EQUIPA DA ADF
O grupo Estado Islâmico (EI) recorreu às criptomoedas para transferir dinheiro de locais como a Somália e a África do Sul para os combatentes noutros pontos do continente.
As doações privadas, conhecidas como “sadaqah” em árabe, constituem uma das maiores fontes de rendimento do EI. Embora grande parte deste dinheiro circule através do sistema informal conhecido como hawala, alguns apoiantes do EI utilizam moedas digitais como o Bitcoin ou o Tether para transferir dinheiro rapidamente e evitar a detecção por parte das agências internacionais que procuram desmantelar o financiamento do terrorismo, segundo Beatrice Berton, analista do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia.
O Counter ISIS Finance Group (CIFG) informa que a África Ocidental, sede da Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), se tornou um ponto focal para as transferências de criptomoedas. O CIFG representa cerca de 80 países e organizações internacionais que têm como objectivo o EI.
A Nigéria, onde a ISWAP opera, é o segundo maior país do mundo a adoptar a criptomoeda como moeda legal, a seguir à Índia. Os nigerianos utilizam as criptomoedas para se protegerem da instabilidade económica. O grande volume de transacções — quase 60 milhões de dólares só em 2023 — significa que o EI e outros grupos terroristas podem perder-se na confusão, dizem os especialistas.
As criptomoedas, como o Bitcoin, utilizam uma tecnologia de cadeia de blocos para verificar o seu valor e seguir o seu movimento. Os utilizadores são anónimos, mas quando um endereço de carteira de criptomoeda pode ser associado a um indivíduo, é fácil procurar no livro-razão todas as transacções associadas a esse endereço.
Os observadores dizem que o EI viu as suas finanças caírem de mais de 300 milhões de dólares quando controlava partes do Iraque e da Síria para cerca de 20 milhões actualmente. A organização tem incentivado as suas filiais africanas, como o EI-Somália e a Província Centro-Africana do Estado Islâmico (ISCAP), no leste da República Democrática do Congo (RDC), a financiar as suas próprias operações.
Têm-no feito através de uma variedade de meios, incluindo dinheiro de resgates dos raptos, extorsão e “impostos” aos residentes locais. Segundo os observadores, o EI-Somália angaria cerca de 6 milhões de dólares por ano através destes métodos. Os apoiantes do EI na África do Sul estão envolvidos num número crescente de raptos e depois canalizam os pagamentos de resgates para filiais do EI através do al-Shabaab.
O GhostSec é outro grupo que segue as finanças do EI. O grupo, que inclui piratas informáticos privados anteriormente afiliados ao grupo Anonymous, também teve como alvo as finanças do EI e descobriu milhares de dólares em Bitcoin que iam para uma conta que se pensava estar afiliada ao EI desde 2012.
Os piratas informáticos descobriram que essa conta transferiu dinheiro para outra conta Bitcoin que continha mais de 3 milhões de dólares, mas não conseguiram identificar o proprietário, segundo a Deutsche Welle.
Desde que o Bitcoin foi desenvolvido, há mais de 15 anos, as criptomoedas tornaram-se notórias como forma de efectuar transacções ilícitas, desde negócios de droga a tráfico de armas. Os defensores das criptomoedas afirmam que a pressão internacional para evitar o branqueamento de capitais acabou com grande parte do secretismo que anteriormente as rodeava.
De acordo com o PCA da Tether, Paolo Ardoino, a Tether congelou mais de 300 milhões de dólares em activos digitais como parte da sua campanha para impedir que os criminosos utilizem a sua criptomoeda. Desenvolveu medidas de segurança para proteger a sua comunidade.
“É mais fácil rastrear as criptomoedas do que o dinheiro vivo,” Ahmed Buckley, especialista em financiamento do terrorismo, disse recentemente à publicação de segurança Janes. “Mas isso não impediu esses grupos terroristas e indivíduos de experimentar, de tentar se adaptar e aprender, e ver maneiras de explorar as lacunas nos regulamentos relativos à criptografia, para reforçar as suas finanças.”