EQUIPA DA ADF
Nvou Michael tinha 15 espingardas de fabrico artesanal e 400 cartuchos de munições AK-47 quando a polícia a interceptou numa auto-estrada no Estado de Kaduna, em 2022.
O oficial de relações públicas da Força Policial da Nigéria, Olumuyiwa Adejobi, arrancou a confissão de Michael durante uma conferência de imprensa em Abuja: ela vendia AK-47s por 15.000 nairas (cerca de 20 dólares) cada a vários grupos de bandidos que assolam a região noroeste da Nigéria há mais de uma década.
“O que um homem pode fazer, uma mulher pode fazer ainda melhor,” disse Adejobi. “A suspeita especializou-se no contrabando de armas e munições para vários Estados, como Kaduna, Katsina, Zamfara e outros campos de bandidos.
“Ela conhece muitos bandidos e tem-nos ajudado a obter mais informações sobre eles.”
Nos últimos anos, bandidos fortemente armados têm dominado a região, cada vez mais com a ajuda de mulheres que traficam armas para eles.
“Vendem-nas a bandidos que nos estão a aterrorizar neste país e já chega,” disse Adejobi. “Temos de dizimar as suas actividades para que não continuem a encorajar estes criminosos.”
Entre 2018 e 2022, os ataques de grupos de bandidos aumentaram em 731%, passando de 124 para 1.031 incidentes, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, que também informou que os bandidos mataram cerca de 13.485 pessoas, entre 2010 e Maio de 2023.
Na região noroeste, os bandidos forçaram centenas de milhares de pessoas a fugir das suas residências, entre 2018 e 2020, de acordo com a Organização Internacional das Nações Unidas para as Migrações.
“Uma combinação de factores torna o noroeste da Nigéria susceptível a ataques,” Oluwole Ojewale, coordenador do observatório regional do crime organizado, no projecto ENACT, escreveu num artigo de 14 de Agosto para o Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado na África do Sul.
“Estes incluem a má gestão dos recursos de segurança, os conflitos entre pastores e agricultores, a extracção ilegal de ouro, o declínio dos meios de subsistência rurais, a má gestão das fronteiras internacionais da Nigéria, a fraca aplicação da lei e a falta de informações de segurança.”
Entre Dezembro de 2022 e Fevereiro de 2023, a polícia do Estado de Zamfara deteve várias mulheres traficantes de armas, acusadas de fornecer armas e munições a bandidos.
Umaima Abdurrahman, uma activista de género no Estado de Kaduna, disse ao projecto ENACT que a pobreza é um factor-chave que liga as mulheres ao tráfico de armas.
O recente aumento do número de mulheres envolvidas no tráfico de armas está relacionado com a recessão económica da região, que afecta desproporcionadamente as mulheres, afirmou.
Escrevendo para o ISS Africa com o investigador independente Mahmud Malami Sadiq, baseado no Estado de Sokoto, Ojewale sugeriu que o uso crescente de mulheres pelos bandidos é uma táctica que teve origem no grupo militante extremista, Boko Haram, no nordeste da Nigéria.
“Os militantes do Boko Haram têm-se disfarçado de mulheres para escapar à atenção das forças de segurança quando transportam armas,” escreveu o Dr. Freedom C. Onuoha numa análise para o Centro de Estudos da Al-Jazeera.
“Recrutam igualmente mulheres (por vezes, esposas de membros) como correios de armas. As mulheres escondem as espingardas AK-47 às costas, cobertas com os seus véus (himar).”
Na sequência da detenção de Nvou Michael, em 2022, o jornalista de investigação, Babajide Otitoju, instou a polícia a levar mais a sério as mulheres suspeitas.
“O crime não conhece barreiras, nem géneros,” disse na TVC News de Lagos. “As pessoas não querem acreditar que é possível que uma mulher chegue ao ponto de vender armas ou de canalizar armas para terroristas.
“Mas quando não lhes damos a atenção que damos a um suspeito do sexo masculino, é por isso que elas escapam. Sorriu para os polícias e eles deixaram-na ir, porque pensaram: ‘És uma mulher. És o sexo mais fraco.’ Não existe tal coisa.”