Um dia depois de o Presidente da África do Sul Cyril Ramaphosa ter declarado o Estado de Calamidade a nível nacional, devido as inundações que afectaram sete das nove províncias do país, a Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF) anunciou que irá criar uma unidade dedicada à gestão de calamidades a nível nacional.Através da unidade, o exército da África do Sul irá dirigir as respostas a calamidades. Os soldados já estavam a responder às vítimas das inundações nas províncias afectadas enquanto salvaguardavam a utilidade das infra-estruturas, disse o Chefe da SANDF, General Rudzani Maphanywa. A unidade terá os seus próprios recursos específicos para a gestão de calamidades naturais.
“Os barcos e as aeronaves que eu [actualmente] levo para responder às calamidades são os barcos e as aeronaves que foram concebidas para guerra,” disse Maphanywa numa conferência de imprensa. “Queremos ter uma equipa especializada, a qual iremos providenciar recursos para lidar principalmente com calamidades naturais quando e se for necessário responder. Penso que desta forma não estaremos a prestar mau serviço para nós próprios para o país.”
De acordo com Maphanywa, a SANDF utiliza todo o activo disponível para responder às calamidades naturais. Em meados de Fevereiro, estava a ajudar as vítimas das inundações, em Mpumalanga e KwaZulu-Natal e estava a planificar com as autoridades locais de gestão de calamidades naturais para fornecer apoio depois do estado de calamidade, comunicou o defenceWeb.
As províncias de Cabo Oriental e Mpumalanga foram as mais afectadas pelas inundações que começaram no início de Fevereiro, enquanto partes das províncias de Gauteng, KwaZulu-Natal, Limpopo, Cabo Setentrional e a província do Noroeste também ficaram inundadas. Mais de uma dezena de pessoas foram mortas, muitas outras encontram-se desaparecidas e milhares ficaram deslocadas.
Estradas danificadas e pontes destruídas dificultaram que a SANDF, o Serviço de Polícia da África do Sul (SAPS) e várias organizações fornecessem ajuda. Em algumas áreas, os pacotes de alívio foram entregues e os esforços de busca e salvamento foram realizados através de helicóptero.
O gabinete do presidente informou que o Centro de Gestão de Calamidades Naturais recebeu relatos de casas inundadas, viaturas levadas pelas águas, pontes e instalações de esgoto a transbordar, assim como danos num hospital de Limpopo. Os agricultores sofreram perdas de culturas e de gado.
“Com o fortalecimento contínuo de eventos La Niña, o país pode esperar precipitações acima do normal e temperaturas abaixo do normal ao longo das áreas onde ocorrem chuvas de Verão,” Vincent Magwenya, o porta-voz do presidente, disse numa reportagem do dia 14 de Fevereiro, do portal floodlist.com. “Quando tidas em conjunto, estas condições exigem fornecimento de abrigos temporários, alimentos e mantas para as famílias e os indivíduos desabrigados e, em larga escala, reabilitação dispendiosa de infra-estruturas.”
Situação Aterrorizante
Os sobreviventes das inundações descreveram situações aterrorizantes.
Em Mpumalanga, Khanyisile Hlekwa, de 33 anos de idade, disse que pediu socorro quando as águas entravam violentamente na casa que partilhava com os seus quatro filhos.
“Pensei que iria morrer,” disse Hlekwa à Agence France-Presse. “A altura das águas era tão elevada e estava a girar como um redemoinho. As inundações vieram de uma forma pesada através das janelas às 4 horas da manhã. Quando tentei pedir a ajuda dos vizinhos, compreendi que eles também estavam encurralados nas suas casas. Foi quando comecei a gritar, pedindo socorro.”
Hlekwa disse que o nível das águas estava acima da sua cintura quando um vizinho puxou ela e seus filhos para fora, através de uma janela, com recurso a uma corda.
No dia 23 de Fevereiro, os soldados da SANDF e mergulhadores da polícia salvaram dois homens e duas mulheres que tinham sido encontrados nas chuvas fortes quando pescavam no rio Limpopo. O grupo disse que sobreviveu, alimentando-se de peixe e bebendo água das chuvas enquanto estavam perdidos em duas pequenas ilhas, no meio do rio.
Eles foram vistos pelos soldados da SANDF que faziam patrulha na área.
Um dos sobreviventes, de nome Booi Munyai, de 54 anos de idade, disse que o grupo ficou aterrorizado quando se apercebeu que o nível das águas estava a aumentar. Eles não sabiam que tinham sido previstas chuvas torrenciais.
“Senti-me aliviado quando vi um helicóptero [do SAPS] a aproximar-se de nós,” disse Munyai ao jornal sul-africano, Daily Maverick. “O helicóptero aterrou nas duas ilhas e levou-nos para um lugar mais seguro.”
Imagens de vídeo de salvamento mostram Munyai a cair de cansaço enquanto o helicóptero parte.