À medida que a violência relacionada com o terrorismo no Sahel se desloca cada vez mais para a costa da África Ocidental, um bloco económico de países da África Ocidental anunciou planos para activar uma força antiterrorista com 260.000 efectivos e um orçamento anual de 2,5 bilhões de dólares.
Omar Touray, presidente da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), anunciou a 25 de Agosto que a força de intervenção rápida fornecerá logística aos Estados da linha da frente.
“Esta iniciativa ousada tornou-se necessária, dada a dinâmica assimétrica da segurança na nossa região,” Touray disse numa reportagem do jornal online nigeriano The Cable. “Estamos conscientes do facto de que isso requer os recursos financeiros e as capacidades necessárias para se tornar realidade. A CEDEAO está, portanto, a lançar o desafio aos parceiros bilaterais e multilaterais para complementar este ousado esforço regional.”
A CEDEAO também se comprometeu a mobilizar 1.650 militares em 2026 como parte da sua Força em Estado de Alerta. A Força em Estado de Alerta faz parte de uma estratégia de segurança regional mais ampla que visa combater o terrorismo e os crimes transfronteiriços. Touray instou a União Africana e as Nações Unidas a apoiarem as operações regionais de combate ao terrorismo. Ele também reconheceu que a região é assolada por outros crimes.
“A economia de guerra alimentada pela mineração ilegal e pela tributação ilícita também está a agravar a insegurança,” disse na reportagem do The Cable.
Considerado o epicentro do terrorismo mundial, o Sahel é responsável por mais da metade de todas as mortes relacionadas ao terrorismo em todo o mundo, de acordo com o Índice Global de Terrorismo, que relatou que as mortes relacionadas ao terrorismo na região aumentaram dez vezes desde 2019.
Os grupos terroristas afiliados à al-Qaeda Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM)e Província do Estado Islâmico no Sahel (ISSP), em particular, têm expandido constantemente as suas operações para sul e oeste.
Héni Nsaibia, analista sénior para a África Ocidental no Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), observou que eles estão a visar as regiões fronteiriças entre Benin, Níger e Nigéria, onde as forças de segurança estão sobrecarregadas e os civis estão cada vez mais expostos à violência.
“O investimento do JNIM e do ISSP em actividades transfronteiriças sugere que esta região fronteiriça é cada vez mais importante para a expansão jihadista,” escreveu Nsaibia. “Os grupos têm explorado as fronteiras porosas para consolidar a sua presença e promover os seus objectivos de estabelecer proto Estados, mas também para complicar os esforços militares para conter as suas áreas de operação.”
A violência no norte do Benin atingiu o seu pior nível no dia 17 de Abril, quando o JNIM matou pelo menos 54 soldados beninenses num grande ataque duplo contra posições militares no Parque Nacional W, perto da fronteira com o Burquina Faso. Foi o dia mais mortífero de combates desde que a violência começou a espalhar-se pelo Benin em 2019. Um ataque semelhante do JNIM matou pelo menos 34 soldados na mesma área em Janeiro.
No Togo, vizinho ocidental do Benin, o JNIM matou pelo menos 54 civis e oito soldados em 15 ataques entre Janeiro e Julho. Robert Dussey, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Togo, disse à Reuters que os terroristas atacaram no norte do Togo, perto do Burquina Faso.
De acordo com o Centro Global para a Responsabilidade de Proteger, bandidos ou insurgentes mataram pelo menos 2.266 pessoas na Nigéria durante o primeiro semestre de 2025, ultrapassando o número total de mortes em todo o ano de 2024. O Boko Haram e a Província do Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) aumentaram os ataques contra civis e forças de segurança na Nigéria, sobretudo no Estado de Yobe, que faz fronteira com o Níger, e no Estado de Borno, que faz fronteira com Camarões, Chade e Níger.
Durante os ataques de 12 e 13 de Maio, os militantes do ISWAP tomaram a cidade nigeriana de Marte e sequestraram vários soldados, reforçando a sua presença ao longo das rotas de contrabando do Lago Chade. Um bombista suicida matou pelo menos 10 pessoas e feriu várias outras em Borno, no dia 20 de Junho. Os terroristas costumam atacar áreas de Benin, Níger e Nigéria onde as forças de segurança têm menos presença. Analistas afirmam que é por isso que o sucesso da nova força antiterrorista da CEDEAO é fundamental.
“Estes desafios não reconhecem fronteiras,” afirmou o Chefe do Estado-Maior da Defesa nigeriano, General Christopher Musa, numa reportagem do jornal nigeriano This Day Live. “Eles são resilientes e exigem uma resposta igualmente dinâmica, unificada e estratégica.”
A nova força da CEDEAO deve ter um quartel-general regional especializado, protocolos de treino padrão e regras de combate claras para ter sucesso, de acordo com Fidel Amakye Owusu, analista de relações internacionais e segurança. Escrevendo para o site thehibarinetwook.com, Owusu afirmou que a Costa do Marfim e a Nigéria precisarão de assumir uma parte maior das responsabilidades financeiras e logísticas da força e que a supervisão civil é necessária para manter a legitimidade democrática.
“A África Ocidental está numa encruzilhada,” escreveu Owusu. “A ameaça do terrorismo está a evoluir mais rapidamente do que nunca. A questão já não é se África pode defender-se, mas se pode finalmente unir-se para o fazer. Esta nova iniciativa militar pode ser a melhor oportunidade até agora para responder afirmativamente a essa questão.”