaneira as grandes zonas metropolitanas de Acra e de Kumasi e exigiram um confinamento obrigatório total de duas semanas, com excepções limitadas.
“Este certamente não é o tempo para politiquices ou para uma demonstração de cores partidárias,” disse o presidente na sua comunicação. “O vírus não se importa com o partido a que você pertence, nem sequer, conforme já vimos, respeita as pessoas. O inimigo é o vírus, e não o seu próximo.”
O país de mais de 32 milhões de habitantes iniciou um programa de rastreamento de contactos logo que os primeiros dois casos de COVID-19 foram detectados no dia 12 de Março de 2020. Ao longo dos quatro meses seguintes, o governo emitiu nada mais, nada menos do que 21 directivas que visavam estabelecer medidas de saúde pública, socioeconómicas e respostas dos sistemas de saúde, de acordo com o gráfico do Brookings Institution.
As medidas de saúde pública incluíam restrições de viagens e limitações de aglomerados sociais. As medidas socioeconómicas incluíam a criação do Fundo Nacional da COVID-19, incentivos fiscais e alívio de pensões. Entre as acções dos sistemas de saúde estava a expansão da testagem do vírus em Abril de 2020, que incluíram o uso de drones para o transporte de amostras. Gana foi o primeiro país a utilizar esta tecnologia para o transporte de amostras em longas distâncias.
A abordagem do Gana, embora não seja perfeita, atraiu atenção positiva além das suas fronteiras. Em vez de instituir confinamentos obrigatórios totais a nível nacional, o governo usou uma abordagem de “3-T’s” triagem, testagem e tratamento — que ganhou atenção a nível global, de acordo com um artigo escrito pelos académicos Hagan Sibiri, David Prah e Sanusi Mumuni Zankawah, na página da internet do Centro Nacional de Informação de Biotecnologia (NCBI).
O artigo de 4 de Novembro de 2020, da NCBI, resumiu a abordagem do Gana para a COVID-19 em cinco pontos:
- Limitar e impedir a entrada de novos casos no país.
- Iniciar medidas para impedir a propagação comunitária do vírus.
- Isolar e tratar rapidamente os infectados para estancar a propagação nas comunidades.
- Expandir as capacidades domésticas, especialmente no que diz respeito à produção de equipamento de protecção individual através do uso de créditos financeiros e medidas de incentivo.
- Limitar os efeitos da COVID-19 sobre o bem-estar social e económico através da subsidiarização de facturas de serviços, prorrogação dos prazos de pagamento de impostos e redução das taxas de juros bancários.
Estas medidas lograram sucessos em pouco tempo e acolheram a atenção de observadores a nível global. A Organização Mundial de Saúde ainda estudou a estratégia de testes agrupados do Gana para amostras de COVID-19. Esta técnica permite que amostras de várias pessoas sejam combinadas e testadas de uma só vez, o que acelera o processo.
A decisão do Gana a favor de rastreamento de contactos e vigilância vigorosos, em vez de confinamentos obrigatórios abrangentes, manteve baixa a sua taxa de casos e de mortalidade até finais de Julho de 2020 quando era de 0,5%, de acordo com o NCBI. Na altura, a taxa tinha sido classificada em 11º lugar no mundo e terceiro melhor em África depois da Namíbia e do Ruanda, com 0,3% cada.
Até 23 de Março, o Gana tinha registado 89.893 casos de COVID-19 e 734 mortes de uma população de cerca de 30 milhões. Tinha realizado 975.812 testes, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
Contudo, Akufo-Addo sempre manteve um tom de empatia quando se dirigia aos seus concidadãos. Quando anunciava restrições económicas e sociais em Março de 2020, ele proclamou, “Garanto que sabemos o que fazer para trazer de volta a nossa economia à vida. O que não sabemos fazer é trazer as pessoas de volta à vida.”