EQUIPA DA ADF
Desde o golpe de Estado militar do Sudão, há um ano, a economia do país vem enfrentando dificuldades. O economista Khaled Mohamed Ahmed acredita que os extensivos interesses empresariais do exército desempenham um papel significativo na instabilidade.
Ahmed disse à Rádio Dabanga, do Sudão, que, na sua avaliação, o golpe de Estado tinha como objectivo proteger as explorações empresariais do exército à custa da população.
Desde o golpe de Estado, em Outubro de 2021, mais de um quarto dos 39 milhões de residentes do Sudão enfrentam uma fome grave, o dobro do número típico do final daquele ano. Embora a fome antes afectasse primariamente as zonas rurais, agora expandiu-se para as cidades.
“Não temos serviços básicos, e as crianças estão a morrer por causa de malnutrição,” Ahmed Adam, um residente do leste do Sudão, disse à Rádio Dabanga. “Queremos que o governo e as organizações internacionais nos ajudem.”
Por causa do golpe, as agências internacionais suspenderam 4,4 bilhões de dólares em ajuda ao Sudão. A ajuda teria apoiado projectos do sector da agricultura, energia e águas, juntamente com 500 milhões de dólares em apoio directo ao orçamento.
Antes do golpe de Estado de Outubro de 2021, o Primeiro-Ministro Abdallah Hamdok e os seus aliados tinham começado a investigar as explorações do exército com o objectivo de desarraigar a corrupção e converter as empresas militares em empresas que pagam impostos.
Desde campos agrícolas a campos de petróleo, de acordo com algumas estimativas, o exército do Sudão controla cerca de 80% da economia do país. Em alguns casos, estes mesmos interesses económicos financiam operações militares fora do orçamento do governo.
As Forças de Apoio Rápido (RSF), lideradas pelo General Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti, assumiram o controlo da região de mineração do ouro de Jebel Amer, em Darfur, em 2017. As RSF possuem ligações com a organização de mercenários russos, Grupo Wagner, que possui operações mineiras próprias no Sudão.
Ahmed indica que, como parte da sua transição para o governo civil, Hamdok teve como plano criar uma bolsa de valores de algodão e uma câmara de comércio para impulsionar o comércio estrangeiro.
O golpe de Estado bloqueou aqueles planos.
Uma recente análise da organização não-governamental, Global Witness, concluiu que Hemedti e a sua família estão profundamente envolvidos na indústria do ouro do Sudão. O seu irmão e os seus sobrinhos são proprietários da empresa de mineração do ouro, Al Gunade. Hemedti preside o seu conselho.
O irmão de Hemedti é alegadamente o líder-adjunto das RSF, demonstrando a forte ligação entre as duas organizações.
Enquanto os líderes militares do Sudão protegem os seus próprios interesses, os cidadãos daquele país sentem a dor.
A inflação encontra-se em aproximadamente 200%, e as carências de produtos alimentares causadas pela invasão da Rússia na Ucrânia criaram maiores dificuldades na capacidade dos residentes de alimentarem as suas famílias. Na capital, o sistema de distribuição de água avariou no início deste ano, obrigando os residentes a adquirirem água de camiões-cisterna privados — se tivessem o dinheiro.
“Desde Abril, a água não flui nos canos da minha cozinha, e o Nilo situa-se a apenas quilómetros de distância,” Zahra Sharif, uma residente do bairro de al-Shigla, de Cartum, disse à Reuters, em Junho.
Os funcionários da autoridade responsável pela distribuição de água de Cartum disseram que o governo não faz a manutenção das estações de distribuição de água e da tubagem. Os cortes de energia fazem com que as bombas de água fiquem desligadas, complicando ainda mais as coisas.
Estes mesmos cortes de corrente eléctrica criam caos nas estradas de Cartum, visto que os sinais de trânsito não funcionam de forma consistente.
O golpe de Estado de Outubro de 2021 e a subsequente suspensão da ajuda tiveram um impacto significativo na economia do Sudão, o Ministro das Finanças, Jibril Ibrahim, disse à Reuters.
“Tínhamos grandes projectos na área de electricidade, irrigação e desenvolvimento rural,” disse. “E tudo isso parou.”