EQUIPA DA ADF
Em mais de 15 anos de luta contra o al-Shabaab, os líderes somalis descobriram que não podem derrotar o grupo terrorista apenas com meios militares.
Pouco depois da sua eleição como presidente em 2022, Hassan Sheikh Mohamud revelou o seu plano de “guerra total” contra os terroristas: uma ofensiva militar coordenada com a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), um ataque simultâneo à vasta rede financeira do al-Shabaab e um plano para combater a ideologia extremista do grupo.
“As políticas anteriores eram políticas militaristas… de atacar e destruir,” disse Mohamud num discurso transmitido a nível nacional em Julho de 2022. “Mas o problema do al-Shabaab é mais do que militar.”
Reconheceu que “há fortes argumentos” para negociar com a insurgência, que provou ser extremamente resistente e bem financiada, tendo controlado grandes extensões de território no centro e sul da Somália.
“Mas neste momento não estamos em posição de negociar com o al-Shabaab,” disse o presidente. “Iremos, na altura certa. Negociaremos com eles.”
Para atingir esses objectivos não cinéticos, o governo da Somália criou o Centro Nacional de Tubsan para a Prevenção e Combate ao Extremismo Violento em Junho de 2023 “a fim de assegurar a implementação equilibrada da estratégia nacional de combate ao extremismo violento e ao terrorismo.”
A missão do centro é a coordenação entre os governos federal e estadual, várias agências de segurança, organizações da sociedade civil e outros parceiros.
Cerca de 30 funcionários do centro trabalham com líderes religiosos, grupos de jovens, grupos de mulheres, anciãos tradicionais e o sector privado. O seu objectivo estratégico de comunicação é combater a desinformação e a propaganda extremistas em todas as plataformas mediáticas e através de fóruns comunitários.
O centro enfrenta muitos desafios nas suas primeiras fases de desenvolvimento, incluindo ameaças contra o seu pessoal por parte do al-Shabaab. Mas o investigador Isel Ras disse que a maior tarefa de Tubsan é abordar as questões de fundo que sustentam o terrorismo.
“As estratégias que vão para além das medidas de segurança … devem centrar-se na reabilitação, reintegração e prevenção do extremismo violento,” escreveu numa análise de 25 de Março para o Instituto de Estudos de Segurança, um grupo de reflexão com sede na África do Sul. “A Somália tem de lidar com os desafios do recrutamento e da radicalização pelo al-Shabaab e com a perspectiva de que alguns combatentes possam desertar.”
O vice-director de Tubsan, Ibrahim Nadara, tem experiência pessoal, tendo desertado do grupo como comandante de alto nível em 2016. Anteriormente, aconselhou o Primeiro-Ministro Hamza Abdi Barre sobre as campanhas de sensibilização contra o al-Shabaab.
O director Abdullahi Mohamed Nur chamou ao centro um símbolo de esperança e resiliência que procura unir as pessoas na rejeição de ideologias extremistas violentas.
Adoptamos uma abordagem de “todo o governo” e de “toda a sociedade,” tornando as nossas estratégias inclusivas e eficazes,” escreveu na página da internet do Tubsan. “Lideramos e coordenamos esforços entre diferentes agências e níveis governamentais, concentrando-nos numa abordagem de operações suaves que privilegia o diálogo e a compreensão em vez da força. O nosso objectivo vai além da luta contra as ameaças actuais e da prevenção de novas ameaças.”
O Exército Nacional da Somália e os seus parceiros tiveram uma série de sucessos e reveses nos recentes combates contra o al-Shabaab. A última ofensiva do exército centra-se nos Estados de Galmudug e Hirshabelle, onde os militantes ainda controlam valiosas terras agrícolas e mantêm os civis sob o seu domínio brutal.
Em mais de 207 incidentes violentos, os insurgentes mataram 432 somalis entre 20 de Abril e 24 de Maio, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, uma organização de observação de conflitos.
O panorama da segurança na Somália está a sofrer alterações significativas, numa altura em que a ATMIS está a entrar na terceira fase da sua retirada planeada. Na primeira fase, a missão retirou 5.000 soldados e entregou 17 bases operacionais avançadas ao Exército.
A segunda fase exigia que a missão retirasse mais 4.000 soldados até ao final de Junho. Prevê-se que conclua a sua retirada até ao final de 2024.
Ras afirmou que o Centro Tubsan pode desempenhar um papel fundamental para ajudar a desenvolver a abordagem antiterrorista da Somália.
“A vontade política deve manter-se firme na abordagem dos factores e das narrativas do extremismo, indo além das áreas urbanas e abrangendo todo o país,” escreveu. “Para aliviar verdadeiramente as causas do extremismo violento, o mandato do Tubsan terá de ser alargado de modo a combater o subdesenvolvimento, a marginalização socioeconómica e as violações de direitos humanos por parte das forças de segurança.”