Protestos Agitam a Monarquia em Eswatini

EQUIPA DA ADF

A raiva está em ebulição na última monarquia absolutista de África, Eswatini. Desde Maio, os manifestantes saem às ruas, exigindo uma reforma política e melhores oportunidades económicas.

Os protestos foram motivados pelo assassinato do estudante de direito de 25 anos de idade, Thabani Nkomonye. Ele morreu em circunstâncias duvidosas, e membros da sua família alegam um encobrimento policial. No dia 21 de Maio, durante um evento público realizado em memória de Nkomonye, a polícia dispersou a multidão usando carros blindados, gás lacrimogéneo e balas de borracha.

“O que vi nesse dia, nunca tinha experimentado antes. Fui pulverizado com gás lacrimogéneo enquanto estava sentado, sem motivo,” disse Bacede Mabuza, um membro do Parlamento de Eswatini, à página da internet de notícias de justiça social sul-africana, New Frame.

Desde então, continuaram os protestos e os tumultos, com muitos a clamar para que o Rei Mswati III ceda parte do seu poder. No dia 28 de Junho, milhares de manifestantes encheram as ruas das duas maiores cidades da nação, Manzini e Mbabane. O governo respondeu energicamente. Um número desconhecido de manifestantes foi baleado. As autoridades ordenaram um recolher obrigatório do pôr-do-sol até ao nascer do sol e desligaram a internet.

Rei Mswati III participa numa cerimónia tradicional em Lobamba, Eswatini. AGÊNCIA ANADOLU/GETTY IMAGES

Mswati governa o país há 35 anos. Ele nomeia a maioria dos funcionários públicos, controla um grande fundo estatal e uma fortuna pessoal estimada em mais de 100 milhões de dólares.

Mas Eswatini continua a ser um dos países mais pobres do mundo, com mais de metade dos seus cidadãos a viver abaixo do limiar da pobreza. Também tem a mais alta prevalência de HIV no mundo, com cerca de 26% da população adulta portadora do vírus.

Analistas dizem que os jovens estão a liderar os protestos em meio à raiva por taxas de desemprego dos jovens que ultrapassam 50%. Trata-se de um “conflito de gerações,” disse Chiedza Madzima, responsável pelo risco operacional na Fitch Solutions, com sede em Joanesburgo, África do Sul.

“O apelo agora, da juventude, é pela representação política num esforço para mudar um sistema que eles sentem beneficiar as poucas classes de elite no país,” disse Madzima a Quartz Africa. “Esses protestos são um verdadeiro voto de não confiança no governo.”

Depois de décadas de pouca ou nenhuma mudança no país, esses protestos podem estar a causar impacto. Três parlamentares exigiram publicamente que o primeiro-ministro da nação fosse escolhido pelo voto do povo, e não pelo rei. A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral enviou uma missão exploratória para Eswatini, em busca de uma “solução duradoura” para a agitação, e o Departamento de Estado dos EUA apelou às autoridades de Eswatini para “exercer contenção” e “respeitar os direitos humanos.”

Numa rara divergência com o seu vizinho, o Congresso Nacional Africano, da África do Sul, criticou o governo de Eswatini por deitar “lenha na fogueira” com a sua resposta desproporcionada aos protestos. O ANC pediu ao rei para “resolver as legítimas preocupações da população civil.”

Mswati está a tentar responder. Durante um encontro público anual, conhecido como Sibaya, ele anunciou um fundo de 35 milhões de dólares para reparar os danos causados pelos protestos. Também nomeou um novo primeiro-ministro. Contudo, denunciou os protestos como “satânicos” e disse que estes estavam a arrastar o país para trás.

Por seu turno, os manifestantes disseram estar determinados para manter a pressão até verem uma mudança significativa.

“Exigimos uma democracia multipartidária agora,” disse o manifestante Melusi Dlamini à página da internet News24, da África do Sul. “O tempo do sistema real, caracterizado pela ditadura, chegou ao fim.”

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