EQUIPA DA ADF
Desde que a África do Sul detectou, pela primeira vez, a variante Ómicron, os olhos do mundo estiveram atentos para aquele país para ver qual será o próximo desenvolvimento na pandemia global.
Dados provenientes daquele país são de extrema importância para o estudo internacional dos sintomas, da letalidade, das taxas de positividade e de internamentos da Ómicron.
Comunicada pela primeira vez à Organização Mundial de Saúde (OMS), a 24 de Novembro, a Ómicron possui um número significativo de mutações — pelo menos 32 somente para a proteína spike. A maior parte de pesquisas centram-se na avaliação da transmissibilidade e da virulência da variante.
“A variante Ómicron está a propagar-se a uma taxa que ainda não vimos com nenhuma das variantes anteriores,” Director-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na sua conferência de imprensa do dia 14 de Dezembro. “Estamos preocupados que as pessoas estão a considerar a Ómicron como sendo ligeira.
“De certeza que, por esta altura, já compreendemos que subestimamos este vírus para o nosso próprio prejuízo. Mesmo que a variante Ómicron cause uma doença menos grave, o maior número de casos pode, mais uma vez, superlotar os sistemas de saúde não preparados.”
Foi exactamente isso o que aconteceu na África do Sul.
A descoberta da variante Ómicron causou preocupação imediata, porque correspondeu a um aumento significativo de casos na província de Gauteng, que possui uma grande densidade populacional.
Dr. Richard Lessells, um médico especializado em doenças contagiosas, da Universidade de Kwa-Zulu Natal, em Durban, disse ao Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais sobre os primeiros alarmes que se seguiram à comunicação do laboratório de diagnóstico e sequenciamento genético da África do Sul.
“Temos estado a rastrear este vírus desde o começo e já encontramos variantes antes,” disse num podcast. “As sequências apareceram e claramente que tinham um aspecto muito anormal.”
“Eram muito diferentes daquilo que tínhamos estado a ver com a variante Delta. Era um número extraordinário de mutações, muito mais do que esperávamos a este estágio da pandemia.”
A nível nacional, os casos de COVID-19 atingiram o pico em meados de Dezembro, incluindo um novo recorde diário de 37.875 casos registados no dia 12 de Dezembro.
Mas o aumento acentuado no número de casos foi seguido de um decréscimo acentuado.
Dados de início de Dezembro, em Gauteng, mostraram que 8% de doentes de COVID internados foram tratados nas unidades de cuidados intensivos, uma redução quando comparado a 23% durante a vaga da Delta. Apenas 2% precisaram de ventiladores, uma redução quando comparado a 11%.
Assim como muitos especialistas, contudo, Lessells alerta para que não se corra para tirar conclusões de que a Ómicron possui características de sintomas menos graves. Isso pode ser mais um resultado da anterior imunidade à COVID-19 do que a possibilidade de que o vírus esteja a evoluir para tornar-se menos virulento, disse.
Estudos de sangue, feitos no início do mês de Dezembro, demonstraram que mais de 70% dos sul-africanos estiveram expostos e tinham alguma imunidade à COVID-19. Até ao dia 23 de Dezembro, esse número subiu para 80%.
“Não há dúvidas de que é altamente transmissível,” disse Lessells. “Está a propagar-se de forma muito eficiente numa população que temos provas de que possui altos níveis de imunidade contra as versões anteriores deste vírus.”
Mas a pergunta central permanece — até que ponto a Ómicron é perigosa?
Estudos contínuos de laboratório e de campo e análise de dados de vigilância irão precisar de tempo e de colaboração internacional. Os especialistas estão centrados em saber se a Ómicron afecta as células T, que são essenciais para a protecção imunológica do corpo contra doenças graves.
“É realmente muito cedo para sabermos,” disse Lessells. “Tenho esperança e sou optimista que, como temos mais ferramentas disponíveis do que tínhamos no ano passado, estamos em melhores condições para lidar com estas variantes.”