Operações Mineiras do Grupo Wagner na RCA Ajudam a Rússia a Contornar Sanções

EQUIPA DA ADF

Mais de 5.000 quilómetros separam os campos de batalha da Ucrânia das minas de ouro da República Centro-Africana (RCA), mas os dois países estão ligados através do Grupo Wagner da Rússia.

Desde que chegou à RCA, em 2018, o Grupo Wagner espalhou-se para se envolver em vários aspectos da economia e do sector de segurança do país.

No processo, o Grupo Wagner ajuda a Rússia a contornar as sanções internacionais impostas após a invasão à Ucrânia, em 2022, lavando ouro e diamante da RCA para financiar o esforço bélico da Rússia.

“Desde o início, a Rússia pretendeu trocar os serviços paramilitares do Grupo Wagner na RCA por benefícios económicos e geopolíticos,” Catrina Doxsee, directora associada e pesquisadora associada do Projecto de Ameaças Transnacionais, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), disse à ADF por e-mail.

“A dimensão do seu sucesso na integração no aparelho político e de defesa do país foi provavelmente inesperada,” disse Doxsee.

A Lobaye Invest, afiliada do Grupo Wagner, apoderou-se de minas de ouro e diamante, em muitos casos, expulsando ou matando os mineiros artesanais que dependem delas. As operações mineiras relacionadas com o Grupo Wagner geram cerca de 1 bilhão de dólares por ano.

Como parte do acordo do governo da RCA com o Grupo Wagner, a exploração mineira financia as operações do grupo mercenário. O mesmo acordo isenta o Grupo Wagner do pagamento de impostos sobre os recursos que extrai, deixando os cidadãos da RCA a suportar os danos ambientais e sociais que a exploração mineira inflige.

Uma outra filial do Grupo Wagner, a Diamville, transporta ouro e diamante da RCA para outros países — geralmente no Médio Oriente — onde são convertidos em dinheiro e depositados no cofre de guerra do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, de acordo com a investigação do especialista em assuntos da RCA, Anjan Sundaram.

Inicialmente, o Grupo Wagner foi convidado a entrar na RCA para treinar os militares na sua longa campanha contra os grupos rebeldes, incluindo a Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), liderada pelo antigo presidente François Bozizé. Actualmente, porém, os mercenários do Grupo Wagner estão presentes em todos os níveis da sociedade do país.

Aconselham e protegem o Presidente Faustin-Archange Touadéra. Industrializaram a mina de Ndassima, anteriormente artesanal, para aumentar a produção. Até controlam o processo aduaneiro do país. Os 1.200 membros do grupo juntaram-se aos soldados da RCA em ataques a aldeias suspeitas de serem rebeldes, o que levou a acusações de execuções sumárias, brutalidade e violações de direitos humanos.

A propaganda do Grupo Wagner em filmes, na rádio e nas redes sociais retrata os russos como protectores e salvadores da RCA e dos seus cidadãos.

Nos últimos meses, o Grupo Wagner tem sido suspeito de tentar incendiar a cervejeira Castel, que opera há 70 anos, em Bangui, e foi acusado de ter participado no assassinato de nove cidadãos chineses na mina de Chimbolo, perto de Bambari, em Março. Em ambos os casos, os ataques parecem ter como objectivo prejudicar as empresas que concorrem com as operações do Grupo Wagner, incluindo a sua própria marca de cerveja.

O ouro e o diamante da RCA são atractivos para a Rússia, porque podem ser comercializados fora do sector bancário — uma estratégia que o Irão e a Venezuela utilizaram no passado para contornar as sanções.

“O Grupo Wagner construiu uma forte rede de empresas fantasmas em todas as suas implantações em África para explorar os recursos naturais em países como a RCA e o Sudão, e depois contrabandear os produtos em bruto para mercados pouco regulados onde pode facilmente contornar as sanções,” disse Doxsee à ADF.

Ao subverter as sanções internacionais, essas operações de lavagem estão a aumentar as tensões entre as organizações internacionais e os países que fazem a lavagem, considerou Doxsee.

Apesar do historial do Grupo Wagner no contrabando da riqueza mineral da RCA e da sua brutalidade para com os seus cidadãos, parece improvável que o governo de Touadéra corte os laços com o grupo, suspeitou Doxsee.

“A relação entre o governo da RCA e o Grupo Wagner vai para além de um contrato de segurança típico,” explicou Doxsee. “Para o governo retirar o seu apoio ao Grupo Wagner, precisaria provavelmente de uma oferta mais atractiva para cumprir as mesmas funções com uma garantia de apoio abrangente e a longo prazo.”

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