Grupo Wagner Exacerba Conflito no Sudão com Entrega de Armas
EQUIPA DA ADF
No dia 17 de Abril, dois dias após o início dos combates entre dois generais sudaneses rivais, um avião de carga russo Ilyushin 76, da base aérea de al-Jufra, na Líbia, dirigia-se para o Sudão.
O avião sobrevoou o canto noroeste do país e largou mísseis terra-ar e outras armas perto de Chevrolet Garrison, uma base de operações das Forças de Apoio Rápido (RSF), perto da comunidade de Karab Toum.
O voo proporcionou às RSF, controladas pelo General Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido por Hemedti, suprimentos cruciais para a sua batalha contra o General Abdel Fattah al-Burhan e as Forças Armadas do Sudão.
O benfeitor das RSF, segundo os analistas, foi o Grupo Wagner da Rússia.
Utilizando dados de satélite, o grupo All Eyes on Wagner, que segue as actividades do Grupo Wagner em todo o mundo, monitorizou o voo do Ilyushin de al-Jufra, uma base do Grupo Wagner no centro da Líbia, para uma base russa na Síria e vice-versa, seguido do voo para o Sudão. O All Eyes on Wagner trabalhou com a CNN para seguir o voo.
O avião já foi identificado anteriormente como pertencente ao Grupo Wagner e efectuou voos entre as bases do Grupo Wagner na República Centro-Africana, na Líbia e na Síria, segundo o All Eyes on Wagner.
No dia19 de Abril, as Forças Armadas do Sudão e as Forças Armadas da Líbia capturaram a base das RSF. O Grupo Wagner terá entregue mais armas num aeroporto em Merowe, a norte de Cartum, depois de as RSF o terem capturado.
Antes de as hostilidades entre Hemedti e al-Burhan se tornarem uma guerra aberta em Cartum e noutros locais, o Grupo Wagner trabalhou com ambos. Desde 15 de Abril, o Grupo Wagner tem apoiado Hemedti e as RSF.
Desde que chegou ao Sudão, em 2017, o Grupo Wagner treinou a milícia de Hemedti, baseada na região de Darfur, no oeste do Sudão. Talvez mais importante, porém, é o facto de o Grupo Wagner e Hemedti serem parceiros em operações de extracção de ouro na região.
A exploração mineira fez de Hemedti um dos homens mais ricos do Sudão. A parte do ouro do Grupo Wagner sai das minas sem ser tributada e é contrabandeada para fora do país para o Médio Oriente, onde é lavada para ajudar a financiar a invasão da Rússia à Ucrânia.
“O Sudão é, desde há muito, uma plataforma importante para o Grupo Wagner, mas também para a Rússia,” referem os investigadores do All Eyes on Wagner num artigo publicado na página de internet do grupo.
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou em 2020 os seus planos para construir uma base naval em Port Sudan, um local estratégico no Mar Vermelho. Esses planos foram interrompidos após o golpe militar de 2021 que perturbou a transição do Sudão para um governo civil.
Hemedti, que visitou Moscovo no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022, afirmou ser a favor da construção da base. Ele e al-Burhan discutiram essa possibilidade com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, durante a visita de Lavrov ao Sudão, em Fevereiro.
O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse que o grupo de mercenários vai dedicar mais energias à África e reduzir a sua presença na Ucrânia, onde já teve 30.000 vítimas, incluindo 9.000 mortos, desde o início da invasão.
No Sudão, é provável que o Grupo Wagner se mantenha afastado dos combates directos, a menos que considere que as suas operações mineiras estejam ameaçadas, segundo Samuel Ramani, um especialista russo na Universidade de Oxford.
“Diria que estão numa posição mais defensiva,” afirmou Ramani ao Independent. “Obviamente, se houver uma guerra civil e a exploração mineira de Prigozhin estiver ameaçada, assistiremos a um papel militar mais activo.”
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