Plantações de Borracha Chinesas nos Camarões Destroem a Vida e os Meios de Subsistência dos Baka

EQUIPA DA ADF

O povo Baka dos Camarões tem vivido no meio das exuberantes florestas tropicais durante milhares de anos, mas recentemente viu as suas vidas destruídas pela expansão das plantações de borracha chinesas.

“Quando destruíram a floresta, estavam, na realidade, a destruir as nossas casas,” disse o ancião da aldeia Baka, Moise Ndjelee, ao Daily Maverick, da África do Sul.

Ndjelee e cerca de 100 outros Baka foram expulsos das suas residências para dar lugar à plantação de borracha Sudcam, com 450 quilómetros quadrados. Actualmente, os caçadores-recolectores vivem na pobreza e em condições de superlotação na aldeia bantu de Nyabibéte.

Sudcam é o nome comum da empresa camaronesa Sud Cameroun Hévéa, que é uma filial da China Hainan Rubber Industry Group, uma empresa pública (E.P.), que assumiu o controlo das maiores operações chinesas de borracha nos Camarões no início de 2023. Mais de 60% da borracha de Hainan vai directamente para a Ásia.

Juntamente com uma outra empresa pública chinesa, Sinochem, a Hainan Rubber converteu milhares de quilómetros quadrados de florestas tropicais em florestas exclusivamente de seringueiras, destruindo o lar e o modo de vida dos Baka.

“A mercadoria que tem mais problemas com a desflorestação é a borracha,” disse Samuel Nguiffo, director do Centro do Ambiente e Desenvolvimento dos Camarões, ao Daily Maverick. “Quando se tem uma monocultura de uma plantação, a biodiversidade desaparece.”

De acordo com a Global Forest Watch, entre 2002 e 2021, os Camarões perderam 1,8 milhões de hectares de floresta, uma área ligeiramente maior do que todo o Eswatini. Enquanto algumas terras foram destinadas ao crescimento urbano ou à mineração, grande parte dessa floresta perdida foi transformada em seringueiras.

A Sudcam desmatou 10.000 hectares entre 2011 e 2018, como parte dos mais de 45.000 hectares que desmatou no total, de acordo com o Atlas de Justiça Ambiental (EJA, na sigla inglesa).

A expansão das plantações de borracha também ameaça a vizinha Reserva Faunística de Dja, um Património Mundial da UNESCO valorizado pela sua biodiversidade e pelas comunidades indígenas que dependem da floresta. A reserva alberga 14 espécies de primatas, incluindo gorilas de montanha, elefantes da floresta, búfalos da floresta e pangolins gigantes.

A Sudcam interrompeu a sua expansão em 2018 a algumas centenas de metros do limite ocidental da reserva.

“A legitimidade desta plantação é muito duvidosa, uma vez que não há transparência sobre a forma como obtiveram a autorização para explorar essas terras,” relatam os investigadores do EJA. “Em geral, devido à corrupção generalizada, a um regime político autocrático, ao envolvimento constante do antigo poder colonial e à pouca transparência, é extremamente difícil para as pessoas dos Camarões obterem o reconhecimento dos seus direitos.”

Para os Baka, que outrora viveram no que é actualmente a terra de plantação da Sudcam, a destruição de sepulturas, locais sagrados e do seu modo de vida é irreversível.

Ao mesmo tempo que deslocam algumas comunidades Baka, os conglomerados chineses da borracha invadem outras noutras partes dos Camarões. Os protestos não são ouvidos, segundo Marie Ba’ane, directora da organização não-governamental camaronesa APIFED (Organisation d’Appui à l’Autonomisation et Insertion des Femmes, des Jeunes et Désœuvres), que traduzido significa Organização de Apoio à Autonomização e Inserção das Mulheres, dos Jovens e dos Desempregados.

“Se nada for feito hoje para preservar a área e proteger os recursos que pertencem a essas comunidades, em breve não restará nada para essas pessoas que dependem tanto da floresta,” disse Ba’ane à France 24. “A sua própria existência está agora em risco.”

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