Ataque com Minas Fomenta o Medo de Desestabilização da RCA pela Rússia
EQUIPA DA ADF
As minas terrestres que mataram um soldado de manutenção da paz das Nações Unidas, originário do Ruanda, e feriram outros dois na República Centro-Africana (RCA), podem estar ligadas ao Grupo Wagner, um conjunto de mercenários russos.
Dias depois da explosão de 15 de Julho, Charles Bambara, gestor de comunicações da missão dos Estados Unidos na RCA, acusou o grupo de insurgentes Return, Reclamation, Rehabilitation (3R) de utilizar minas antipessoais e antitanque contra as Forças Armadas Centro Africanas (FACA) e contra as Nações Unidas.
Clamando por justiça célere, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que o ataque mortal “pode constituir crime de guerra nos termos da lei internacional.”
Os membros do exército da RCA suspeitam que o Grupo Wagner tenha fornecido as minas e treinado os 3R a saberem usá-las, reportou a página de notícias da internet corbeaunews-centrafique.com (CNC).
“Esta é a primeira vez que falamos sobre minas antitanque na RCA. Mesmo no ponto mais alto da crise, entre 2013 e 2015, no país, nenhum grupo armado utilizou esse tipo de armamento,” disse um oficial não identificado das FACA à CNC. “O nosso exército esteve sob um embargo imposto pelas Nações Unidas por mais de seis anos e não tem este tipo de armamento cujo uso é proibido.”
A CNC disse que os peritos das Nações Unidas estão a analisar as minas para determinar a sua origem.
Em Agosto, o Departamento de Tesouro dos EUA anunciou a imposição de sanções ao líder da 3R, Sidiki Abbas. O seu grupo tem cometido atrocidades contra civis desde 2015 e acredita-se que ele tenha participado pessoalmente na tortura de prisioneiros.
O Papel da Rússia
A Rússia ganhou terreno na RCA em Dezembro de 2017, quando as Nações Unidas permitiram que esta importasse armamentos de pequeno calibre e munições para fornecer às Forças Armadas do país. Os aviões da Rússia começaram a efectuar a entrega de armas em Bangui, a capital da RCA, em Janeiro de 2018.
No verão de 2018, a RCA concedeu licenças para a extracção de minérios a Lobaye Investu Sarlu, uma empresa russa, que agora tem presença em pelo menos quatro cidades da RCA, de acordo com a revista The Africa Report. A Rússia também começou a operar um aeródromo e começou a treinar a Polícia e o Exército Nacional Centro Africano.
Nesse mês de Março, 170 agentes alegadamente pertencentes ao Wagner chegaram à RCA para treinar forças do governo; mais 500 apareceram na fronteira com o Sudão em Julho, de acordo com um relatório divulgado na revista The Atlantic.
Acredita-se que o Grupo Wagner esteja a ser financiado pelo homem de negócios da Rússia, Yevgeny Prigozhin, um aliado muito próximo do Presidente Vladmir Putin, da Rússia. Rapidamente, o grupo teve uma reputação violenta na RCA e em todo o continente.
Em Julho de 2018, o grupo foi acusado de assassinar três jornalistas russos que estavam a investigar as actividades da organização na RCA para um documentário. Na semana da explosão de Julho de 2020, na RCA, o Grupo Wagner foi acusado de plantar minas antipessoais perto de Tripoli, a capital da Líbia.
A Rússia agora planeia estabelecer bases militares em seis países africanos, incluindo a RCA e o Sudão. Entre 2015 e Agosto de 2020, a Rússia concluiu acordos de cooperação militar com 21 países africanos; tinha os referidos acordos apenas com quatro países antes de 2015, de acordo com um relatório divulgado no Bild, um jornal alemão.
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