EQUIPA DA ADF
Meses de declínio do número de casos de COVID-19 em toda a África deram lugar ao sentido crescente de optimismo entre especialistas e profissionais de saúde.
Mas é um optimismo com precaução, atenuada por aproximadamente dois anos de um progresso conseguido com muita dificuldade.
O Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), recentemente fez uma actualização positiva sobre a pandemia global, que já matou mais de 6 milhões de pessoas.
“Ainda não estamos lá, mas o fim está à vista,” disse à imprensa durante uma conferência de imprensa virtual, no dia 14 de Setembro.
Contudo, o director interino do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) possui uma perspectiva mais cautelosa.
Quando questionado sobre a afirmação de Tedros durante a sua própria conferência de imprensa, no dia seguinte, o Dr. Ahmed Ogwell Ouma alertou que a COVID-19 continua a circular no continente e que as estirpes do vírus que estão em constante mutação representam uma ameaça contínua.
“A pandemia ainda está bem presente connosco aqui no continente,” disse.
Os países africanos registaram mais de 12 milhões de casos de COVID-19 e mais de um quarto de um milhão de mortes desde que a pandemia começou, de acordo com as estatísticas do Africa CDC até ao dia 1 de Outubro.
África do Sul, o país mais afectado do continente, registou um decréscimo no número de casos desde que experimentou uma quinta vaga da COVID-19, em Maio e Junho.
Alguns países da África do Norte viram uma quarta vaga a aparecer e a desaparecer em Julho e Agosto.
Mas o número de testes reduziu igualmente e os especialistas observam que a falta de casos registados é produto das doenças ligeiras tipicamente associadas com as estirpes da Ómicron que actualmente são dominantes.
A Dra. Matshidiso Moeti, directora da OMS para África, disse, no início de 2022, que o continente está a passar para uma fase diferente da pandemia da COVID-19.
“Acredito que estamos numa transição, saindo da fase da pandemia, e agora precisaremos de fazer a gestão da presença deste vírus a longo prazo,” disse numa conferência de imprensa.
Contudo, com mais de 1 milhão de mortes a nível mundial até agora, em 2022, a pandemia continua a ser uma emergência em muitos países.
“Esperamos que venham a existir futuras vagas de infecções, potencialmente em períodos diferentes em todo o mundo, causadas por variantes diferentes da Ómicron ou até mesmo por diferentes variantes de preocupação,” disse a epidemiologista sénior da OMS, Dra. Maria Van Kerkhove.
Enquanto a OMS enfatiza que os países mantenham suprimentos médicos, equipamentos e profissionais de saúde adequados, Ouma aponta para os sistemas de prestação de cuidados de saúde inadequados e sobrecarregados de África.
Ele também lamentou sobre a relativa falta de tratamentos e terapias preventivas, apesar de as doações e as iniciativas de fabrico estarem a aumentar mais uma vez.
Tedros equiparou a actual fase da pandemia aos últimos estágios de uma maratona.
“Agora é a altura de correr mais e garantir que cruzemos a linha e colhamos os benefícios de todo o nosso trabalho árduo,” disse.
A OMS irá reunir-se com especialistas em Outubro para decidir se a pandemia ainda é uma emergência de saúde pública de preocupação internacional.
Ao longo das avaliações da pandemia em constante mudança e independentemente dos posicionamentos optimistas ou de precaução, Ouma destaca o papel que a sua organização está a desempenhar.
“As instituições regionais como o Africa CDC são fundamentais para as intervenções bem-sucedidas em prol da segurança de saúde,” publicou no Twitter, no dia 23 de Setembro.
Ouma debruçou-se sobre aquele tópico antes da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro.
“Se não existirem instituições de saúde pública fortes antes de uma emergência, quando a emergência vem não importa quantos recursos existam,” concluiu. “Mesmo assim, enfrentam-se dificuldades.”