EQUIPA DA ADF
Os confinamentos obrigatórios da COVID-19 causaram uma queda acentuada de casos de tráfico de animais selvagens, de acordo com um novo estudo.
O estudo do Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS), feito a pedido da revista National Geographic, descobriu que as agências internacionais de aplicação da lei interceptaram muito menos marfim de elefante e escamas de pangolim, em 2020, em comparação com os anos anteriores.
Quando medido pelo peso ou pelo número de apreensões, o tráfico entre países africanos e asiáticos — principalmente a China — reduziu de aproximadamente 1.000 apreensões em 2019, para aproximadamente metade em 2020.
O estudo demonstra que as autoridades confiscaram 18 toneladas métricas de escamas de pangolim em 2020, cerca de um quinto daquilo que confiscaram em 2019. Em termos de peso, as apreensões de chifres de rinoceronte reduziram em 90%. O marfim reduziu em 72%.
Isso pode ser uma boa notícia a curto prazo, mas existem alguns grupos de combate ao tráfico preocupados com o facto de que pode estar a aproximar-se um aumento à medida que a pandemia vai chegando ao fim. Ouros pensam que um boom pós-pandemia no tráfico pode não se materializar, visto que os traficantes utilizam as suas reservas guardadas antes dos confinamentos obrigatórios.
No Malawi, onde as autoridades desmantelaram a quadrilha de caça furtiva de Lin-Zhang, em 2019, o Director de Parques e Fauna Bravia, Brighton Kumchedwa, vê um potencial para o aumento à medida que os confinamentos vão sendo relaxados.
“Quanto mais e mais países se vão abrindo, isso pode resultar em crimes contra a vida selvagem,” disse Kumchedwa à ADF.
O Malawi criou ligações com os seus vizinhos, incluindo a Zâmbia, concebidas para pôr um fim à caça furtiva e ao tráfico de animais selvagens em parques ao longo das suas fronteiras.
Kumchedwa disse que as acções dos agentes de aplicação da lei, como a prisão e condenação de Lin-Zhang, também podem desencorajar os residentes locais de trabalharem com quadrilhas internacionais de caça furtiva.
O tráfico de marfim de elefante reduziu em 2019 e 2020 depois de grandes apreensões em 2019, de acordo com Chris Thouless, director do Fundo da Crise do Elefante, na instituição queniana Save the Elephants.
“Não está claro se isto aconteceu porque ainda existia uma procura significativa, mas as reservas eram capazes de cobri-la e, por isso, havia grande pressão para se matar elefantes,” disse Thouless à ADF, ou “se era porque havia pouca procura, mas os comerciantes asiáticos queriam acumular naqueles lugares que consideram como os mais seguros da Ásia.”
Thouless observou que, embora as apreensões tenham sido baixas em 2020, o transporte marítimo internacional — uma das principais formas através das quais os contrabandistas movimentam os itens da caça furtiva — continuou sem grandes alterações durante o ano.
“Não é nada certo que haverá um grande aumento no tráfico em 2021,” disse Thouless. “Imagino que a maior parte das pessoas esteja a utilizar uma estratégia de esperar para ver.”
Os traficantes frequentemente misturam o contrabando com bens legítimos antes de os carregar para os meios de transporte. Na Nigéria, por exemplo, funcionários das alfândegas abriram um contentor, no início de 2020, esperando encontrar um fornecimento de mobílias. Dentro, por trás de uma carga de madeira, descobriram mais de 160 sacos de escamas de pangolim. Aproximadamente 60 outros sacos tinham marfim, ossos de leão utilizados na medicina tradicional chinesa e outras partes de animais selvagens.
“É uma ideia daquilo que está por vir,” Steve Carmody, chefe de investigações da Comissão de Justiça para a Vida Selvagem, disse ao National Geographic.
A apreensão da Nigéria aconteceu antes de os confinamentos obrigatórios totais relacionados com a pandemia terem reduzido as viagens aéreas e o tráfego marítimo. Até finais de 2020, o estudo do C4ADS demonstrou que as apreensões, por via marítima, de marfim, chifres de rinoceronte e escamas de pangolim tinham reduzido pela metade comparativamente aos anos anteriores — de aproximadamente 4% de todas as apreensões para menos de 2% das apreensões.
Esse declínio pode reflectir menos tráfico, mas pode também significar que os agentes de aplicação da lei estejam menos capazes de interditar o contrabando, visto que os governos mudaram a direcção do uso de recursos escassos para a luta contra a COVID-19, de acordo com o estudo do C4ADS.
O estudo sugere que os confinamentos obrigatórios relacionados com a pandemia afastaram o comércio ilegal de produtos da fauna bravia para longe das rotas dos transportes convencionais em direcção ao comércio online onde os itens podem ser enviados em pequenos volumes através do correio.
De acordo com Gretchen Peters, fundador da Aliança do Combate à Criminalidade Online, o comércio ilegal de produtos da fauna bravia continuou robusto através da internet.
“Nenhum dos meus membros comunicou sobre qualquer pessoa que esteja a falar sobre dificuldades de obter os seus fornecimentos,” disse Peters ao National Geographic.