EQUIPA DA ADF
Quando decidiu desertar do grupo extremista al-Shabaab, Abdul ficou cheio de medo.
Mas ele tinha um plano e um telefone. Os seus familiares encontraram alguém de confiança para levá-lo para uma casa segura.
“No início caminhei durante a noite, os meus pés dilacerados por espinhos,” Abdul, usando um pseudónimo para o manter seguro, disse à BBC. “Eu estava petrificado com a possibilidade de ser interceptado e enviado de volta para uma morte certa, por execução, num lugar público.
“Isso é o que o al-Shabaab faz com os desertores.”
A casa segura faz parte do Programa de Reabilitação de Desertores da Somália (DRP), que pode ser a melhor esperança do país para extinguir as chamas dos extremistas islâmicos.
“O programa nacional de reabilitação oferece uma segunda oportunidade aos antigos militantes de grupos como o al-Shabaab, possibilitando que os mesmos se arrependam e procurem o perdão,” director do DRP, Mohamed Ali Hussein, disse um ano atrás numa formação de oficiais do governo que operam o programa.
Al-Shabaab é um grupo de insurgentes alinhado com o al-Qaeda e estima-se que tenha entre 7.000 e 9.000 guerrilheiros, muitos deles recrutados ou sequestrados quando crianças. O grupo viu a sua influência e controlo sobre a Somália reduzir — e com isso vêm o desencanto e as deserções.
Criado em 2012, o DRP está estruturado em cinco partes: alcance, recepção, rastreio, reabilitação e integração. É um programa com quatro meses de duração que oferece reeducação islâmica, aconselhamento em caso de trauma e formação em habilidades vocacionais.
Na Somália, existem nove centros de reabilitação, financiados ou operados por organizações internacionais, em parceria com o Ministério de Segurança Interna, para oferecer programas que ajudam os desertores a reintegrarem-se na sociedade.
O programa é, na essência, para membros de escalões baixos, de baixo risco do al-Shabaab. Serve para prejudicar a força e a capacidade dos insurgentes. Os desertores de alto risco têm maior probabilidade de serem alvos de retaliações violentas e geralmente terminam em tribunais militares.
Cada passo do programa está repleto de perigo para o pessoal da equipa e para os participantes, porque a ramificação da inteligência do al-Shabaab, o Amniyat, tem a fama de perseguir os seus antigos membros e as suas famílias.
“O al-Shabaab telefona para mim,” um outro participante do programa disse à BBC. É militante do grupo há seis anos. “Tentarei permanecer desaparecido numa cidade grande como Mogadíscio ou Baidoa, mas tenho medo de que me encontrem. Apenas estarei seguro se eu for para a Europa ou para o golfo.”
Alguns membros da reabilitação nunca regressarão às suas aldeias por causa do medo. Outros são vítimas de rejeição pela comunidade.
O desafio de começar uma nova vida, muitas vezes, é difícil, mas o programa oferece colocação e oportunidade de emprego, ajuda financeira e, nalguns casos, ajuda para a reinstalação.
O governo estimou que, em Dezembro de 2017, 2.000 desertores teriam concluído o programa de reabilitação. Afirma que ninguém alguma vez voltou atrás para o al-Shabaab depois da conclusão do programa.
Para muitos membros de níveis inferiores, como Samir (outro pseudónimo), o dinheiro e a sobrevivência são as maiores preocupações.
“Eu era adolescente quando aderi,” disse à BBC. “Era bom em ciências. O al-Shabaab disse que eu podia ajudar a equipa médica. Eu não me atreveria a dizer não para eles, eu precisava do dinheiro. Eles pagavam-me 70 dólares por mês.”
Samir recebeu 250 dólares quando saiu do centro DRP para se matricular na escola e abrir uma pequena farmácia.
“Eu vendo sorvetes lá também,” disse à BBC. “Todos os dias, tenho medo de que o al-Shabaab venha perseguir-me.”