EQUIPA DA ADF
A Rússia admitiu recentemente que esteve a bloquear as investigações das Nações Unidas sobre violações de embargo de armas em quatro zonas de conflito africanas, algumas envolvendo mercenários russos.
Os diplomatas da ONU disseram, no dia 29 de Setembro, que a Rússia está a atrasar-se na nomeação de especialistas independentes para fazerem a monitoria das violações das sanções da ONU, na República Centro-Africana (RCA), República Democrática do Congo, Mali e Sudão do Sul.
“Parece que Moscovo deseja paralisar as sanções e os painéis de especialistas para desviar a atenção daquilo que o Grupo Wagner está a fazer em África,” o Director do Grupo Internacional da Crise, da ONU, Richard Gowan, disse à revista Foreign Policy. “Por isso, em alguns casos é simplesmente uma forma de cobrir alguns assuntos nefastos.”
Apesar do seu próprio conflito de interesses com as suas ligações profundas com o famoso grupo paramilitar, Grupo Wagner, que opera em África, a Rússia está a utilizar o seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, composto por 15 membros, para exigir nomeados russos.
O trabalho dos quatro painéis africanos continua em espera, assim como alguns estiveram por meses.
A indicação de especialistas para o Comité do Sudão do Sul foi adiada desde 1 de Julho. O mandato do Comité da RDC expira no dia 1 de Agosto, da RCA no dia 31 de Agosto e a do Mali no dia 30 de Setembro.
O deputado russo e embaixador da ONU, Dmitry Polyanski, disse à Reuters que o seu país questiona a “imparcialidade, neutralidade e independência” dos especialistas.
Muitos diplomatas e observadores acreditam que o objectivo da Rússia é de diminuir o escrutínio da sua campanha de expansão de influência em África.
As recentes investigações da ONU sobre as actividades dos instrutores e mercenários russos na RCA e na Líbia resultaram em acusações de crimes de guerra.
Num relatório de Junho, o painel de especialistas da ONU que faz a monitoria das sanções da RCA condenou as “graves violações dos direitos humanos.” O painel acusou os instrutores militares russos que estavam a liderar as forças da RCA de terem tido como alvos civis com o “uso de força excessiva, mortes indiscriminadas e ocupação de escolas, pilhagens em grande escala, incluindo de organizações humanitárias.”
A Rússia desmentiu as alegações apesar de o painel ter apresentado provas fotográficas e testemunhas oculares.
A Rússia não reconheceu o envio de cerca de 500 instrutores, mas o painel cita uma estimativa de até 2.100 unidades. Alguns acreditam que o termo “instrutor” é uma forma escondida de referir-se a mercenários.
“Continuamos profundamente conturbados pelas alegações de que tais atrocidades estão a ser cometidas não apenas por grupos armados, mas por membros de forças armadas nacionais e mesmo por militares privados contratados,” oficial britânica, Alice Jacobs, disse ao Conselho de Segurança, em finais de Junho.
Os especialistas do painel que fazem a monitoria das sanções na Líbia disseram, em Setembro de 2020, que a Rússia violou o embargo de armas das Nações Unidas e citou 11 instituições, incluindo o Grupo Wagner. Em Maio de 2021, o painel disse que o grupo enviou 800 a 1.200 mercenários para apoiar os esforços militares do Marechal de Campo, Khalifa Haftar, contra o governo apoiado pela ONU, em Trípoli.
O mandato do painel de especialistas da Líbia expira no dia 15 de Agosto de 2022.
Agora, a Rússia pretende entrar no Mali enquanto impede que a ONU faça a supervisão de violações das sanções.
O ministro dos negócios estrangeiros russo confirmou, no dia 25 de Setembro, que os contratados privados russos foram convidados para ajudar com a segurança pelo governo de transição do Mali, que assumiu o poder num golpe militar, em Agosto de 2020.
Contudo, quatro helicópteros militares russos juntamente como armas e munições chegaram a Bamako, no dia 29 de Setembro, de acordo com o Ministro de Defesa do Mali, Sadio Camara.
Com cerca de 15.000 soldados de manutenção da paz no Mali, a ONU já expressou preocupações sobre o envolvimento dos mercenários. A França, que já lidera esforços de combate ao terrorismo na região do Sahel desde 2013, está a planificar retirar as suas tropas do Mali.
Entretanto, diplomatas e especialistas estão a soar múltiplos alarmes, afirmando que a Rússia se encontra a desestabilizar as regiões que já são voláteis de África enquanto despreza a possibilidade de uma supervisão.
“O Reino Unido continua preocupado com as denúncias credíveis de violações de direitos humanos cometidos pelo grupo de mercenários russos, o Grupo Wagner, na República Centro-Africana,” o embaixador James Kariuki disse ao Conselho de Segurança da ONU, no dia 18 de Outubro. Estas violações não são apenas erradas, mas também são os causadores dos conflitos e põe em risco o trabalho vital dos soldados de manutenção da paz internacionais e das autoridades da República Centro-Africana.
“O Grupo Wagner não oferece respostas à segurança a longo prazo em África.”