Enquanto a Violência no Sahel se Espalha, Nações Costeiras Apelam ao Financiamento e à Cooperação

EQUIPA DA ADF

No final de 2022, os gendarmes togoleses invadiram um restaurante num exercício antiterrorista que simulava a resposta a um ataque terrorista. Para o Togo, este tipo de formação torna-se ainda mais urgente à medida que a violência se espalha do Sahel para as nações costeiras.

O Togo foi praticamente poupado à violência extremista até ao ano passado, altura em que os ataques perto da fronteira norte começaram a aumentar.
As autoridades togolesas registaram pelo menos cinco ataques reivindicados por grupos filiados à al-Qaeda ou ao Estado Islâmico desde Janeiro. A violência
levou o governo a prolongar por seis meses o estado de emergência na região setentrional de Savanes, que faz fronteira com o Burquina Faso.

“O Presidente deu-nos instruções para tomarmos todas as medidas necessárias para garantir que possamos proteger o nosso povo, que podemos lidar com esta ameaça que está a fazer manchetes na nossa região,” disse o Ministro da Segurança do Togo, Damehame Yark, numa reportagem da Al Jazeera.
Durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em meados de Maio,

a Secretária-Geral Adjunta da ONU para África, Martha Pobee, lamentou o fracasso dos esforços internacionais, regionais e estatais de manutenção da paz para impedir a propagação da violência no Sahel.

“É necessário fazer progressos decisivos na luta contra o terrorismo, o extremismo violento e o crime organizado no Sahel,” afirmou Pobee numa reportagem da Al Jazeera. “Os efeitos devastadores da contínua desestabilização do Sahel seriam sentidos muito para além da região e do continente africano.”

Pobee apelou a um maior apoio internacional e à cooperação regional para ajudar a travar o alastramento da violência.

Esforços regionais, como a Força Conjunta G5 do Sahel, têm sido afectados pela falta de financiamento. O G5 incluía inicialmente forças do Burquina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger, mas o governo militar do Mali retirou-se da força no ano passado.

O Mali contratou mercenários do Grupo Wagner da Rússia como provedor de segurança, mas, tal como noutras partes de África onde o grupo opera, a violência contra civis está a aumentar. O grupo esteve ligado a 726 mortes de civis no continente no ano passado, de acordo com o Centro de Estudos de Segurança de África (ACSS).

Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, Eric Tiaré, secretário-executivo do G5 do Sahel, disse que os peritos militares concluíram um novo conceito de operações que será enviado à União Africana para ser aprovado.

“Dado que o Sahel se encontra numa encruzilhada, pois está a assistir a muitas ameaças à paz e à segurança internacionais, é absolutamente vital que prestemos apoio à força,” disse Tiaré. “A força precisa do que sempre lhe faltou e do que sempre procurou — isto é, financiamento e equipamento sustentáveis, à medida que procuramos combater o terrorismo.”

 

Este tipo de apoio seria oportuno, uma vez que a violência extremista matou mais de 19.100 pessoas em África, em 2022, um aumento de 48% em relação ao ano anterior, de acordo com um relatório do ACSS.

Em 2022, só o Burquina Faso registou um aumento de 400% nos incidentes violentos que envolveram sobretudo a Jamaa Nusra al-Islam wa al-Muslimin, ou JNIM, afiliada à al-Qaeda, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.

Vários analistas afirmam que um maior apoio internacional — e uma cooperação reforçada no continente — pode ajudar a travar a violência que se espalhou para outras nações da África Ocidental que fazem fronteira com o Sahel.

“O risco de contágio aos países costeiros já não é um risco, é uma realidade,” afirmou o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa reportagem da Al Jazeera. “Todos nós precisamos de identificar a melhor forma de ter um impacto no terreno.”

Michel fez os seus comentários durante a conferência sobre segurança, da Iniciativa de Acra, no final de 2022. A iniciativa, que inclui líderes do Benin, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo, concordou em reunir uma força militar multinacional para ajudar a travar a propagação do extremismo violento.

No final de Maio, os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) reuniram-se com os membros da Iniciativa de Acra, no Gana, para discutir a cooperação na luta contra o terrorismo, o extremismo violento e o crime organizado transnacional.

Durante a visita, a delegação da CEDEAO visitou a Força-Tarefa Conjunta Multinacional da Iniciativa de Acra, ou MNJTF/AI, uma componente essencial da iniciativa de Acra, para avaliar as capacidades operacionais e o grau de preparação da força. Os líderes da CEDEAO prometeram um apoio inabalável à MNJTF/AI.

Em Março, o governo dos Estados Unidos prometeu 100 milhões de dólares ao longo de 10 anos para reforçar os esforços antiterroristas na África Ocidental. Para além de contrariar as forças rebeldes, o apoio ajudará a impedir os mercenários do Grupo Wagner, cujas operações têm desestabilizado ainda mais a região, nomeadamente ao aliarem-se à junta militar do Mali, disseram as autoridades americanas.

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