EQUIPA DA ADF
Beatriz Otoo é processadora de peixe em Acra, Gana, há 20 anos.
Graças à presença implacável de embarcações de pesca industrial, nas águas ganesas, o seu negócio, que antes era lucrativo, agora está a afundar.
“O mercado baixou,” Otoo disse ao Ghana Web. “As pessoas não compram nem patrocinam o nosso peixe como o faziam antes, porque dizem que é caro e que a vida está difícil. Para além disso, é difícil obter peixe estes dias. Anteriormente, comprávamos peixe dos pescadores artesanais locais, mas agora os pescadores já não trazem nada. O que trazem é insuficiente para o mercado.”
Assim como muitos que trabalham nos locais de pesca ganeses, Otoo culpa as embarcações de pesca chinesas por tirarem maior parte do peixe, maior parte do qual é exportado para a Ásia. Contudo, por vezes, as embarcações chinesas envolvidas na pesca ilegal vendem o peixe às comunidades locais — a preços elevados — onde os meios de subsistência e a segurança alimentar já foram prejudicados.
Ishmael Aryee é pescador artesanal há quase 25 anos. Aryee disse ao Gana Web que as embarcações de pesca chinesas, muitas vezes, utilizam redes com tamanhos abaixo dos padrões legais, permitindo que capturem quantidades e tipos indiscriminados de peixe. Quando Aryee começou a pescar com o seu pai, eles capturavam grandes quantidades de uma variedade de peixe fresco diariamente, mas ele disse que esses dias já se foram.
O pescador artesanal Oko Aryee disse que os arrastões chineses geralmente pescam em zonas não autorizadas e utilizam luzes para atrair o peixe.
“Nesse processo, eles extraem peixe juvenil, que se devia deixar crescer mais,” disse Aryee ao Gana Web. “Posso dizer que estamos perdidos se nada for feito quanto a esta situação. Existe uma necessidade de uma solução urgente.”
Uma pesquisa levada a cabo pela Fundação para a Justiça Ambiental concluiu que 90% das embarcações de pesca industrial que operam no Gana são propriedade de empresas chinesas, muitas vezes, através de empresas fantasmas. O Gana perde 50 milhões de dólares por ano, através de acordos obscuros com empresas estrangeiras, concluiu a fundação.
Os resultados da pesca excessiva no Gana são catastróficos.
Mais de 100.000 pescadores e 11.000 canoas operam naquele país, mas o rendimento médio anual baixou em até 40% por canoa artesanal nos passados 15 anos, de acordo com a fundação.
As unidades populacionais de pequenos peixes pelágicos do Gana, como a sardinela, sofreram um decréscimo de 80% nas últimas duas décadas. Uma espécie, a sardinela aurita, já entrou em colapso total. As unidades populacionais de peixe que se vão esgotando provocaram a subida dos preços e a insegurança alimentar.
Cerca de 20% a 40% da população do Gana encontra-se em situação de insegurança alimentar, Richmond Aryeetey, um professor associado da Escola de Saúde Pública, da Universidade do Gana, disse ao Gana Web, em Outubro.
Este ano, o Gana elaborou uma nova Estratégia Marítima Nacional Integrada, que visa assegurar que o seu domínio marítimo esteja seguro e que a sua economia azul prospere até 2040.
As autoridades elaboraram a estratégia no seguimento de consultas com agências e departamentos estatais; entidades privadas locais, incluindo entidades com interesses nas pescas e no meio ambiente; actores marítimos comerciais e não comerciais; especialistas e parceiros internacionais, entre outros.
A estratégia foi desenvolvida com o apoio do Centro de Direito e Segurança Marítimas e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime e financiada pela Dinamarca.
“Isto irá marcar uma grande etapa nos esforços para criar uma economia azul sustentável,” o Presidente do Gana, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, disse numa reportagem do Business Ghana.