No Burquina Faso, a Violência Está Fora de Controlo

EQUIPA DA ADF
 

Mais de 4.200 pessoas foram mortas pela violência armada em 2022 no Burquina Faso.

Nos primeiros três meses e meio de 2023, a violência armada no país, alimentada por insurgentes como a al-Qaeda e o grupo do Estado Islâmico, causou cerca de 3.000 mortes adicionais, de acordo com o

Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento ou ACLED.

 

Uma rapariga

burquinabê de 12 anos chorou a morte de um vizinho, morto num recente ataque extremista à sua aldeia.

“Os jihadistas mataram o nosso vizinho,” disse ao The Economist. “Os filhos dele eram meus amigos.”

Na escola da rapariga, os alunos participam regularmente em exercícios de preparação para um ataque terrorista. Fecham as janelas, trancam as portas e escondem-se silenciosamente debaixo das suas carteiras.

Pelo menos ela tem uma escola para frequentar.

Devido aos ataques terroristas desenfreados, cerca de 200 escolas burquinabês encerram todos os meses. No extremo norte da região do Sahel, cerca de 90% das escolas estão fechadas. Segundo o The Economist, a insurgência extremista também bloqueia as principais rotas comerciais e cidades, deixando cerca de 800.000 pessoas sob constante ameaça. Os bloqueios também impedem a ajuda humanitária tão necessária.

A violência armada no Burquina Faso já matou mais de 12.000 civis e soldados e deslocou cerca de 2 milhões de pessoas desde 2015, altura em que grupos extremistas se infiltraram no país, principalmente a partir do Mali.

As mortes ilegais de civis por organizações extremistas violentas e pelas forças de segurança burquinabês aumentaram desde 2022, ano em que o país sofreu dois golpes militares. No final de Abril, assaltantes vestidos com trajes militares burquinabês massacraram pelo menos 156 pessoas, incluindo recém-nascidos, em Karma, uma aldeia no norte da província de Yatenga.

O governo, liderado pelo Capitão Ibrahim Traoré, de 35 anos, controla cerca de 40% do país. A resposta de Traoré à violência actual é mais violência, ou como ele diz, “guerra total.”

Em Abril, dois meses depois de Traoré ter ordenado a retirada das tropas francesas do país, o governo declarou uma “mobilização geral” de civis para “dotar o Estado de todos os meios necessários” para fazer face aos ataques terroristas.

“É um quadro constitucional, mais poder, mais autoridade, para criar, organizar e dirigir os meios para enfrentar o perigo,” o director da Justiça Militar burquinabê, Francois Yameogo, disse à Africanews. “Neste caso, para nós, [é] o perigo dos terroristas.”

Citando o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, do qual o Burquina Faso é membro, Yameogo acrescentou que “em caso de perigo excepcional ou de ameaça à existência de uma nação, o Estado pode tomar as medidas exigidas pela situação.”

O governo também emitiu um aviso que dá a Traoré “o direito de requisitar pessoas, bens e serviços e o direito de restringir certas liberdades civis,” informou a Africanews.

Desde que chegou ao poder, Traoré tem sido acusado de encorajar a definição de perfis étnicos, uma vez que as vítimas mais recentes de detenções arbitrárias e execuções extrajudiciais têm sido Fulani, Chrysogone Zougmoré, director do Movimento dos Direitos Humanos e dos Povos do Burquina, disse ao The Economist.

Os analistas receiam que a iniciativa de Traoré de armar milhares de milicianos, na sua maioria não Fulani, possa conduzir a uma maior polarização étnica e à violência.

“As pessoas não têm medo de me dizer na cara que vos vão matar,” Hassan Diallo, um investigador Fulani em Ouagadougou, disse ao The Economist.

Diallo disse que temia que o país estivesse a caminhar para um genocídio.

No âmbito dos seus esforços para mobilizar todos os burquinabês na luta contra o terrorismo, Traoré lançou uma campanha para recrutar 50.000 civis para os Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), pouco depois de ter tomado o poder, em Setembro de 2022. Em Novembro, o governo afirmava ter recrutado 90.000 pessoas.

Os civis seleccionados foram submetidos a duas semanas de treino militar.

Um ataque recente sublinhou o perigo de enviar civis com pouca formação para os campos de batalha da linha da frente do Burquina Faso.

No dia 15 de Abril, terroristas atacaram um grupo de soldados e voluntários civis perto da aldeia de Aorema, matando 34 membros dos VDP, seis soldados e ferindo outros 33, de acordo com um comunicado das autoridades locais.

Um relatório do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) defende que é necessário um mecanismo de acompanhamento para recolher dados sobre as acções dos VDP e avaliar a sua eficácia. Os investigadores do ISS receiam que a iniciativa de armar os civis possa ter um efeito contrário.

“O Burquina Faso poderá ver-se confrontado com milhares de civis armados sem controlo, o que agravaria a insegurança,” refere o relatório.

 

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