EQUIPA DA ADF
Quando o primeiro caso de COVID-19 eclodiu no Senegal, o exército entrou em acção.
Em Março de 2020, o Exército Senegalês viajou para Touba, 190 quilómetros a este de Dakar, e montou um hospital de campanha para lidar com o aumento de casos de COVID-19 que se antecipava que ameaçavam sobrecarregar os hospitais locais.
Numa questão de dias, um campo foi transformado em acampamento de 690 metros quadrados, com 14 tendas, onde os médicos podiam realizar operações, diagnosticar e tratar centenas de pacientes por dia. Todos os tratamentos eram oferecidos ao público gratuitamente.
Era uma missão fora do comum para um tempo fora do comum.
“Temos um conjunto de missões; temos a missão de garantir cuidados ao Exército em tempos de paz, também temos a missão de saúde em tempos de crise ou durante a guerra,” Coronel Abdourahamane Diang, chefe de medicina, no Hospital do Exército Senegalês, disse à imprensa local. “Em tempos de crise ou de guerra, é necessário uma abordagem excepcional.”
Touba, uma cidade de 1,5 milhões de habitantes, é uma das cidades mais santas para os Muçulmanos Sufi e organiza um festival anual que atrai milhares de peregrinos. Embora a cidade tenha visto vários aumentos do número de casos ao longo do ano, o Senegal evitou as previsões mais pessimistas do surto e o Exército recebeu o crédito de ter desempenhado um papel fundamental no tratamento do público.
“O tratamento é gratuito com a única limitação a ser os meios que temos disponíveis,” disse Diang. “A consulta é gratuita, os serviços de radiologia são gratuitos, as análises laboratoriais são gratuitas. … Iremos providenciar cuidados de forma firme e, em cada passo, iremos avaliar o que mais é necessário.”
HOSPITAL NUMA CAIXA
O Senegal foi um dos quatro países que recebeu hospitais de campanha de nível II das Nações Unidas, provenientes dos Estados Unidos. Os outros países são Gana, Ruanda e Uganda. Cada país deveria receber dois hospitais.
Os hospitais modulares podem ser arrumados em contentores de carga e enviados juntamente com as tropas das missões de manutenção da paz. Foram doados como parte do Programa dos EUA de Resposta Rápida de Manutenção de Paz em África (APRRP), um esforço de 110 milhões de dólares anuais para ajudar os exércitos africanos a intervirem em situações de crise no continente.
Cada um dos hospitais está avaliado em cerca de 3,5 milhões de dólares.
“Destinam-se a garantir uma resposta rápida em qualquer situação de crise, quer seja uma situação de desestabilização geopolítica ou surto de doença,” disse o Dr. Charles Beading, professor de medicina militar na Uniformed Services University (Universidade de Serviços Uniformizados), que ajuda as pessoas a utilizarem hospitais móveis. “Em vez de depender da comunidade internacional e dos atrasos nas respostas para o continente, o APRRP fornece uma capacidade de resposta rápida e presente no continente.”
Cada hospital possui 20 camas para pacientes internados e é equipado com dispositivos para monitorar os sinais vitais. Os hospitais possuem uma sala de cirurgia, unidade de cuidados intensivos e ferramentas de diagnósticos via imagens. Cada um possui sistemas de purificação de água, geradores e capacidade de tratamento de esgoto. Leva um a três dias a montar.
“São instalações auto-sustentáveis. Têm os seus próprios geradores, têm tudo,” disse o Major das Forças Aéreas dos EUA, Mohamed Diallo, especialista em saúde internacional, no Gabinete do Cirurgião Comandante do Comando dos EUA para África (AFRICOM). “Eles podem montá-lo em qualquer lugar e estar totalmente operacional sem a necessidade de ligar a qualquer fonte externa.”
Logo que os hospitais são entregues, o AFRICOM fornece um programa de formação de múltiplas etapas em habilidades como o saneamento do campo, o ultra-som clínico, o controlo de infecções e os cuidados de vítimas de combate táctico. “Esta não é apenas uma formação de uma única vez,” disse Diallo. “Nós os treinamos para que possam também treinar os outros. Não aparecemos simplesmente e treinamos um grupo para depois dizermos que já concluímos. Estamos a institucionalizar cada um desses programas para que possam utilizá-los de forma adequada durante um destacamento.”
Embora as viagens tenham sido canceladas devido à pandemia, os formadores do AFRICOM continuaram a fornecer cursos sobre gestão de cuidados em pacientes em estado crítico e pacientes da COVID-19, os quais incorporam as mais recentes lições aprendidas pelo mundo afora.
Para além destes hospitais de nível II, os EUA doaram 14 hospitais de campanha de nível I, equipados com sistemas de pressão negativa do ar para impedir que o ar infectado saia para fora das salas de tratamento. Esses hospitais foram para países como Angola, Djibouti, Etiópia, Gana, Quénia, Marrocos, Níger, Nigéria, África do Sul e Tunísia. Os hospitais tipicamente estão a ser operados pelo ministério de saúde do país receptor.
PREPARANDO-SE PARA O PIOR
Os hospitais nunca tinham sido destinados a ser utilizados numa pandemia doméstica, mas demonstraram ser valiosos.
Formadores dos EUA trabalharam com soldados das Forças Populares de Defesa do Uganda (UPDF), em Maio de 2019, para praticar como montar e desmontar os hospitais. A formação incluiu um exercício de simulação de grande número de vítimas para testar a capacidade das UPDF de tratar e estabilizar soldados feridos.
No início de 2020, as UPDF tinham 320 pessoas formadas para operarem o hospital. Isso colocou-as numa posição forte quando a COVID-19 eclodiu.
“As nossas preparações começaram há muito tempo; quando a primeira epidemia eclodiu na China, começamos a preparar a partir dessa altura,” Brigadeiro Stephen Kusasira, director de serviços médicos nas UPDF, disse à imprensa local. “Todos sabiam que era uma questão de tempo até que isso chegasse aqui.”
As UPDF montaram o hospital no Quartel Militar de Bombo, no norte da capital, Kampala. Embora o Uganda tenha experimentado um número relativamente reduzido de casos de COVID e 228 mortes em meados de Dezembro, os líderes dizem que a experiência de responder a uma pandemia foi valiosa.
“Amanhã pode surgir uma outra emergência que necessite do estabelecimento de um hospital móvel,” disse Kusasira. “Então, é um modelo que utilizamos nas UPDF para ter não só os centros estáticos, mas também desenvolver as nossas capacidades móveis. Caso sejamos destacados para algum lugar, seremos capazes de nos movimentar com um hospital ou um centro de saúde ou uma estrutura onde podemos oferecer serviços de prestação de cuidados de saúde.”
No Gana, as Forças Armadas do Gana (GAF) estabeleceram um hospital num campo de futebol, no El Wak Stadium, em Acra. Foram organizadas tendas para incluir instalações de isolamento para os doentes mais graves e vestiários em que os médicos e enfermeiros se podiam equipar e mais tarde descartar o equipamento de protecção individual. O hospital recebia os pacientes enviados de 37 Hospitais Militares dos arredores.
“O exército tende a ser discreto, por isso, por vezes, não se ouviu falar muito de nós, mas… fazemos muito aqui e precisamos de apoio do público para manter o fluxo dos pacientes,” Coronel Thomas Aquinas Gbireh, comandante das GAF no hospital, disse à Citi TV.
Uma das maiores necessidades foi de equipamento de protecção individual, que era escasso. Em Agosto de 2020, os EUA responderam doando 10.000 máscaras faciais N95, 1.600 batas hospitalares, 2.000 litros de desinfectante e outros bens médicos. Major Michael Kummerer, chefe do Gabinete de Cooperação de Segurança, na Embaixada dos EUA em Gana, apelidou a doação como sendo “um amigo dando uma mão de ajuda num momento de necessidade.”
“Reconhecemos o papel absolutamente crítico que as GAF desempenham na resposta do Gana à COVID-19 e estamos felizes em poder apoiá-los nesta causa nobre,” disse Kummerer.
Embora muitas partes da África Subsaariana não tenham sido afectadas de forma tão severa pela COVID-19, como se temia inicialmente, os profissionais de saúde militares disseram que foi um lembrete importante do papel que as forças de segurança devem desempenhar durante as crises nacionais.
“Estamos a preparar para o pior cenário caso aconteça,” disse Kusasira.
Parte dessa preparação significa fortalecer as medidas preventivas para que os sistemas de saúde não fiquem sobrecarregados no futuro.
“Não devemos estar a olhar, como país, apenas para centros de tratamentos; devemo-nos focalizar no fortalecimento dos aspectos de prevenção para que não tenhamos tantas pessoas que sobrecarreguem a capacidade do país,” disse Kusasira.