AGÊNCIA FRANCE-PRESSE
A sala do hospital é arrefecida para trazer a sensação de estar-se numa toca de pangolim. O paciente, Lumbi, é alimentado por meio de uma seringa com um batido cheio de proteínas, recebe a dose diária de medicamentos e os seus sinais vitais são controlados.
Lumbi está a receber tratamentos de parasitas no sangue depois de ter sido recuperado de traficantes na província nortenha do Limpopo, África do Sul.
Ele e vários outros pangolins são pacientes no Johannesburg Wildlife Veterinary Hospital (Hospital Veterinário da Vida Selvagem), fundado em 2016 para tratar e reabilitar a vida selvagem indígena.
Eles foram confiscados de caçadores furtivos na África do Sul e nos países vizinhos, incluindo Moçambique, Namíbia e Zimbabwe.
Muitos pangolins são recuperados numa condição deplorável. Muitas vezes, precisam de cuidados médicos depois de serem mantidos em sacos e bagageiras de carros durante semanas sem comida nem água.
“É como uma UCI (unidade de cuidados intensivos) para pangolins,” disse Nicci Wright, especialista de reabilitação da vida selvagem que cuida de Lumbi.
Os pangolins são mantidos num local secreto durante o tratamento. Pode durar semanas ou meses antes de estarem prontos para serem soltos.
Os veterinários administram tratamentos padrão utilizados em outros mamíferos como gatos e cães. Na maior parte das vezes, isso funciona.
“É apenas um acto de fé cada vez que se tenta fazer algo,” disse a veterinária Kelsey Skinner, depois de dar ao Lumbi a sua dose diária de medicamentos.
Os mamíferos escamosos, que se alimentam de insectos, são solitários e nocturnos. “Eles são como pessoas. Simplesmente têm pequenas personalidades únicas. Alguns são tímidos. Não querem ser tocados,” disse Skinner. “Outros são mais extrovertidos e brincam muito na lama.”
Acredita-se que os pangolins sejam o mamífero mais traficado do planeta terra. Eles são muito apreciados por causa das suas escamas — feitas de queratina, como as unhas dos seres humanos — que são utilizadas na Ásia por causa das suas supostas propriedades medicinais.
Encontrados apenas na natureza na Ásia e África, os seus números estão a reduzir drasticamente sob a pressão de caçadores furtivos. Algumas espécies estão alistadas como estando criticamente em vias de extinção. Ninguém sabe quantas ainda existem.
Libertá-los para a natureza é um processo crucial para garantir que o mamífero em vias de extinção sobreviva depois do grande investimento colocado à disposição para o seu tratamento e reabilitação.
Eles podem ser libertos apenas para uma zona relativamente segura, como uma reserva de caça privada, bem vigiada, para evitar que caiam novamente nas mãos de caçadores furtivos.
Para além disso, o habitat tem de ser correcto. “Temos de estar absolutamente certos de que irão encontrar a comida certa, que vão encontrar as tocas,” disse Wright. “Caso contrário, irão simplesmente morrer.”