EQUIPA DA ADF
Durante vários anos, o Uganda ofereceu-se para ajudar o seu vizinho, a República Democrática do Congo (RDC), a lutar contra um grupo sanguinário de militantes islamitas sediados na região instável do nordeste.
O grupo, conhecido como Forças Democráticas Aliadas, aterrorizou as províncias do Kivu do Norte e de Ituri durante décadas, mas recentemente virou as suas atenções para Uganda, com uma série de bombardeamentos.
No Uganda, o ataque mais audacioso ocorreu quando três bombistas suicidas provocaram grandes explosões na baixa da cidade de Kampala, no dia 16 de Novembro, matando pelo menos quatro pessoas e ferindo dezenas.
Mas as repercussões daquele ataque podem fazer com que as Forças Democráticas Aliadas se desfaçam, visto que o ataque levou a Força de Defesa Popular de Uganda (UPDF) e as Forças Armadas da RDC (FARDC) a trabalharem juntas.
“Quando a casa do vizinho está em chamas, você deve correr para ajudar,” Ministro de Defesa do Uganda, Vincent Bamulangaki, disse ao jornal The East African. “Viemos cá, porque estamos a reunirmo-nos como irmãos com um futuro comum.”
As Forças Democráticas Aliadas foram formadas em Uganda, em 1990, e foram consideradas um grupo de facções rebeldes e senhores de guerra com pouca ideologia. Em 2007, a UPDF forçou o grupo a sair do Uganda e a entrar na RDC, onde vem matando milhares de civis desde então.
Depois de 11 anos de relativa calmaria ao longo das suas fronteiras do ocidente, o Uganda encontra-se, desde Junho de 2021, na mira das Forças Democráticas Aliadas, que contam com o apoio de terroristas ligados ao Estado Islâmico.
Dez dias depois dos bombardeamentos de Kampala, o presidente congolês, Félix Tshisekedi, alegadamente deu permissão ao presidente ugandês, Yoweri Museveni, para enviar tropas.
Com início no dia 30 de Novembro, uma onda de ataques aéreos e de artilharia contra bases rebeldes suspeitas nas florestas da região leste da RDC precederam as operações de “busca e controlo” no terreno.
O porta-voz do governo da RDC, Patrick Muyaya, disse que os líderes da UPDF e das FARDC estiveram a trocar inteligência meses antes de os bombardeamentos terem reunido as duas forças.
“Nós e o Uganda temos a obrigação de agir em conjunto,” disse numa conferência de imprensa do dia 1 de Dezembro, depois de pelo menos 1.700 soldados ugandeses e dezenas de veículos blindados terem atravessado a fronteira.
A UPDF disse que o progresso da missão seria avaliado depois de dois meses.
“A duração desta operação será determinada pelo estado final estratégico do exército… para derrotar os rebeldes e derrotar a sua vontade de lutar,” disse o Major-General ugandês, Kayanja Muhanga, num vídeo publicado no Twitter.
O terreno montanhoso e as estradas intransitáveis representaram um desafio inicial para as forças terrestres e os veículos alcançarem os acampamentos militantes localizados nas zonas recônditas. Isso obrigou o esforço conjunto, chamado Operação Shujaa (que significa herói em Swahili), a parar por uma semana, de acordo com o oficial de informação da UPDF, Major Peter Mugisa.
Mesmo assim, disse ele, a UPDF foi capaz de estabelecer uma base operacional avançada em Mukakati, no Kivu do Norte, cerca de 19 km dos esconderijos dos militantes.
“Iremos trazer niveladoras para abrir estradas, mas a força de patrulha de combate combinada já começou a avançar partir de Mukakati em direcção a esses acampamentos conhecidos,” Mugisa disse à imprensa no dia 3 de Dezembro.
No dia 7 de Dezembro, a porta-voz da UPDF, Brigadeira-General Flavia Byekwaso, reconheceu que nenhum exército governamental dos dois países tinha chegado ao acampamento dos rebeldes, tornando quase impossível confirmar a eficácia dos ataques aéreos e da artilharia.
“Ainda não documentamos nada,” disse ela à revista Africa Report.
No dia 13 de Dezembro, Byekwaso e a sua contraparte das FARDC emitiram um comunicado conjunto indicando uma mudança na estratégia.
Para além dos encontros conjuntos regulares para explicar a operação militar ao público e fornecer actualizações com transparência, eles anunciaram um programa para ganhar o apoio civil que inclui a abertura e o nivelamento de centenas de quilómetros de estrada na região leste da RDC.
“De modo a ganhar a lealdade da população e reverter a propaganda prejudicial instigada pelas [Forças Democráticas Aliadas] e seus aliados, as FARDC e a UPDF lançaram uma vasta campanha de sensibilização e estão a levar a cabo acções civil-militares, que já estão a produzir resultados,” disseram num comunicado.
Apesar de os dois exércitos terem prometido coordenar os seus ataques e as suas comunicações, o comunicado conjunto também procurou oferecer garantias de que a operação agora formalizada irá respeitar as leis internacionais e os direitos humanos, prometendo que as forças conjuntas irão ter como alvo apenas os acampamentos dos grupos terroristas.
Mais tarde, naquele dia, numa comunicação sobre o estado da nação, Tshisekedi confirmou aquelas garantias e resumiu a missão.
“Para combatê-los com maior eficácia, os nossos dois países recentemente concordaram em unir os seus esforços de modo a levar a cabo operações conjuntas contra este inimigo comum,” disse. “Irei assegurar que a presença do exército ugandês no nosso solo esteja limitado ao tempo estritamente necessário para estas operações.”