EQUIPA DA ADF
A variante Ómicron que assolou a África em Dezembro parece ter reduzido quase que de forma mais rápida quanto à forma como apareceu na África do Sul, mas as autoridades de saúde pública alertam que outros países podem não ter a mesma experiência.
“Trata-se de dados que provém apenas de um único país,” Dr. John Nkengasong, Director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse durante uma recente conferência de imprensa. “Não sabemos, com o aumento da propagação da Ómicron pelo continente, como a situação se vai apresentar. Por isso, temos de interpretar isso de forma cautelosa.”
Desde que a Ómicron foi primeiramente descoberta no Botswana, em finais de Novembro, 22 países africanos comunicaram ter registado esta variante. Embora a vaga da Ómicron tenha começado na África Austral, agora ela propagou-se para outras partes do continente. Burquina Faso, Quénia e Marrocos encontram-se entre os países que recentemente a registaram.
“A Ómicron está a propagar-se de forma muito rápida,” disse Nkengasong.
Com uma taxa de incubação de dois a três dias, a Ómicron propaga-se muito mais rápido do que a variante Delta, mas causa infecções mais ligeiras. O Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul comunicou que as pessoas infectadas com a Ómicron possuem uma possibilidade inferior de 80% de internamento. A variante Ómicron da África do Sul levou cerca de três semanas para atingir o pico, em comparação com seis semanas ou mais das vagas anteriores.
Entretanto, a variante Ómicron ajudou a fazer subir o número de novos casos de COVID-19 de África, 21% na semana que terminou no dia 22 de Dezembro. Mais de metade dos 253.000 novos casos ocorreram na África do Sul. O número de mortes subiu em 14% naquela mesma semana.
Um pequeno estudo feito por pesquisadores sul-africanos sugere que a Ómicron, que representa 90% de novas infecções naquele país, pode substituir a variante Delta como a estirpe dominante em todo o mundo. Com base neste estudo, tudo indica que a imunidade baseada na Ómicron pode proteger as pessoas de infecção pela Delta.
As 50 mutações da Ómicron ajudam-na a contornar as defesas do corpo. As pessoas com imunidade apresentam sintomas mais ligeiros em comparação com aquelas que não têm imunidade. Contudo, aqueles que desenvolveram a imunidade natural à COVID-19 no início da pandemia, parecem ter menos protecção contra a Ómicron, de acordo com uma pesquisa realizada na África do Sul.
Mais de 70% da população sul-africana possui alguma imunidade à COVID-19, que é uma das razões pelas quais Nkengasong e outros especialistas afirmam que a sua experiência com a Ómicron pode ser diferente de outros países, onde os níveis de exposição não são tão elevados.
“A saúde pública é local,” disse Nkengasong.
Mesmo numa altura em que o número de casos de Ómicron regista um declínio na província sul-africana de Gauteng, estes números estão a subir em outras partes do país à medida que as pessoas viajam. As taxas de positividade são superiores a 30%, Dra. Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul, disse à CNN.
Coetzee comunicou que mais de 500 pessoas estão em unidades de cuidados intensivos em toda a África do Sul, cerca de metade delas estão nos ventiladores. Mas acrescentou que estes não eram exclusivamente casos de Ómicron.
O Marrocos, que tomou medidas agressivas para prevenir a propagação da COVID-19, comunicou apenas 28 casos da Ómicron entre os dias 15 e 22 de Dezembro. Cerca de 20% destes eram crianças com menos de 14 anos de idade. O Ministério da Saúde está a rever outros 46 casos suspeitos de Ómicron.
Durante o mês de Dezembro, os novos casos de COVID-19 de Marrocos quase que duplicaram para 381, fazendo com que o governo apelasse aos cidadãos para praticarem as medidas preventivas como o uso de máscaras, a lavagem das mãos e o distanciamento social.
Assim como na África do Sul, as taxas de positividade das testagens da COVID-19 do Quénia estavam acima de 30% em Dezembro — um número que foi o mais elevado de todos os tempos naquele país. Antes do surto da Ómicron, 6,5% dos testes da COVID-19 do Quénia davam positivo.
Githinji Gitahi, director do Amref Health Africa International, disse à Voz da América que muitas pessoas com infecções da Ómicron estão a ser tratadas como pacientes ambulatórios.
“Nós estamos a ver muitos internamentos, solicitação de oxigénio, UCI-HDU [Unidades de Cuidados Intensivos] como se deveria esperar,” disse Gitahi. As razões variam desde a imunidade natural aos impactos gerais ligeiros da estirpe Ómicron, acrescentou.