EQUIPA DA ADF
Depois de repetidas vagas de COVID-19 que duraram vários meses, os especialistas em matéria de saúde pública acreditam que o futuro da doença provavelmente possa ser uma série de curtas vagas que atingem o pico rapidamente e produzem menos mortes.
“Isso é o que provavelmente vai acontecer e está a acontecer,” virologista sul-africano, Dr. Alex Sigal, do Instituto Africano de Pesquisa em Saúde, disse à ADF.
Este novo panorama é mais óbvio na África do Sul, que está a experimentar um aumento acentuado em novos casos de infecção pela COVID-19, impulsionado pelas sublinhagens BA.4 e BA.5 da variante Ómicron. As duas sublinhagens representam cerca de 75% das novas infecções naquele país.
Pesquisas dos laboratórios sul-africanos demonstram que ambas sublinhagens estão a propagar-se rapidamente em taxas semelhantes à estirpe original da Ómicron detectada primeiramente na África Austral, em finais de 2021, e à estirpe BA.2 que se seguiu em Março.
A Ómicron demostrou ser mais contagiosa, mas menos mortal do que as suas predecessoras, em parte, graças à imunidade generalizada criada pela estirpe BA.2, que causou o surgimento das estirpes BA.4 e BA.5.
“Estamos a ver números absurdos de infecções. Somente no meu laboratório, tenho seis pessoas doentes,” Penny Moore, um virologista da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, disse à revista Nature.
Diferentemente das variantes Delta ou Beta, que levaram vários meses para atingir o pico, a variante Ómicron original atingiu o pico em questões de semanas e teve um declínio acentuado, também provável produto da imunidade generalizada, disse Sigal.
Estudos feitos pela seguradora Discovery Health e outros grupos sugerem que mais de 80% dos sul-africanos estiveram expostos a alguma variante da COVID-19, concedendo-lhes um grau de imunidade natural. As mutações na BA.4 e BA.5 permitem-lhes vencer a imunidade em alguns casos, mas os factores da imunidade também tendem a manter as infecções ligeiras, disse Sigal.
“Uma vez que a última vaga foi massiva e estas são sublinhagens, este tipo de protecção era previsível,” acrescentou Sigal.
Apesar de possuir taxas de positividade de 20% ou superiores, a África do Sul registou menos pessoas internadas em hospitais do que nas vagas anteriores, disse o Dr. Túlio de Oliveira, director do Centro de Resposta Epidémica e Inovação da África do Sul.
“Acreditamos que a elevada imunidade da população da África do Sul tenha ajudado a reduzir os efeitos da 4ª vaga da Ómicron BA.1 e a actual 5ª vaga da Ómicron BA4/5,” de Oliveira recentemente publicou no Twitter. “Contudo, a vaga BA4/5 de internamentos ainda está no início.”
Os internamentos estão a aumentar lentamente, mas continuam muito inferiores do que nas variantes anteriores.
“Os hospitais estão vazios na África do Sul e temos uma elevada imunidade da população,” disse de Oliveira à revista Nature.
Os primeiros dois anos da pandemia foram caóticos, em parte, porque as variantes apareceram sem aviso, acrescentou. As mutações que estão por detrás da BA.4 e BA.5 sugerem que a COVID-19 pode estar a alcançar um ponto em que fica mais previsível, disse de Oliveira à revista Nature.
“Estes são os primeiros sinais de que o vírus está a evoluir de forma diferente,” disse.