EQUIPA DA ADF
No início de Março, as Forças Armadas do Sudão (SAF) retomaram partes da cidade de Omdurman às Forças de Apoio Rápido (RSF). A reconquista marcou uma das poucas vitórias das SAF após meses de recuos humilhantes e perdas territoriais desde o início dos combates há quase um ano.
Outrora visto como uma força a ter em conta, o exército do Sudão passou 11 meses a lutar — e muitas vezes a falhar — para manter o controlo sobre o território nacional vital. Isso inclui a perda de grande parte da região de Darfur, da maior parte da região da capital e de grandes áreas da região agrícola de El Gezira.
Quando a guerra começou, as SAF, fortemente armadas, dominavam os céus e empunhavam armamento pesado. O exército era financiado através do controlo de empresas comerciais, desde campos agrícolas a campos de petróleo. Essas vantagens foram rapidamente anuladas quando as RSF, altamente móveis e pouco armadas, receberam apoio financeiro dos Emirados Árabes Unidos, armas do Grupo Wagner da Rússia (actualmente conhecido como Africa Corps) e combustível de apoiantes baseados no Sudão do Sul.
“Aos olhos dos decisores políticos das capitais do Corno de África, a perspectiva de Mohamed Hamdan Dagalo “Hemedti,” o chefe das RSF, se tornar o novo homem forte do Sudão, passou de hipotética a uma possibilidade clara,” escreveu Harry Verhoeven, especialista em Sudão, para a London School of Economics.
Enquanto a guerra entre as SAF e as RSF se arrasta, está a devastar a economia do Sudão, custando ao país cerca de 80 milhões de dólares por dia e reduzindo o produto interno bruto até 18%. O economista Haisam Fathi disse à Rádio Dabanga, em Dezembro, que a economia formal está “quase paralisada.”
Em resposta, os líderes das SAF recorreram a antigos membros de alto nível do governo do ditador deposto Omar al-Bashir para obter apoio financeiro. As RSF continuam a receber fundos através da venda de ouro contrabandeado para os Emirados Árabes Unidos a partir de minas controladas por Hemedti.
Desde o início da guerra, em Abril de 2023, as SAF adoptaram uma abordagem reactiva e defensiva aos ataques das RSF, o que as levou a perder terreno repetidamente.
A capital do Darfur Central caiu nas mãos das RSF em Outubro quando a 21ª Divisão de Infantaria das SAF fugiu da região. O Darfur Ocidental caiu nas mãos das RSF alguns dias mais tarde, depois de a maior parte da guarnição da 15.ª Divisão ter igualmente fugido, deixando para trás esconderijos de armas.
Em Novembro de 2023, a 22ª Divisão das SAF retirou-se do Campo Petrolífero de Baleela, deixando a instalação nas mãos das RSF.
Com o seu quartel-general em Cartum sitiado desde Abril de 2023, o governo do Sudão, liderado pelo chefe das SAF, General Abdel Fattah al-Burhan, opera agora a partir de Port Sudan, que sofre de falta de energia e de uma falta crónica de água potável.
A queda de Wad Medani, a sudeste de Cartum, no início deste ano, fez com que a opinião pública se voltasse contra al-Burhan e a sua gestão da guerra, havendo quem pedisse a sua substituição como chefe das SAF.
“A resistência à investida das RSF está a enfraquecer a todos os níveis,” escreveu recentemente o analista Andrew McGregor para a Jamestown Foundation. “As SAF estão altamente desmoralizadas e sofrem de elevadas taxas de fugas e deserção.”
Isso coloca a população diversificada do Sudão em risco de ser governada pelas RSF, um grupo suprematista árabe com uma história de brutalidade e ignorância dos meios de desenvolvimento, técnicas administrativas, teoria económica e relações internacionais, acrescentou McGregor.
“As outrora poderosas Forças Armadas do Sudão cometeram erros militares e políticos que aumentaram a possibilidade da sua desintegração e do colapso do Estado sudanês,” escreveu Verhoeven.
Segundo os especialistas, é pouco provável que as RSF, caso vençam, consigam restaurar o Sudão ou conduzir a um governo civil democraticamente eleito, como muitos sudaneses desejam.
“Focada no enriquecimento próprio, a liderança pouco letrada das RSF não tem um plano racional para reanimar o Estado,” escreveu McGregor. “Há poucas hipóteses de que o sucesso militar das RSF se traduza num futuro melhor para os 46 milhões de sudaneses.”