EQUIPA DA ADF
Sentindo a pressão de ter de fazer dinheiro, Dayo Sadiq decidiu migrar da sua terra natal em Benin City, Nigéria, para o Mali. Ela tinha recebido a promessa de um emprego em que ganharia 360 dólares por mês, limpando casas.
Como muitas mulheres nigerianas do Estado de Edo, Dayo (que utilizou um pseudónimo) foi enganada por uma oferta de emprego falsa de uma pessoa que conheceu no mercado.
Quando ela chegou nos arredores da capital maliana, Bamako, foi levada para uma casa de trabalhadoras do sexo guarnecida por homens armados.
“Homens vinham para escolher raparigas como parceiras sexuais ou vinham para levar-te para o trabalho pesado,” contou ela para o site da internet da Organização Internacional para as Migrações (OIM), das Nações Unidas. “Se recusasses, eles batiam em ti com paus pesados.
“Tratavam-nos como animais. Era como o inferno.”
O tráfico de seres humanos na Nigéria possui muitas facetas.
Mulheres e raparigas são levadas à força ou por meio de fraude e são vendidas para a escravidão sexual e doméstica. Os rapazes são levados para o trabalho forçado ou servidão. As crianças nascem na escravidão em fábricas de bebés. Órgãos de pessoas são retirados.
Alguns nigerianos seguem promessas de oportunidades económicas ou de estudo antes de compreenderem que foram vítimas de burla.
Podem acabar em outras partes de África ou do outro lado do mundo, muitas vezes, depois de viagens perigosas.
Fatima Waziri-Azi, directora-geral da Agência Nacional da Nigéria para a Proibição do Tráfico de Seres Humanos (NAPTIP), afirma que o tráfico de seres humanos passou a ser uma epidemia naquele país, com pessoas a serem enviadas contra a sua vontade para outras partes da Nigéria e do mundo.
“O tráfico interno acontece diante dos nossos olhos,” disse Waziri-Azi numa reunião do dia 23 de Junho, com os parceiros da NAPTIP, em Benin City. “A servidão doméstica é uma crise na Nigéria; o trabalho forcado também.
“O tráfico de seres humanos é, por conseguinte, uma crise nacional. Todos os Estados estão afectados.”
Ela disse que o tráfico de seres humanos constitui um empreendimento global criminoso avaliado em 150 bilhões de dólares e é o segundo maior crime organizado transnacional depois do tráfico de drogas.
A pobreza é o principal factor que faz com que as mulheres e as raparigas estejam susceptíveis a tráfico para fins sexuais. Outras condições que criam vulnerabilidade incluem estar na condição de deslocado, desemprego, desabrigado, isolamento e práticas culturais e religiosas.
“Na NAPTIP, realizamos o nosso trabalho numa abordagem multifacetada de cinco partes, utilizando a prevenção, protecção, processar judicialmente, políticas e parcerias,” Waziri-Azi disse à imprensa no dia 12 de Maio.
Benin City, no Estado costeiro de Edo, tornou-se o epicentro do tráfico de seres humanos na Nigéria.
Nduka Nwanwenne, que lidera a zona do Benin, é um dos nove comandantes da NAPTIP. Ele disse, em Maio, que os esforços da agência tinham levado a mais de 500 condenações de tráfico desde a sua criação pelo governo federal, em 2004.
Nesse período, houve aproximadamente 9.900 casos registados, com mais de 8.000 suspeitos traficantes a serem presos.
Até Maio de 2022, a agência salvou, abrigou e reabilitou 17.753 vítimas de tráfico — 13.026 mulheres, 4.727 homens — 8.935 dos quais eram crianças.
Parte da missão de Waziri-Azi é educar o público para ser vigilante, uma vez que a escravidão moderna se encontra em cada canto da sociedade nigeriana e expandiu-se rapidamente para a internet e para as redes sociais.
“Já se foram os dias em que pensávamos que o tráfico de seres humanos está fora da internet. Agora está online,” disse. “Por isso, temos um aumento de publicidades de empregos falsos e bolsas falsas. Estas são as tendências modernas que os traficantes de seres humanos utilizam para atrair as suas vítimas.”
A história de Dayo não é a única.
“No Mali, não menos do que 20.000 mulheres e raparigas nigerianas encontram-se aprisionadas, vivendo em barracas na região mineira onde são exploradas sexualmente,” disse Waziri-Azi.
Dayo conseguiu escapar do Mali com a ajuda do OIM.
Em Janeiro de 2022, ela regressou para a sua família em Benin City como uma pessoa muito menos confiante.
“Agora, não acredito que alguém possa vir ter comigo e me convencer a ir para Itália e ganhar 200.000 nairas [cerca de 480 dólares] por mês,” disse ela. “Conheço o segredo — não existe emprego. São mentiras.”