EQUIPA DA ADF
As gravações publicadas na internet em 2020 afirmavam que o candidato presidencial ganês, Nana Afuko-Addo, estava a defender várias teorias de conspiração famosas sobre a pandemia da COVID-19.
Havia um problema: as gravações eram falsas.
O gabinete de Afuko-Addo rapidamente rebateu as afirmações, e outros internautas indicaram que a voz não era do presidente. Mas, em pouco tempo, uma gravação tinha sido ouvida mais de 400.000 vezes, somente na Nigéria.
Da pandemia da COVID-19 à política local, as notícias falsas poluem os fluxos de informação em toda a África Ocidental, cuja maior parte tem como alvo as redes sociais e os seus utilizadores.
“As pessoas envolvidas não desejam o bem para o país,” Ministro do Estado para os Negócios Estrangeiros, da Nigéria, Zubairu Dada, disse recentemente num encontro do Sindicato dos Jornalistas da Nigéria. “O país está a sangrar por causa de notícias falsas.”
Dada apelou os jornalistas a evitarem notícias falsas e a não propagarem tais falsidades.
Para além da desinformação produzida localmente, os países de todo o continente também devem lutar contra campanhas lançadas por países estrangeiros, como Rússia e China, para propagar desinformação nos seus territórios.
O Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS) encontrou campanhas de notícias falsas patrocinadas pela Rússia em mais de uma dezena de países, da Líbia à África do Sul. O modelo da Rússia está a ser copiado por outros actores, concluiu o ACSS.
Os governos de toda a África Ocidental enfrentam a desinformação todos os dias e continuam a lutar para encontrar melhores formas de combatê-la.
Alguns, como o Burkina Faso e o Níger, assumiram uma abordagem de mão dura e desligaram por completo a internet para acabar com a propagação da desinformação. Eles não são os únicos. Na década passada, 12 dos 15 países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) desligaram os seus serviços de internet durante dias, semanas ou meses.
O impacto desses apagões vai muito mais além do que bloquear as notícias falsas. A NetBlocks, uma organização não-governamental analista da internet, estima que a Nigéria perdeu 1,3 bilhões de dólares em actividade económica durante os seis meses em que o presidente Muhammadu Buhari bloqueou o Twitter.
Os defensores da liberdade de expressão argumentam que desligar a internet ou bloquear uma página da internet é um pensamento ultrapassado dos dias em que os jornais e os canais de radiodifusão dominavam o panorama de informação. Eles apelam os países a procurarem outras abordagens para combater a desinformação.
“Os apagões prejudicam a todos e na verdade não resolvem o problema,” David Akoji, conselheiro especial do Director-Geral da Agência Nacional de Orientação da Nigéria, disse à African Arguments, uma plataforma de notícias de África.
Uma solução, de acordo com Akoji, é que os países devem colocar mais pressão sobre as empresas das redes sociais para trabalharem com agências governamentais e responderem rapidamente para combater as notícias falsas à medida que forem aparecendo na internet.
Os críticos dizem que as empresas das redes sociais são lentas no que diz respeito a responder a reclamações relacionadas com notícias falsas nos países africanos. Elas também possuem uma capacidade limitada de moderar os canais em línguas locais.
“As plataformas precisam de empregar mais recursos para África,” Rosemary Ajayi, fundadora da Digital Africa Research Lab, disse à African Arguments. As empresas devem contratar falantes de línguas locais e punir as pessoas que propagam notícias falsas, acrescentou.
Alternativamente, elas podem aumentar o número de informação correcta online para combater as mentiras, disse Akoji. Um aumento de verificação de factos pelos jornalistas pode encorajar as pessoas a olharem de uma forma mais crítica para as notícias que recebem, acrescentou.
Desde 2012, o site da internet, Africa Check, tem procurado fazer exactamente isso. Fundado pela jornalista sul-africana, Anim van Wyck, o site desafia as afirmações que têm um potencial para enganar as pessoas.
Van Wyck disse ao Instituto Reuters que o seu grupo desafia os líderes e outros a fornecerem provas das suas afirmações e trabalharem rapidamente para combater rumores em regiões onde podem alimentar a violência.
“Penso que isso cria a confiança junto da imprensa,” disse van Wyck.