Mercenários do Grupo Wagner Repetem Padrão Destrutivo em Toda a África
EQUIPA DA ADF
Do sul do Sudão ao centro de Mali, as histórias são quase idênticas: homens falantes da língua russa, por vezes, acompanhados por soldados locais, entram numa comunidade, atacam brutalmente e matam os residentes.
Os falantes de língua russa pertencem ao Grupo Wagner, uma organização de mercenários que tem o apoio de Moscovo, que o presidente russo, Vladimir Putin, utiliza para adquirir influência e recursos naturais de alguns dos países mais instáveis do mundo. O Grupo Wagner é operado pelo confidente de Putin, Yevgeny Prigozhin.
“A falácia do Grupo Wagner é de que eles estão lá para garantir serviços de segurança,” Joseph Siegle, director de pesquisas do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse à ADF, numa entrevista. “Eles estão lá para manter representantes no poder e estão lá para captar qualquer que seja a receita que puderem.”
Quer estejam em busca de ouro no Sudão e no Mali, diamantes na República Centro-Africana (RCA) ou petróleo na Líbia, as operações do Grupo Wagner ajudam Putin a financiar a sua invasão à Ucrânia.
Apesar do seu pretexto de ajudar os governos a repelir rebeliões, o Grupo Wagner não tem interesse na paz, Sorcha MacLeod, do Grupo de Trabalho da ONU sobre o Uso de Mercenários, disse ao Vice News.
“Por definição, eles querem que o conflito continue,” disse MacLeod.
Sudão
Originalmente convidados para o Sudão pelo então ditador sudanês, Omar al-Bashir, o Grupo Wagner fortaleceu a sua posição depois da deposição daquele líder, em 2019, trabalhando estreitamente ligado ao General Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti, e as suas Forças de Apoio Rápido, que são acusadas de violações de direitos humanos na região de Darfur e em outros lugares.
O Grupo Wagner é acusado de atacar mineradores artesanais do ouro no sul do Sudão, próximo da fronteira com a RCA. Também foram encontrados a contrabandear ouro disfarçado de bolachas para fora de Cartum.
O apoio do Grupo Wagner a Hemedti inclui desinformação destinada a prejudicar o seu principal rival, o General Fattah al-Burhan, que dirigiu o golpe de Estado de 2021, que interrompeu a transição para o governo civil.
Contudo, a propaganda destinada a criar apoio para Rússia e para a junta obteve resultados contrários.
“Eles estão a procurar criar um ambiente pró-Putin,” disse Siegle à ADF. “Mas não aconteceu, porque os cidadãos estão fartos do governo militar.”
República Centro-Africana
O Grupo Wagner encontra-se activo na RCA desde 2018. Desde essa altura, os combatentes do Grupo Wagner atacaram comunidades em todo o país, incluindo a morte de 30 civis em finais de 2021.
Recentemente, os cidadãos da RCA comunicaram uma nova táctica do Grupo Wagner: raptar crianças para trabalharem na mineração do ouro e do diamante, para ajudar a financiar a invasão russa à Ucrânia.
Florencia Pirioua disse ao The Daily Beast, um site de notícias americano, que os soldados russos arrancaram o seu filho de 13 anos de idade, juntamente com outras crianças do sexo masculino, da comunidade de Boko-Boudeye.
“Se não aceitar, eles partem as suas mãos,” disse Pirioua, que fugiu para os Camarões.
Testemunhas disseram ao The Daily Beast que as crianças substituem os mineradores artesanais que foram mortos ou fugiram do país.
Os raptos criaram ira e ressentimento.
“Em pouco tempo, voltaremos para o nosso país para procurar os nossos filhos,” disse Pirioua. “Aqueles soldados brancos têm de trazer os nossos filhos de volta.”
Líbia
Apesar de haver relatos de que os combatentes do Grupo Wagner estão a sair da Líbia, para apoiar a invasão à Ucrânia, a maior parte dos mercenários continua naquele país, de acordo com o investigador Ferhat Polat, do TRT World Research Centre.
“O Kremlin deseja usufruir de uma parte no futuro da Líbia e precisa destes mercenários estrangeiros para manter a sua posição naquele país,” disse Polat à Al Jazeera.
Os combatentes do Grupo Wagner estão a tirar vantagem dos governos concorrentes da Líbia para manter a sua posição naquele país, Salah El Bakkoush, antiga membro do Alto Conselho de Estado da Líbia, disse ao programa “Inside Story,” da Al Jazeera.
“Não é possível falar com os russos e ordená-los que saiam do país, porque eles dirão ‘o outro governo nos quer aqui,’” frisou El Bakkoush.
Mali
Desde que o Grupo Wagner chegou, em 2021, as mortes de civis aumentaram drasticamente, de acordo com os analistas do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
“Em termos gerais, 71% dos envolvimentos do Grupo Wagner na violência política, no Mali, assumiram uma forma de violência contra civis,” comunicaram recentemente os analistas do ACLED.
O ACLED registou aproximadamente 500 mortes de civis desde a chegada do Grupo Wagner, um número que inclui o massacre de centenas de pessoas ao longo de vários dias, na comunidade de Moura, em Março.
Assim como em Moura, o Grupo Wagner e as forças malianas frequentemente atacam as populações Fulani, a quem acusam de apoiar os grupos extremistas. Estas acções causaram medo e ressentimento nas comunidades Fulani.
Assim como em outros países, a expansão da presença do Grupo Wagner no Mali exacerba outras lutas em vez de trazer paz.
“Estas decisões feitas para ajudar a junta a permanecer no poder político estão a fazer com que seja difícil lidar com a instabilidade subjacente,” disse Siegle à ADF.
Comentários estão fechados.