Estudo: Egipto, Sudão e Etiópia Podem Beneficiar-se da Barragem se Cooperarem

ADF STAFF

A Grande Barragem do Renascimento Etíope causa tensões entre Egipto, Etiópia e Sudão por mais de década, numa altura em que os países a jusante receiam que o megaprojecto, avaliado em 4,2 bilhões de dólares, irá prejudicar o seu fornecimento de água.

Estas preocupações aumentaram em 2020 quando a Etiópia decidiu iniciar o enchimento do enorme reservatório da barragem, no Nilo Azul, que fornece 85% do volume do Nilo enquanto flui pelo Sudão e pelo Egipto.

Um estudo feito pelos investigadores da Universidade de Manchester sugere que a barragem pode garantir electricidade para a Etiópia, controlo alimentar para o Sudão e protecção contra as secas para o Egipto — mas apenas se os países trabalharem em conjunto.

“Tudo tem a ver com compromisso,” os autores do estudo disseram recentemente à revista Nature. “O nosso objectivo é demonstrar que qualquer passo em direcção a uma cooperação adaptativa resulta em benefícios,” escreveram numa pesquisa publicada na revista Nature Climate Change.

A Etiópia está a construir a barragem, conhecida pelo seu acrónimo GERD, para gerar electricidade suficiente para fornecer corrente eléctrica para cerca de 70% dos seus 110 milhões de cidadãos. Mesmo com a demanda de electricidade a aumentar em 30% por ano, os 6.500 megawatts da barragem seriam mais do que suficientes para as necessidades da Etiópia. A corrente eléctrica adicional pode ser vendida para os países vizinhos.

O Sudão afirmou, em 2021, que estava disposto a adquirir 1.000 megawatts de corrente eléctrica da barragem, uma quantidade de corrente mais de cinco vezes maior que o Sudão já adquire da Etiópia.

Ao regular a maior parte do fluxo do Nilo, a barragem também pode prevenir inundações sazonais, como as inundações que atingiram Cartum e outras partes do Sudão, em Agosto de 2022.

O Egipto, que utiliza o Nilo para 97% das suas necessidades de água, considera a barragem uma ameaça para o seu fornecimento de água doce para os seus cidadãos e para a indústria agrária.

O Egipto também considera a barragem como sendo uma potencial arma: Se os países do Nilo se encontrarem num conflito, a Etiópia pode restringir o fluxo do rio como uma ferramenta de guerra, de acordo com Alex De Waal, director-executivo da World Peace Foundation.

Quando estiver concluída, a barragem irá reter aproximadamente 74 bilhões de metros cúbicos de água. Os investigadores afirmam que o Egipto pode beneficiar-se do enorme reservatório de águas da barragem em tempos de seca, uma vez que os padrões da temperatura em constante mudança afectam as quedas pluviométricas em toda a região.

“A princípio, em termos técnicos, a barragem é uma situação que resulta em ganhos para todos,” disse De Waal à Al-Jazeera.

Para alcançar esse ponto, contudo, é necessário que cada país tenha em consideração as necessidades dos outros.

“A formulação baseia-se no comportamento de cooperação, através do qual os países beneficiários têm em consideração os interesses um do outro, através de medidas adaptativas,” escreveram os investigadores.

Deixar que um único país maximize os benefícios do Nilo prejudica os seus vizinhos, escreveram os investigadores. Contudo, se cada país estiver disposto a sacrificar-se um pouco em prol das necessidades do outro, todos os 11 países da bacia do Nilo, incluindo os oito países do Nilo Branco, podem beneficiar-se, acrescentaram.

Até agora, os três países que são mais directamente afectados pelo projecto GERD demonstram poucos sinais de que estão dispostos a comprometer-se.

“A política doméstica de cada um destes países está fundamentada na falta de confiança, fundamentada na política textual do vencedor e na dominância do conflito. Eles têm de conversar. É necessário,” Adam Kassie Abebe, oficial de programas do International Institute for Democracy and Electoral Assistance, disse à Al-Jazeera.

As conversações que Egipto, Etiópia e Sudão tiveram nos últimos anos não produziram qualquer acordo sobre como melhor gerir a barragem. A Etiópia continuou a encher o reservatório diante da resistência dos países a jusante.

O terceiro enchimento terminou em Agosto de 2022 quando a Etiópia anunciou que a barragem estava 88% concluída. Na mesma altura, a barragem começou a gerar corrente eléctrica.

Os defensores da barragem afirmam que, como a água flui através da barragem para fazer a electricidade, ela não representa qualquer risco para os países a jusante. A longo prazo, o projecto pode fortalecer as ligações entre os países que dependem do Nilo, de acordo com os investigadores.

“Uma abordagem gradual pode ajudar a construir confiança entre os países beneficiários,” escreveram os autores do estudo, dizendo que isso pode levar a uma partilha de benefícios em toda a região.

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