EQUIPA DA ADF
Cerca de um quarto das pessoas que contraem a COVID-19 desenvolvem um vasto conjunto de sintomas que os especialistas em saúde chamam de “COVID longa.”
A COVID longa compreende uma variedade de problemas de saúde, incluindo fadiga, problemas de circulação e cardíacos, dificuldades de pensar com clareza (chamada “nevoeiro cerebral”), tonturas, entre outros sintomas.
Novas pesquisas sugerem que, para algumas pessoas, a COVID longa tem muitas coisas em comum com distúrbios autoimunes crónicos como a lúpus e podem precisar de uma abordagem semelhante na sua gestão.
A chave para o problema da COVID longa parece ser o facto de que, em casos graves, os anticorpos — os compostos que o corpo desenvolve para combater as infecções — voltam-se contra os seus próprios corpos.
“Agora sabemos que, em pacientes com COVID-19 grave, muitos dos anticorpos que se desenvolvem e que são responsáveis por neutralizar a ameaça viral, ao mesmo tempo, voltam a atacar os seus próprios órgãos e tecidos,” Matthew Woodruff, da Universidade de Emory, escreveu recentemente no The Conversation.
Esses anticorpos autodireccionados, também chamados autoanticorpos, podem persistir durante meses ou até mesmo anos. Alguns autoanticorpos atacam o próprio sistema imunológico enquanto os outros atacam tecidos específicos, como o cérebro, o coração ou os vasos sanguíneos.
Isso faz com que os investigadores suspeitem que os autoanticorpos possam ser os responsáveis pelos pequenos coágulos de sangue (micro-coágulos) que se formam nos organismos das pessoas que sofrem os sintomas da COVID longa, escreveu Woodruff. Eles também podem “desligar” as principais componentes da defesa do organismo contra infecções virais.
Em termos gerais, quanto mais grave for a infecção de alguém, maiores serão as possibilidades de desenvolver as condições que produzem a COVID longa.
Um estudo envolvendo 52 pessoas com COVID-19 nos cuidados intensivos concluiu que mais da metade delas desenvolveram anticorpos associados a distúrbios autoimunes, apesar de não terem na realidade alguma doença autoimune.
Enquanto algumas pessoas produzem apenas um conjunto de autoanticorpos, outras produzem até sete tipos diferentes.
Entre as pessoas com maior nível de inflamação nos seus corpos, mais de dois terços demonstraram sinais de que os seus sistemas imunológicos estavam a produzir anticorpos que estavam a atacar os seus próprios organismos. As respostas autoimunes continuaram activas até cerca de duas semanas depois de a sua infecção pela COVID-19 ter passado.
Esses resultados são semelhantes à resposta que algumas vítimas iniciais da COVID-19 experimentaram quando os seus sistemas imunológicos reagiram à infecção e começaram a atacar os outros sistemas dos seus organismos, naquilo que os cientistas chamaram de tempestade de citocinas.
Nos primeiros dias da pandemia, os médicos descobriram que a dexametasona, um corticosteróide, podia reduzir o impacto de tais tempestades. O medicamento fazia isso ao suprir os sistemas imunológicos das pessoas que o recebiam.
Isso pode fazer com que a dexametasona seja um tratamento eficaz para pessoas que estejam a sofrer de casos graves de COVID longa, de acordo com Woodruff.
Um estudo publicado recentemente na European Respiratory Journal, uma revista mensal especializada, concluiu que 41% dos pacientes de pós-COVID ainda possuíam anticorpos no seu organismo até cerca de um ano depois da sua recuperação.
A autora do estudo, a Dra. Manali Mukherjee, professora assistente de medicina, na Universidade de McMaster, no Canadá, disse que os seus investigadores irão retomar aos pacientes, no estudo, dois anos depois de se terem recuperado para ver se eles desenvolveram doenças autoimunes reconhecíveis.
Mukherjee ainda sofre de COVID longa um ano depois de recuperar-se da sua própria infecção.
“Haverá um subconjunto de pacientes que terá um diagnóstico definitivo,” disse à NBC News.