EQUIPA DA ADF
Enquanto continuam a procurar as origens da COVID-19, os investigadores da Organização Mundial de Saúde estão a concentrar-se numa provável fonte: a criação de animais selvagens no sul da China.
O Investigador Peter Daszak, zoologista e especialista em transmissão de doenças de animais para seres humanos, fez essa avaliação em Fevereiro, numa entrevista com a emissora radiofónica National Public Radio.
“Acredito que a SARS-CoV-2 tenha infectado as pessoas primeiramente no sul da China,” disse Daszak. “É o que parece.”
A SARS-CoV-2 é o nome científico para a COVID-19.
A província de Yunnan, situada no sul da China, é o lugar onde habita o morcego-de-ferradura, que transporta um coronavírus que é 96% semelhante àquele que causa a COVID-19. Os morcegos são utilizados em algumas fórmulas da medicina tradicional chinesa (MTC). Manuseá-los pode causar a propagação de doenças.
Uma hipótese sobre a COVID-19 refere que ela foi transmitida para os seres humanos a partir de morcegos, por via de um hospedeiro intermediário. Na altura do surto, em finais de 2019, os vendedores do mercado de Huanan vendiam furões, ratos de bambu e coelhos. Todos estes podem contrair a COVID-19.
A hipótese de que animais selvagens possam ter propagado a COVID-19 fez com que o governo chinês fechasse a indústria pouco depois do início do surto e ordenasse os criadores para destruírem os animais que criavam para a venda.
A China começou a encorajar os seus cidadãos das zonas rurais a criarem animais selvagens nos finais da década de 70 para reduzir a pobreza. O plano era simples: os criadores deviam ir para o campo, capturar animais selvagens, criá-los como se fossem gado ou porco e depois vendê-los como alimentos, pele ou componentes da MTC.
Na altura em que a COVID-19 surgiu, a criação de animais selvagens era uma indústria de 74 bilhões de dólares, empregando mais de 14 milhões de pessoas na China.
A lista de animais selvagens criados vai desde morcegos, civetas e veados a texugos, pangolins, porcos-espinhos e cobras. Muitos são vendidos como alimentos exóticos em mercados como aqueles de Wuhan, onde são misturados com morcegos e outras potenciais fontes de doenças.
Os cientistas descobriram que as civetas foram a espécie intermediária que permitiu que o surto da SARS de 2002 fosse transmitido de morcegos-de-ferradura para seres humanos, na província de Guangdong, no sul. A venda de civetas foi banida por pouco tempo em 2003.
A proibição da criação de animais selvagens na China aplica-se sobre animais vendidos como alimentos e não sobre aqueles criados como animais de estimação ou para outros fins tais como a MTC. Isso criou excepções para os criadores de tigres, ursos e mesmo rinocerontes para extrair as suas partes do corpo para o uso na MTC.
As autoridades chinesas argumentam que a criação desse tipo de animais promove a conservação e reduz a caça furtiva de seus parentes — afirmações que os defensores da vida selvagem como Allan Thornton, presidente da organização sem fins lucrativos Agência de Investigação Ambiental (EIA, acrónimo em Inglês), dizem que são falsas.
De acordo com Thornton, a criação de animais selvagens, na verdade, aumenta a caça furtiva, porque os clientes da MTC consideram os produtos associados a animais selvagens como mais potentes em relação às suas versões criadas em cativeiro.
As revisões da Lei de Protecção da Vida Selvagem da China, que estão relacionadas com a pandemia, reclassificaram alguns animais da vida selvagem como gado, isentando-os da proibição. Isso inclui texugos, que são criados para extracção da pele, mas também são capazes de transmitir a COVID-19.
Em resposta a uma reportagem sobre uma crescente lista de designers de moda chineses e europeus que se recusavam de utilizar pele nas suas roupas, Daszak redarguiu no Twitter: “Desenvolvimentos promissores – o comércio da pele para dentro e para fora da China incluem texugos criados em cativeiro que podem estar infectados pela SARS-CoV e SARS-CoV-2. Isso será bom para a biodiversidade e para a nossa saúde!”