EQUIPA DA ADF
Numa altura em que alguns países africanos enfrentam uma terceira vaga de infecções pela COVID-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e um consórcio de empresas farmacêuticas concordaram em desenvolver o tipo de vacina que já demonstrou ser a mais eficaz contra o vírus.
A África do Sul será o lugar onde se localizará um centro de transferência de tecnologia concebido para edificar a capacidade do continente para a produção das suas próprias vacinas, utilizando o RNA mensageiro (mRNA), a tecnologia que está por detrás das vacinas contra a COVID-19 altamente eficazes da Pfizer e da Moderna.
O centro também irá preparar África para lidar com qualquer futura epidemia ou pandemia, afirmam os defensores.
“Esta iniciativa histórica é um avanço significativo no esforço internacional para desenvolver as vacinas e aumentar a capacidade de fabrico que irá colocar África num caminho para a autodeterminação,” presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse num comunicado.
Se tudo acontecer conforme o planificado, o centro de transferência pode começar a produzir vacinas em nove a 12 meses, de acordo com a OMS.
África importa 99% de todas as suas vacinas. O surto da COVID-19 deixou o continente dependente de outros países para produzir vacinas, como as does da AstraZeneca, fornecidas através da facilidade internacional COVAX.
O surgimento da variante Delta, na Índia, no início deste ano, fez com que aquele país suspendesse as exportações de vacinas produzidas no Instituto Serum da Índia, incluindo milhares de doses que estavam destinadas para África. Em alguns países, esta paralisação deixou os africanos com vacinações incompletas. Em outros, os sistemas de saúde ficaram com vacinas com prazo de validade vencido e nada para substitui-las.
Os centros de transferência de tecnologia são instalações de formação em que uma tecnologia é estabelecida a uma escala industrial e onde é realizado o desenvolvimento clínico. De acordo com o plano da OMS, a Afrigen Biologics and Vacines servirá como um centro de fabrico para vacinas mRNA.
A Afrigen irá partilhar os seus conhecimentos com outros produtores africanos de modo a aumentar a capacidade do continente, incluindo a Biovac, uma empresa farmacêutica formada em 2003, em parceria com o governo sul-africano, para criar capacidade local para o fabrico de vacinas.
O programa vai para além dos actuais acordos entre as empresas africanas e os produtores de vacinas, como Johnson & Johnson, para produzirem vacinas em instalações africanas. Nesses casos, as empresas africanas enchem os frascos e empacotam as vacinas que foram produzidas em outros lugares.
O Centro de transferência de tecnologia da Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda tem de garantir acordos com produtores de vacinas mRNA para partilhar a sua tecnologia e obter uma renúncia do acordo da Organização Mundial do Comércio em relação aos aspectos ligados aos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio.
“A importante parceria público-privada é um passo significativo para criar uma infra-estrutura e capacidade de recursos humanos para contribuir para fechar a lacuna do acesso às vacinas no continente,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse na reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento, no passado mês de Junho.
Na mesma reunião virtual, o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que produzir tecnologias de vacinas no continente é de grande importância para fortalecer a resposta africana para futuras crises.
“O Ébola foi um sinal,” disse Nkengasong durante a reunião virtual. “Podemos também olhar para a COVID-19 como uma indicação de que algo mais grave virá se não fortalecermos as nossas defesas de saúde.”