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Aproximadamente cinco anos depois de terem primeiramente chegado à Líbia, os mercenários do Grupo Wagner não demonstram quaisquer sinais de que estão dispostos a abandonar o país, apesar de exigências conjuntas por parte de representantes de governos rivais da Líbia para que o façam.
Desde o cessar-fogo de 2020, que terminou com as hostilidades activas entre as facções beligerantes da Líbia, aproximadamente 2.000 mercenários do Grupo Wagner estabeleceram-se na parte central daquele país. A partir dali, eles continuaram a treinar soldados baseados no leste sob o comando do General Khalifa Haftar.
Os combatentes do Grupo Wagner centraram a maior parte das suas actividades em torno das instalações de petróleo, na região leste da província de Cirenaica, que faz fronteira com o Egipto.
O Primeiro-Ministro Interino, Abdul Hamid Dbeibah, baseado em Trípoli, chamou a presença do Grupo Wagner na Líbia de “uma apunhalada nas nossas costas.”
Os especialistas afirmam que as actuais actividades do Grupo Wagner estão a manter os padrões que estabeleceu noutras partes em África — padrões que enfatizam a extracção de recursos para o benefício de Moscovo.
“O Grupo Wagner tem a tendência de ter como alvo os países com recursos naturais que podem ser utilizados para os objectivos de Moscovo — as minas de ouro do Sudão, por exemplo, onde o ouro resultante pode ser vendido de formas que possam contornar as sanções do Ocidente,” Catrina Doxsee, uma especialista em matérias relacionadas com o Grupo Wagner, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse ao The Associated Press.
O Grupo Wagner chegou à Líbia em 2018, logo depois de outros mercenários que vieram um ano antes sob um contrato de desminagem com o governo do leste da Líbia. Os combatentes do Grupo Wagner rapidamente juntaram-se à luta do lado das forças de Haftar, incluindo a tentativa fracassada de assumir o controlo de Trípoli, a capital internacionalmente reconhecida, em 2020.
Depois da retirada de Haftar, os residentes que regressaram para as suas comunidades encontraram centenas de explosivos armadilhados da Rússia, minas terrestres e outros engenhos escondidos entre os escombros dos edifícios.
Durante o ponto mais alto dos confrontos, em 2020, os mercenários do Grupo Wagner, juntamente com os combatentes do Sudão, assumiram o controlo da principal terminal de petróleo da Líbia, em Sirte. Eles foram eventualmente obrigados a sair, cerca de um ano depois.
No início de 2021, fotos de satélite mostraram que as forças do Grupo Wagner tinham feito uma trincheira fortificada, de 70 quilómetros, do norte ao sul, para proteger a sua posição num aeródromo, próximo de Al Jufra. A trincheira passava pela principal região de exploração de petróleo da Líbia — uma tentativa, segundo os especialistas, de manter o Grupo Wagner no controlo de parte dos recursos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia um ano atrás fez com que o Grupo Wagner voltasse a destacar várias centenas de combatentes para saírem da Líbia; milhares permaneceram no país.
Com pelo menos três bases aéreas, acampamentos militares e espiões no terreno, o Grupo Wagner tornou-se uma componente fundamental para a força militar de Haftar e a sua capacidade de controlar o leste da Líbia, afirmam os analistas.
“Claramente que vocês dependem do carácter perene e permanente das pegadas da Rússia na Líbia,” analista Jalel Harchaoui, do Royal United Services Institute, disse à Al Jazeera. “Mesmo a redução, a retirada modesta de provavelmente 300 ou 400 indivíduos, não constitui o fim da missão. Não é presságio, anúncio ou agouro de capitulação.”
A presença dos combatentes do Grupo Wagner complica as tentativas hesitantes da Líbia de curar-se a si própria e realizar eleições nacionais. Essas eleições estavam originalmente programadas para finais de 2022, mas continuam à espera enquanto os líderes rivais constroem uma estrutura jurídica sob a qual poderão mantê-las.
Para além disso, a Líbia encontra-se repleta de milícias menores que apresentam lealdades que alternam para cada um dos lados da divisão política.
De acordo com William Lawrence, um antigo diplomata e especialista sobre a região, que ensina na American University, os mercenários do Grupo Wagner serve como “perturbadores” do processo político, deixando aberta a possibilidade de que o país possa retornar à guerra caso não seja capaz de resolver o seu impasse das eleições.