EQUIPA DA ADF
Apesar dos esforços para reprimir o tráfico, os preciosos recursos naturais de Madagáscar estão a ser pilhados a uma velocidade alarmante. E quando as tartarugas raras, os lémures e o pau-rosa assim como os troncos de ébano saem da ilha, a maior parte deles possuem o mesmo destino: a China.
Nos esforços em curso para recuperar a perda dos recursos naturais da ilha, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) providenciou duas subvenções de 1 milhão de dólares para organizações internacionais que trabalham com as autoridades malgaxes para acabar com o tráfico ilegal e proteger os recursos para o futuro.
“O tráfico de produtos provenientes da fauna bravia e de madeira são instituições criminosas que movimentam muitos milhares de milhões de dólares que roubam a biodiversidade única do Madagáscar e um futuro sustentável do povo de Madagáscar,”
Director da Missão da USAID, John Dunlop, disse durante uma cerimónia que anunciava as subvenções, em Maroantsetra. Elutin Razafiarison, director da unidade anticorrupção, no Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Madagáscar, também participou da cerimónia.
A madeira traficada de forma ilegal, muitas vezes, acaba em mobília de alta qualidade muito procurada na China. A China esgotou os recursos de pau-rosa na Ásia e começou a explorar madeira em África, por volta do ano de 2010, de acordo com a instituição de caridade sediada nos EUA, Forest Trends.
Recentemente, em 2018, África representou mais de 90% do pau-rosa enviado para a China, de acordo com o World Trade Atlas. O Gana e a Gâmbia tornaram-se nas principais fontes de pau-rosa, juntamente com o Madagáscar, que alberga 48 variedades de árvores de pau-rosa.
As árvores de pau-rosa abrigam os animais do Madagáscar, como os lémures. O abate de madeira destrói o habitat dos lémures. Em alguns casos, os madeireiros matam e comem esses animais. Outros acabam por ser traficados, juntamente com a tartaruga irradiada, a tartaruga de Madagáscar e outros animais que são apreciados como animais de estimação exóticos ou para fins de colecção.
Em Junho de 2020, fiscais florestais confiscaram 144 tartarugas irradiadas de caçadores furtivos que as transportavam numa canoa. Em 2018, mais de 17.000 tartarugas irradiadas, quase todas em idade juvenil, foram confiscadas de duas casas naquela que foi a maior campanha desta natureza na história do Madagáscar.
Especialistas em saúde pública alertam que o comércio e o manuseamento de animais selvagens, em particular animais retirados de lugares com um mínimo de contacto humano, criam novos riscos de surgimento de pandemias. A COVID-19, por exemplo, suspeita-se de que tenha originado do comércio de morcegos capturados nas florestas e vendidos no mercado de Wuhan, na China.
Uma das subvenções da USAID vai para a Sociedade de Conservação da Vida Selvagem e para o Centro de Estudos Avançados de Defesa para melhorar a capacidade dos agentes da lei e do judiciário a fim de proteger as madeiras de folhosas do nordeste de Madagáscar, que são raras e que se encontram em ameaça de extinção e para melhorar a sua cooperação com os parceiros transnacionais.
A outra subvenção vai para a TRAFFIC, que faz a monitoria do comércio de produtos provenientes da vida selvagem e para o Fundo Durrel para a Conservação da Vida Selvagem, para apoiar a sua rede e diminuir o tráfico de tartarugas, de lémures e outras espécies ameaçadas de extinção no Madagáscar.
Ambas subvenções irão durar dois anos e fazem parte de um esforço mais amplo do governo dos EUA. Desde 2013, os EUA investiram 55 milhões de dólares no apoio ao trabalho de promoção de sustentabilidade do país, fortalecimento da gestão dos recursos naturais e protecção de milhares de hectares contra a exploração ilegal e insustentável.
Recentes desenvolvimentos sugerem que o apoio está a ter um impacto, de acordo com David Bird, fundador do Instituto de Pesquisa e de Conservação do Madagáscar, que trabalha com o povo malgaxe para preservar o seu património.
“As autoridades do governo estão mais cientes do problema do tráfico e as melhorias destes últimos anos nos sistemas de segurança dos aeroportos também ajudaram muito,” disse à ADF. “Os órgãos de comunicação locais noticiaram amplamente as prisões que foram feitas e eu acredito que isto também destacou a ilegalidade e as sanções dos traficantes e funcionou como um meio de dissuasão.”
Durante o ano passado, a pandemia da COVID-19, na realidade, ajudou a proteger a fauna bravia do Madagáscar, disse Bird. Ao encerrar as fronteiras e restringir as viagens da e para a ilha, a pandemia reduziu as oportunidades que os contrabandistas tinham para movimentar o seu contrabando.