EQUIPA DA ADF
Quando o lendário viajante marroquino Ibn Battuta entrou no que é hoje a Somália, entre 1330 e 1332, ele tomou nota do extraordinário tecido que encontrou no Corno de África.
Naqueles dias, a Somália era um dos principais intervenientes no comércio, em grande parte, devido à sua posição fortuita no Oceano Índico. O seu porto ficava a distâncias iguais de Bagdade, Cairo e Índia. Era comum haver campos de algodão na planície de Jubalândia, na Somália, permitindo que os somalis produzissem mais de 350.000 tecidos por ano, segundo Somalispot.com.
As técnicas tradicionais de tecelagem e as cores vibrantes que dão vida aos tecidos persistiram durante séculos. O tecido, conhecido como alindi, é um pilar da moda feminina, vestuário de casamento e muito mais.
Apesar da qualidade e do esforço meticuloso necessário para produzir os tecidos multicolores, a indústria alindi passou por tempos difíceis na Somália. Isso deve-se principalmente ao afluxo de vestuário mais barato e usado da China e de outros países. O vestuário de segunda mão é uma indústria de 250 milhões de dólares que emprega mais de 350.000 pessoas na África Oriental, de acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Isso pode ser bom para aqueles que encontram trabalho na indústria, mas mau para aqueles que praticam artes tradicionais de tecelagem.
“Decidimos começar com este trabalho porque estávamos desempregados”, disse Mohamed Nor à agência de notícias turca TRT World, em Outubro de 2019. “Não tenho outra profissão como construção civil ou carpintaria. Eu só sei tecer. Mas agora há menos trabalho porque roupas mais baratas inundaram os mercados.”
Apesar das dificuldades, alguns tecelões continuam a praticar a arte.
“Estas roupas são muito melhores do que as roupas importadas, porque a qualidade é melhor uma vez que foram tecidas à mão”, disse Haji Abukar, um proprietário de loja de tecidos somali. “O mercado não está bom hoje em dia, mas vou continuar a comercializar roupas tradicionais e também dizer às pessoas que elas não são caras.”
A tradição alindi mostra que, apesar de ter passado por décadas de dificuldades, guerra e conflito extremista, elementos da cultura colorida da Somália continuam vivos.