As autoridades marroquinas detiveram mais de uma dezena de operativos do Estado Islâmico, pondo fim a uma tentativa dos extremistas baseados no Sahel de semear o terror naquele reino da África do Norte.
As detenções de Fevereiro ocorreram após rusgas em nove locais de implantação de células do grupo Estado Islâmico (EI) em todo o país, incluindo em grandes cidades como Casablanca e Fez. As autoridades de segurança confiscaram os materiais necessários para o fabrico de bombas telecomandadas, bem como facas, espingardas e pistolas cujos números de série tinham sido retirados.
As detenções foram as últimas de uma série de operações anti-IS em Marrocos. Entre Janeiro de 2023 e Fevereiro de 2024, por exemplo, as autoridades marroquinas desmantelaram várias células do EI. As autoridades capturaram indivíduos que planeavam ou tentavam viajar para o centro de actividade do EI no Sahel, conhecido como Wilayat Sahel, na junção do Burquina Faso, Mali e Níger.
“Marrocos continua a ser um alvo importante na agenda de todas as organizações terroristas que operam no Sahel,” Habboub Cherkaoui, chefe do Gabinete Central de Investigações Judiciais de Marrocos, disse numa conferência de imprensa que anunciou as mais recentes detenções. Segundo os especialistas, o sucesso de Marrocos na luta contra os terroristas faz do país um modelo a seguir pelos países africanos.
“Por seu lado, Marrocos está a trabalhar com os parceiros regionais para combater o extremismo violento a nível político, religioso, económico e de segurança,” Mohamed Salah Tamek, delegado-geral da Administração Penitenciária e de Reintegração de Marrocos, disse numa apresentação no Instituto de Washington.
O rei de Marrocos, Mohammed VI, apoia os esforços conjuntos para combater a radicalização e os responsáveis da Costa do Marfim, Guiné, Níger e Tunísia afirmaram estar dispostos a formar imames em Marrocos em métodos de desradicalização.
Nos últimos anos, o terrorismo no Sahel tem-se expandido de forma implacável na sequência de golpes militares nos três países do Sahel. Ao lançarem os seus golpes de Estado entre 2021 e 2023, as juntas anunciaram que iriam fazer o que o governo democrático que derrubaram não conseguiu: conter os terroristas. Em vez disso, grupos como a província do Sahel do EI expandiram dramaticamente as suas operações, tornando a região em líder mundial da actividade terrorista.
Ultimamente, o EI tem trabalhado para consolidar o poder no território que controla, exigindo impostos do tipo zakat aos comerciantes e extorquindo os residentes para financiar as suas operações. A partir da sua base no Sahel, o EI está também a tentar espalhar a sua marca de terrorismo noutros pontos do continente.
“O Estado mínimo e a fraca presença militar, bem como as populações historicamente marginalizadas, enfraquecem a resistência e fornecem ao grupo recrutas nesta área onde o EI Sahel tem vindo a ganhar influência e a insinuar-se junto das comunidades locais há quase uma década,” os analistas do projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos escreveram num relatório recente.
A partir da sua base nos países do Sahel sem litoral, o EI tem tentado, sem sucesso, expandir as suas operações para as nações costeiras a sul, como forma de garantir linhas de abastecimento ininterruptas. Até à data, os países costeiros — Benin, Costa do Marfim, Gana e Togo — têm mantido o EI e outros grupos terroristas à distância. Por conseguinte, o EI-Sahel concentrou-se em Marrocos como principal alvo para expandir a sua influência. Nos últimos anos, os filiados do EI em África recrutaram mais de 130 combatentes marroquinos.
Marrocos desmantelou mais de 180 células terroristas desde 2002, segundo dados do governo divulgados em 2024. Só desde 2015, o Gabinete Central de Investigações Judiciais de Marrocos desmantelou dezenas de células militantes e deteve mais de mil suspeitos de terrorismo, segundo Cherkaoui.
A união de grupos terroristas e de redes criminosas constitui uma verdadeira ameaça para Marrocos, acrescentou Cherkaoui.
“Os ramos africanos do EI tendem a internacionalizar as suas actividades,” acrescentou.