EQUIPA DA ADF
Depois do rapto de 276 alunas no Estado de Borno, da Nigéria, em 2014, o então líder do Boko Haram foi para as redes sociais para celebrar o acto e publicar um vídeo granulado dos reféns.
Desde essa altura, o Boko Haram e outros grupos terroristas de toda a África Ocidental expandiram o seu uso de canais das redes sociais, incluindo o Twitter, Facebook, YouTube, juntamente com Telegram e WhatsApp para divulgar propagandas, recrutar novos membros, incitar ataques e planificar.
De acordo com Bulama Bukarti, um membro sénior do Instituto Tony Blair para Mudança Global, as redes sociais ajudam a fornecer ao Boko Haram e grupos semelhantes uma satisfação do seu desejo de publicidade.
“As plataformas virtuais podem fornecer ferramentas de comunicação, coordenação e recrutamento aos terroristas a custos relativamente baixos,” escreveu János Besenyő num estudo publicado na revista Insights Into Regional Development.
Embora África ainda esteja atrasada em relação a algumas partes do mundo em termos de infra-estrutura de internet, ela encontra-se a recuperar rapidamente. Entre 2000 e 2022, apenas na Nigéria, o número de usuários da internet mais do que duplicou, para aproximadamente 109 milhões, cerca de metade da população. Esta é a maior comunidade online de África, de acordo com a página da internet Statistica.
Os terroristas estão a aproveitar esta onda que rapidamente se expande, desafiando as empresas de internet e os esforços governamentais que combatem as suas mensagens sem interromper o uso legítimo da internet.
Simultaneamente, as publicações das redes sociais dos terroristas tornaram-se mais sofisticadas, aprofundando as suas ligações com organizações maiores como o grupo do Estado Islâmico ou a al-Qaeda. O vídeo granulado, gravado com recurso a uma câmara da mão, das raparigas de Chibok foi substituído por vídeos editados de forma suave das decapitações, acompanhados com músicas temáticas.
Respondendo à pressão internacional, as grandes empresas das redes sociais como a Meta, que detém o Facebook e o WhatsApp, assim como o Twitter, responderam fazendo a monitoria dos sites à procura de mensagens de terroristas e eliminando-as quando as encontrassem.
Em resposta à pressão das empresas das redes sociais, os grupos terroristas procuraram disfarçar as suas publicações numa cobertura de relações públicas ou notícias. Eles também publicam material em línguas ou dialectos locais, explorando a falta de falantes nativos das empresas das redes sociais que sejam capazes de interceptar e eliminar as publicações dos terroristas de forma atempada.
Os investigadores da organização Tech Against Terrorism (TAT), patrocinada pelas Nações Unidas, compararam o processo com “whack-a-mole,” um jogo infantil casual, mas disseram que o esforço é válido a longo prazo.
“Mesmo que os grupos terroristas consigam restabelecer as suas páginas da internet, a pressão disruptiva em si é válida, uma vez que pode obrigar os grupos terroristas a reavaliarem a sua presença nas plataformas da rede da superfície,” escreveu a TAT num artigo de Julho.
A TAT criou uma lista de recomendações para ajudar as empresas da internet a acabarem com as actividades terroristas online. A lista inclui passos sobre como remover as páginas da internet que se suspeitam pertencerem a terroristas (TOW) a partir de resultados de buscas ou redireccionar as buscas para páginas que combatem mensagens extremistas. Eles também recomendam que sejam emitidos alertas para as empresas hospedeiras contra o fornecimento de espaço a suspeitas TOW ou remover as TOW por completo quando forem encontradas online.
Enquanto enfrentam mais escrutínio por parte das grandes empresas das redes sociais, os grupos terroristas também estão a alterar as suas actividades para canais menores ou locais encriptados como o Telegram, onde os operadores são menos capazes de detectá-los e removê-los.
“Se estiver em algum lugar online, mesmo numa plataforma menor, ainda assim será acessível e será capaz de ser utilizada da forma que os terroristas pretendem que seja utilizada,” investigadora sénior da TAT, Anne Craanen, disse no podcast Behind the Spine. A TAT faz a monitoria de actividades terroristas online diariamente, explicou Craanen.
O Telegram está a tornar-se a nova linha da frente para os grupos terroristas em África, disse Bukarti ao Instituto de Estudos de Segurança (ISS).
A TAT e outros grupos que estudam actividades terroristas online afirmam que os governos africanos precisam de ser mais proactivos para não simplesmente deixarem que o problema seja gerido pelas empresas das redes sociais.
“Os governos africanos devem envolver-se com o sector técnico para ampliar os seus conhecimentos sobre o contexto em que as organizações terroristas persistem,” Karen Allen, uma contribuinte do ISS, que se encontra na África do Sul, escreveu recentemente.
No entanto, nos seus esforços para combater os terroristas online, os países africanos devem seguir uma abordagem cirúrgica, de acordo com Allen.
“Eles devem criar respostas rápidas que respeitem os princípios de direitos humanos — em vez de desligamentos totais da internet, que privam os cidadãos do seu direito à liberdade de expressão,” escreveu.