Analistas Receiam que Golpe no Níger Encoraje Terroristas e Aumente Violência no Sahel

EQUIPA DA
ADF
 

Os terroristas da Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM) raptaram Boubacar Moussa no Níger em 2019 e obrigaram-no a combater nas suas fileiras no Mali.

Moussa estava na JNIM quando o Mali sofreu o primeiro dos seus dois recentes golpes de Estado, em 2020. Na altura, segundo ele, muitos extremistas radicais encararam o derrube do governo como uma oportunidade.

Receia agora que o recente golpe de Estado no Níger venha a aumentar o recrutamento de extremistas, possivelmente a agudizar a violência e a corroer ainda mais a estabilidade na volátil região do Sahel.

“Os jihadistas apoiam muito este golpe de Estado que aconteceu no Níger,” disse Moussa à The Associated Press (AP).

O Sahel está já a transbordar de violência alimentada pela al-Qaeda e pelo grupo do Estado Islâmico. Em 2022, 43% das mortes relacionadas com o terrorismo, a nível mundial, ocorreram nesta região. As mortes relacionadas com o terrorismo no Sahel aumentaram 2.000% entre 2007 e 2022, de acordo com o Índice Global de Terrorismo de 2023.

No entanto, o Níger não foi tão afectado por extremistas violentos como os vizinhos Mali e Burquina Faso, pois foi o único dos três países a registar um declínio da violência no ano passado, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).

Esta tendência pode inverter-se se os extremistas acreditarem que o exército maliano está dividido em relação ao golpe e tentarem alargar o seu alcance, segundo os analistas. Foi o que aconteceu depois de o Burquina Faso ter sofrido o seu segundo golpe de Estado em nove meses, em Setembro de 2022.

“Presumo que o Níger irá agora assistir a um cenário semelhante,” Ulf Laessing, director do programa Sahel, da Fundação Konrad Adenauer, que promove a democracia, disse à AP. Laessing acrescentou que o golpe de Estado irá provavelmente pôr fim ao diálogo entre os extremistas e o governo, que tinha sido iniciado recentemente.

Falando a partir do cativeiro, o presidente deposto, Mohamed Bazoum, apelou à resistência ao golpe de Estado, fazendo temer um conflito civil.

O Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, caracterizou a situação como “um teste decisivo para a democracia na África Ocidental.” Os dois países são aliados estratégicos na luta contra o extremismo violento, e Tinubu preside à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, que sancionou a junta que se arroga o poder no Níger na sequência do golpe de Estado.

Depois de terem provocado a desordem que levou à criação de governos de junta no Burquina Faso, na Guiné, no Mali e no Níger, os extremistas podem agora ter a vantagem de estabelecer uma governação rival em toda a região. No Burquina Faso, os actores não-estatais controlam actualmente mais de 40% do território do país.

Um relatório de 2021, do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais, intitulado “Reviewing Jihadist Governance in the Sahel,” constitui um dos primeiros esforços académicos a analisar a dinâmica da governação extremista na região.

O relatório refere várias características comuns aos grupos extremistas. O seu objectivo é, frequentemente, implementar a sharia pela força bruta e não reconhecem as fronteiras internacionais. Dedicam recursos à prestação de serviços civis, à justiça, à formação de quadros ideológicos e à organização de conselhos de mediação de conflitos. Procuram também atrair combatentes estrangeiros, financiamento e apoio de fontes externas.

O golpe do Níger também suscitou receios de que os mercenários russos do Grupo Wagner possam entrar na luta. Foi o que aconteceu depois de o Mali ter sofrido o seu segundo golpe de Estado em nove meses, em Maio de 2021. Em Dezembro desse ano, os homens do Grupo Wagner pisaram o solo maliano.

O caos instalou-se.

No Mali, o grupo teve civis como alvos durante ataques nas regiões de Mopti, Koulikoro, Segou e Tombuctu. Centenas de civis morreram nesses ataques, que incluíram o massacre de mais de 500 civis em Moura, na região de Mopti, em Março de 2022.

No total, 71% do envolvimento do Grupo Wagner na violência política no Mali assumiu a forma de ataques contra civis, segundo o ACLED.

A junta do Níger pediu a ajuda do Grupo Wagner no início de Agosto.

“Eles precisam do [Grupo Wagner] porque será a sua garantia para se manterem no poder,” Wassim Nasr, investigador sénior do Centro Soufan, disse à AP.

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