EQUIPA DA ADF
A luta contínua entre as forças governamentais e os rebeldes na República Centro-Africana (RCA) tornou-se explosiva com o acréscimo de minas terrestres e bombas improvisadas, colocando civis directamente expostos ao perigo.
Na mais recente demonstração de como a situação na RCA está a piorar, uma bomba na berma da estrada explodiu em Setembro por baixo de uma viatura da coluna que transportava ajuda humanitária no noroeste daquele país, matando um colaborador de uma organização humanitária.
Um estudo das Nações Unidas concluiu que mercenários russos, conhecidos como o Grupo Wagner, estão a causar o aumento da violência. As forças do Grupo Wagner estão a trabalhar com o governo da RCA sob a liderança do presidente Faustin-Archange Touadéra para acabar com uma rebelião da Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC, sigla inglesa) liderada pelo antigo presidente, François Bozizé.
O Grupo Wagner entrou na RCA em 2017 para agir como conselheiros militares e segurança de Touadéra. Desde então, os membros do Grupo Wagner aumentaram de menos de 200 para mais de 2.100, hoje dispersos em 30 bases, de acordo com um relatório do Painel de Especialistas sobre a República Centro-Africana da ONU.
Representantes do Exército da RCA disseram à ONU que não estavam a receber treinos, contrariando as afirmações dos russos, e acrescentaram que os mercenários russos operavam de forma separada das Forças Armadas da RCA.
Em vez de aconselhar, os mercenários do Grupo Wagner assumiram o comando na luta contra os combatentes do CPC. Os combatentes do Grupo Wagner acrescentaram minas terrestres antipessoais ao ambiente já volátil da RCA, violando leis internacionais e criando situações potencialmente mortais para os soldados de manutenção da paz, colaboradores de organizações humanitárias e não-combatentes.
Os primeiros relatos de minas ocorreram em meados de 2020, e os ataques com minas terrestres aumentaram drasticamente este ano, de acordo com o estudo da ONU. Em mais de 24 incidentes, desde Janeiro a Agosto, explosivos mataram pelo menos 14 civis e feriram 21. Entre os mortos encontravam-se uma mulher grávida e duas crianças. Os feridos incluem dois soldados das forças de manutenção da paz.
De acordo com a ONU, o Grupo Wagner está a utilizar o tipo de minas antipessoais que o grupo utilizou na Líbia. Naquele caso, as forças do Grupo Wagner plantaram minas armadilhadas em bairros residenciais.
Na RCA, as minas foram colocadas ao longo das estradas e do lado de fora das escolas. De acordo com especialistas em matéria de armas, as minas terrestres que estão a ser implantadas na RCA parecem ser provenientes da Líbia, onde o Grupo Wagner continua activo, do Chade e do Sudão.
Os rebeldes do CPC responderam utilizando os seus dispositivos explosivos improvisados (DEIs) para atingir as viaturas do exército da RCA e dos soldados de manutenção da paz da ONU.
“É uma tendência muito preocupante,” David Lochhead, pesquisador sénior do Inquérito Sobre Armas de Pequeno Calibre, disse à BBC. “Um DEI pode custar 35 dólares para construir e pode derrotar um veículo blindado que custa 500.000 dólares.”
As minas terrestres e os DEIs estão a tornar as estradas intransitáveis e a impedir os civis de receber ajuda proveniente dos soldados de manutenção da paz e de grupos humanitários. Os confrontos causaram mais de 1,4 milhões de deslocados.
A missão da ONU na RCA recentemente comunicou que foi obrigada a suspender os esforços de desminagem pelo exército da RCA e seus conselheiros russos.
Numa carta para Ivan Mecheten, chefe do Grupo Wagner na RCA, o Grupo de Trabalho da ONU sobre o uso de mercenários acusou o Grupo Wagner de piorar as coisas naquele país: “O envio do vosso pessoal parece ter contribuído para a rápida deterioração e intensificação das hostilidades, resultando, por sua vez, na colocação de civis em perigo e no sofrimento.”