Lesotho Flying Doctors Lutam Contra a COVID-19

EQUIPA DA ADF

Enquanto faz a descida íngreme para a aldeia de Lebakeng, na sua aeronave Cesana, de seis lugares e com motor único, o piloto Grant Strugnell analisa a pista para verificar se existem animais antes de aterrar.

A pequena pista de aterragem, coberta de capim, erva daninha e flores, está empoleirada numa colina estreita com montanhas que sobem para o Oeste, do lado oposto de uma descida íngreme, em direcção a um vale, na parte leste.

Não há aterragens fáceis quando se voa para povoados remotos e montanhas adentro do Reino do Lesoto, mas esta missão é essencial.

Esta aeronave transporta vacinas que salvam vidas e que protegem contra a COVID-19.

Strugnell, um sul-africano descontraído e habilidoso, que vive na capital do Lesoto, com a sua esposa e filha, é um dos cinco pilotos que transporta o Lesotho Flying Doctor Service (LFDS) para mais de 20 pistas de aterragem feitas em terreno acidentado.

“Cada voo, cada aterragem, é gratificante,” disse o homem de 36 anos de idade à ADF, “saber que está a alcançar os lugares mais remotos do país com vacinas e apoio de cuidados médicos que salvam vidas.”

Normalmente, a Flying Doctors garante cuidados de saúde essenciais para aproximadamente 300.000 pessoas que vivem nas montanhas. Os residentes das aldeias dependem dos profissionais de saúde que servem em 10 clínicas das zonas rurais, dois postos de saúde avançados e quatro hospitais distritais por cerca de uma semana de cada vez.

A pandemia, contudo, mudou as prioridades.

A segunda vaga atingiu o seu pico em Janeiro, quando mais de 5.000 infecções foram confirmadas e o número de mortes foi mais de três vezes superior. Até ao dia 26 de Junho, o país teve 11.239 casos e 329 mortes, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.

Será que a doença pode alcançar as aldeias mais remotas das montanhas?

“Claro que sim, irá chegar aqui, porque aqui vivem seres humanos,” residente da aldeia de Kuebunyani, Frank Molefi, de 77 anos de idade, disse ao canal da British TV, Sky News, no início de Junho.

O terreno é apenas um desafio em termos de logística no combate à propagação.

“Em alguns lugares, quando os voos que transportam as vacinas aterram, são necessários outros 45 minutos de caminhada para se chegar à clínica,” disse Strugnell. “Os que precisam de vacinas, muitas vezes, caminham durante horas para chegar à clínica, vindo das suas aldeias.

“Então, se tivermos um dia em que atrasamos por causa do tempo, podemos estar a fazer com que as pessoas tenham um dia extra de caminhada, quando chegam à clínica e descobrem que não conseguimos chegar no dia planificado.”

Contudo, a maior barreira está na obtenção das doses.

“O Lesoto apenas foi capaz de vacinar profissionais de saúde e trabalhadores da linha da frente até agora,” disse Strugnell. “Precisamos de muito mais para somente começar a criar algum impacto na população em geral.”

Mampho Leleka, uma enfermeira administrativa do LFDS, disse que ela “não está confortável com a o ritmo lento de implementação.

“Não é justo para ninguém,” disse à Sky News. “Precisamos de implementar a vacinação quanto mais rápido possível, porque a pandemia está a matar pessoas.”

O Lesoto fez o lançamento da Flying Doctors em 1980 para ajudar os cidadãos que vivem em aldeias distanciadas em meio as cordilheiras íngremes e nos vales que cruzam a paisagem.

Os serviços iniciaram os programas de prestação de cuidados nas zonas rurais e trazem regularmente produtos alimentares, combustível e medicamentos para as zonas vulneráveis. As equipas de visitas de saúde do LFDS incluem um médico, um dentista, um técnico de farmácia e um enfermeiro de saúde pública.

Os pilotos trabalham sete dias por semana para voos programados e de emergência. Eles são fornecidos pela instituição de caridade sediada nos EUA chamada Mission Aviation Fellowship, que opera 130 aeronaves em 30 países.

O seu trabalho arriscado é uma vocação.

Lesoto é o único país do mundo que se encontra situado totalmente acima dos 1.000 metros em termos de elevação. Aterragens abortadas são comuns por causa dos fortes ventos de cauda, ventos laterais e descendentes.

“As pistas de aterragem localizadas em zonas montanhosas deixam-nos ansiosos,” disse Strugnell.

Achatar a curva da COVID-19 é excepcionalmente difícil num dos países com maior número de regiões montanhosas do mundo, mas os médicos, enfermeiros e pilotos do LFDS estão a fazer exactamente isso.

“Não consigo parar de elogiá-los,” disse Strugnell. “Temos muitos enfermeiros provenientes do Lesoto, que vemos, mas também provenientes do Zimbabwe e de outros países africanos, que são tão dedicados e que vivem nas clínicas das montanhas por muitas semanas a servirem as pessoas.

“São verdadeiros heróis e não recebem créditos suficientes.”

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