Relatório: Falta de Emprego é o Principal Impulsionador do Recrutamento dos Extremistas

ADF STAFF

A África Subsaariana é o novo epicentro do mundo para o extremismo violento, e a maior parte das pessoas que se juntaram a organizações extremistas afirmou que foi motivada pela falta de emprego, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Aproximadamente 2.200 pessoas do Burquina Faso, Camarões, Chade, Mali, Níger, Nigéria e Sudão foram entrevistadas para o relatório intitulado “Jornada Para o Extremismo.” Este dá seguimento a um relatório semelhante da ONU publicado em 2017.

“Em muitos países … a falta de rendimento, a falta de oportunidades de emprego, meios de subsistência e o desespero estão essencialmente a pressionar as pessoas para tomarem as oportunidades que qualquer um que as oferece,” o director do PNUD, Achim Steiner, disse à imprensa.

Entre os inquiridos encontravam-se mais de 1.000 antigos membros de grupos extremistas violentos, como o al-Shabaab, o Boko Haram e o Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen, ou JNIM.

“Depois que o meu pai perdeu o seu emprego, eu queria apoiar financeiramente a minha família, fazendo parte de alguma coisa que realmente existe,” Hasan, um somaliano de 18 anos de idade, disse aos investigadores. “Também queria exercer poder sobre pessoas e assumir controlo na liderança para que as pessoas me pudessem respeitar.”

O segundo impulsionador mais comum do recrutamento é a pressão de membros da família ou amigos, incluindo mulheres que seguem os seus esposos para os grupos extremistas violentos, demonstrou o relatório.

A ideologia religiosa foi a terceira razão mais comum para se juntar aos grupos, citada por 17% dos inquiridos — 57% a menos em relação a 2017, quando a ideologia religiosa foi citada como a principal razão para aderir a um grupo extremista violento.

A maior parte dos inquiridos eram provenientes das zonas recônditas, com 62% tendo crescido nas aldeias, em comparação com 7% dos que cresceram nas cidades. Apenas 40% das pessoas que se juntaram voluntariamente aos grupos extremistas violentos disseram que tinham amigos de outras religiões.

A nova pesquisa demonstrou que os níveis académicos eram significativamente baixos entre os recrutas voluntários, replicando as constatações do estudo de 2017.

O relatório citou a estratégia do Boko Haram, na Nigéria, de ter como alvo jovens de camadas socioeconómicas pobres e com educação formal muito limitada. Isso ajuda a explicar a adesão aos grupos nos Estados de Borno e de Yobe, que têm as taxas de alfabetização mais baixas do país, lê-se no relatório.

No momento da adesão a um grupo extremista violento, 36% dos inquiridos afirmaram que acreditavam que a sua religião estava sob ameaça.

“Eles pregavam que, se nós nos juntássemos a eles, iríamos para o céu e que a sua ideologia é a única forma de adorar Alá,” Kurama, um camaronês de 38 anos de idade, disse aos investigadores.

A maioria dos recrutas disse que tinha conhecimento limitado sobre textos religiosos.

Depois de juntarem-se a um grupo, a maior parte deles descobriu que as suas expectativas financeiras não tinham sido satisfeitas e que não podia confiar nos líderes do grupo. Estas foram citadas como as duas principais razões para sair de um grupo extremista violento.

“Pesquisas demonstram que as pessoas que decidem desligar-se do extremismo violento são menos propensos a voltar a juntar-se e recrutar outras pessoas,” Nirina Kiplagat, técnica-chefe do PNUD em África para a prevenção do extremismo violento, disse na página da internet da organização. “É por isso que é tão importante investir em incentivos que possibilitam a desintegração. As comunidades locais desempenham um papel fundamental no apoio a formas sustentáveis para se sair do extremismo violento, juntamente com os programas de amnistia dos governos nacionais.”

O relatório confirmou que os grupos extremistas violentos em África expandiram-se desde 2017.  Aproximadamente metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo, a nível global, ocorreram na África Subsaariana, em 2021. Quatro dos 10 países mais afectados foram Burquina Faso, Mali, Níger e Somália, onde 34% de mortes relacionadas com o terrorismo ocorreram.

As mortes causadas pelo terrorismo aumentaram dez vezes mais na região do Sahel, desde 2007, afirma o relatório.

“Se nada for feito, os efeitos do terrorismo, do extremismo violento e do crime organizado serão sentidos muito mais além da região e do continente africano,” António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse no relatório.

Comentários estão fechados.