EQUIPA DA ADF
Em Fevereiro, as autoridades senegalesas apreenderam 805 quilogramas de cocaína no alto-mar a cerca de 530 quilómetros da costa de Dakar, num barco de pesca da Gâmbia. A apreensão resultou em sete detenções.
O navio da Gâmbia foi interceptado por agentes senegaleses em colaboração com o Centro de Análise e Operações do Atlântico, a Força Aérea Francesa e a Agência Antidroga dos Estados Unidos.
De acordo com o jornal gambiano The Point, as detenções e a apreensão foram efectuadas após uma investigação de sete meses sobre uma organização albanesa de tráfico de droga sediada em
Espanha que tem acesso a uma grande infra-estrutura marítima no Brasil. A partir daí, os navios carregados de cocaína navegam para a base da organização, no Golfo da Guiné.
O barco gambiano recebeu a cocaína de um navio maior em águas abertas, informou o The Point. Grande parte da cocaína traficada da América do Sul através de África tem como destino a Europa.
Segundo os especialistas, a produção de cocaína na América Latina atingiu níveis sem precedentes. A quantidade de droga traficada através da região é difícil de avaliar, mas alguns especialistas avaliam o negócio da cocaína na África Ocidental em 2 bilhões de dólares por ano.
Um agente da polícia da Agência para a Aplicação da Lei de Drogas da Gâmbia (DLEAG) disse ao ENACT, um índice de crime organizado, que o aumento do tráfico marítimo de cocaína no país começou no início dos anos 2000.
Em Janeiro de 2021, as autoridades gambianas fizeram a maior apreensão de cocaína da história do país, ao confiscarem quase 3 toneladas com um valor de mercado de 87 milhões de dólares no porto de Banjul. Encontraram a droga em 118 sacos num contentor que supostamente transportava sal do Equador.
“Esta apreensão é mais uma confirmação de que a Gâmbia, tal como outros países da África Ocidental, continua a ser uma rota de armazenamento e transporte de cocaína por grupos internacionais de crime organizado,” afirmou Ousman Saidybah, porta-voz da DLEAG, num relatório do The Maritime Executive.
De acordo com Michael Davies, director-executivo da Public-Private Integrity, uma organização da sociedade civil anticorrupção, o comércio ilícito floresceu na Gâmbia durante o mandato dos anteriores líderes.
“Durante a era de Yahya Jemmeh (antigo Presidente), o governo enfrentou desafios substanciais na investigação e repressão de crimes relacionados com a droga, principalmente devido a uma gestão inadequada dos processos, à falta de pessoal no sector judicial e à sobrecarga dos tribunais, e os criminosos sabiam disso,” disse Davies ao ENACT.
Apreensões como as do Senegal e de Banjul sublinham os esforços que as autoridades locais têm feito nos últimos anos para combater o contrabando de cocaína e de outras drogas na região.
A Gâmbia tomou medidas para investigar e processar melhor os crimes relacionados com a droga e aumentou a cooperação com parceiros regionais e internacionais para partilhar informações, realizar operações conjuntas, formar agentes da lei e melhorar a capacidade de detectar e interceptar embarcações de tráfico de droga, informou o ENACT.
A Gâmbia também aumentou o investimento nas agências de aplicação da lei, o que resultou em mais apreensões de droga. De Janeiro de 2021 a Abril de 2023, a DLEAG registou 1.629 casos de tráfico de droga envolvendo 1.665 suspeitos, segundo a estação de televisão gambiana QTV.
Em 2021, o país assinou um acordo com a Nigéria para combater os crimes marítimos, incluindo o tráfico de droga.
Em Janeiro, a Gâmbia assinou um acordo com o Programa de Cooperação Portuária (SEACOP), um projecto financiado pela União Europeia, que colabora com os países para desmantelar e prevenir o tráfico marítimo.
Akizi-Egnim Akala, coordenador regional adjunto do SEACOP para a África Ocidental, disse ao ENACT que o acordo se basearia no “bom trabalho” que a administração do actual Presidente da Gâmbia, Adama Barrow, “está a fazer para levar a luta aos criminosos.”
Akala afirmou que o projecto fornecerá às agências de combate à droga da Gâmbia equipamento avançado de digitalização de contentores e ferramentas de análise de dados para melhorar a sua capacidade de identificar e interceptar mercadorias ilegais.
Escrevendo para o ENACT, Feyi Ogunade defendeu que a Gâmbia deveria também criar uma força de intervenção marítima composta por agentes da polícia, da marinha e das alfândegas, dedicada à luta contra o tráfico de droga.
Depois de uma apreensão de cocaína no início de Agosto ter resultado na detenção de dois guineenses de Bissau, Saidybah, o porta-voz da DLEAG, disse que a agência está a trabalhar 24 horas por dia para combater o tráfico de droga — seja por terra ou por mar.
“Posso garantir-vos que não deixaremos pedra sobre pedra na nossa tentativa de tornar a Gâmbia uma nação livre de drogas,” disse ao The Point. “É esse o objectivo do alto comando e do governo; por isso, estamos a trabalhar nesse sentido. De igual modo, a participação do público nesta acção é fundamental. Não podemos estar em todo o lado, por isso, é importante que o público nos ajude com informações e apoio para travar as questões de droga no país.”