Variantes do Vírus Complicam a Implementação da Vacina em África
EQUIPA DA ADF
Enquanto as vacinas da COVID-19 são implementadas em África e pelo mundo, especialistas em matérias de saúde continuam a fazer o jogo de gato e rato com as novas variantes do vírus.
“Estamos a experimentar a ciência em tempo real,” Dr. Kerring Begg, especialista em medicina pública, na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, disse à BBC.
Enquanto os vírus se vão replicando, eles cometem erros — falhas genéticas. A maior parte destes erros não possui efeitos, mas outra parte cria variantes que ajudam o vírus a sobreviver e a propagar-se. Quanto mais contagioso, maior a possibilidade de variantes viáveis.
África tem várias variantes problemáticas em circulação. A que mais se propagou é a variante que surgiu no Reino Unido (N501Y.V1) e foi inicialmente encontrada na África Ocidental e no Marrocos. Outra variante, a sul-africana (N501Y.V2), é responsável por 90% das novas infecções na África do Sul e foi encontrada em toda a África Austral e em Gana. Outras variantes, menos contagiosas, apareceram na Nigéria e no Quénia.
As variantes do Reino Unido e da África do Sul não são mais mortais do que o vírus original, mas propagam-se de forma mais fácil, tendo causado o aumento das taxas de infecção, hospitalizações e mortes recentemente.
“Muitas pessoas do continente conhecem alguém que tenha morrido vítima de COVID nesta segunda vaga em comparação com a primeira vaga,” Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), disse recentemente durante uma conferência de imprensa.
De onde vêm estas variantes?
Enquanto os cientistas procuram rastrear as variantes da COVID-19, estas demonstram ao mundo o poder da evolução em tempo real. Este vírus que se replica rapidamente está numa guerra de sobrevivência contra o sistema imunitário humano.
Cada nova infecção oferece uma oportunidade para que o vírus escape através das barreiras criadas pelas vacinas e pela imunidade natural.
“Agora estamos a receber relatos de pessoas que estão a ser infectadas com uma nova variante do vírus,” Dr. Soumya Swaminathan, cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse em conferência de imprensa.
Novos estudos descobriram uma possível fonte de variantes: pessoas com sistemas imunitários comprometidos.
As pessoas saudáveis podem passar dias ou semanas a lutar contra o vírus no seu organismo, mas as pessoas com fraca imunidade – como as que vivem com o HIV ou as que estejam a tomar medicamentos imunossupressores – passam meses a combatê-lo. Isso oferece ao vírus muitas oportunidades de aprimorar o seu código genético contra o sistema imunológico humano.
As pesquisas iniciais da variante sul-africana demonstram que as suas mutações ajudam o vírus a movimentar-se no seio da população.
Continuar a usar a vacina
A facilidade com a qual as novas variantes se propagam já está a deixar os hospitais abarrotados em toda a África e a esgotar os fornecimentos de oxigénio, disse Nkengasong.
Apesar disso, as novas variantes ainda não se tornaram na forma dominante do vírus em nenhum dos países. Por isso, o África CDC e a os escritórios regionais da OMS para África afirmam que os países devem continuar a utilizar as vacinas existentes para proteger os seus cidadãos.
“A nossa estratégia não é de deitar fora 100 milhões de doses de vacinas,” disse Nkengasong. “Esta é uma boa vacina sem a variante. E a variante apenas é um problema se estiver a ocorrer em grande escala num país.”
Reduzir a propagação
Embora a vacina contra todas as formas de COVID-19 pudesse ser maravilhosa, a prioridade precisa de ser colocada na prevenção de casos graves e hospitalizações, Dra. Matshidiso Moeti, directora dos escritórios regionais da OMS, na República do Congo, disse recentemente.
Até então, tudo indica que a vacinação está a fazer exactamente isso.
“Com a maioria dos ensaios clínicos, existe uma clara protecção contra doenças graves,” disse Swaminathan. “Não está bem claro se isso irá proteger completamente contra as infecções.”
Existe também a possibilidade de que os que recebem a vacina possam ainda transportar o vírus no seu sistema e propagá-lo sem que fiquem doentes, afirmou.
Para evitar essa possibilidade — e para reduzir as possibilidades de criar mais outras variantes do vírus — as autoridades sanitárias dizem que todos precisam de continuar a usar máscaras, lavar as mãos e manter o distanciamento social.
“Estas medidas funcionam,” disse Maria Von Kerkhove, técnica-chefe da OMS em matérias de COVID-19. “Elas irão manter seguros a si e aos seus familiares.”
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