EQUIPA DA ADF
Cerca de 2 anos e meio atrás, o professor James Larkin estava a almoçar com amigos num restaurante mexicano aconchegante em Joanesburgo quando veio ao de cima o assunto da caça furtiva do rinoceronte.
Parte do comércio ilícito da vida selvagem, que movimenta milhares de dólares, o chifre do rinoceronte tem um valor superior ao do ouro. Apesar de não ter qualquer valor medicinal, é considerado um ingrediente potente na medicina tradicional chinesa.
“James, porque não aplicas a radiação neles?” perguntou um dos seus amigos, sabendo que Larkin é director da Unidade de Radiação e Física da Saúde, na Universidade de Witwatersrand, África do Sul.
Aquela sugestão levou ao Rhisotope Project, que se tornou realidade no dia 13 de Maio de 2021.
Larkin injectou um aminoácido com quantidades mínimas permissíveis de isótopos não radioactivos e inofensivos nos chifres de dois rinocerontes de 1,5 tonelada, chamados Denver e Igor, numa reserva de caça privada a cerca de 1.000 quilómetros a sul de Joanesburgo.
A primeira fase do projecto é testar a segurança dos animais. Os isótopos radioactivos serão utilizados depois que a equipa determinar a dosagem correcta.
“Seria muita arrogância dizer que esta é a solução,” disse à ADF. “Mas acredito que isto ajudará muito na redução da caça furtiva e no contrabando de materiais da vida selvagem.”
Larkin recorda com carinho aquela pergunta inocente numa conversa acompanhada de comida mexicana.
“Deve ter havido alguma bebida alcoólica envolvida,” disse com um sorriso na cara.
A ideia era de fazer com que os chifres de rinoceronte fossem radioactivos com uma quantidade que não fosse prejudicial para o animal mas que pudesse desvalorizar o chifre como uma mercadoria.
A ideia não era completamente maluca. Outras medidas de combate à caça furtiva chegaram a incluir envenenar, pintar ou mesmo retirar os chifres.
O conceito continuou na mente de Larkin. Eventualmente, disse, a sua formação em matérias de segurança nuclear entrou em cena.
Colocar uma pequena quantidade de material radioactivo no chifre faria com que fosse facilmente detectável para os 10.000 a 11.000 monitores de radiação que já se encontram instalados nos portos de entrada em todo o mundo. Iria também acrescentar a acusação de terrorismo ao crime de tráfico.
“Muitas vezes, o contrabandista não faz contrabando de chifre de rinoceronte apenas, mas junta uma remessa completa de bens ilícitos,” disse Larkin. “Se o detector for activado, isso resultará na captura e na perda de todos esses bens.”
Desencorajar os usuários finais de ingerirem o pó do chifre de rinoceronte também fez sentido. Qualquer coisa para salvar um animal querido em vias de extinção.
A África do Sul alberga 90% da população de rinocerontes do mundo. De 2010 a 2019, mais de 9.600 rinocerontes foram mortos por caçadores furtivos na África do Sul. Sobraram apenas cerca de 16.000.
O Parque Nacional Kruger alberga a maior população de rinocerontes do mundo, mas os números reduziram em 59% desde 2013. Sobraram apenas 3.529 rinocerontes-brancos e 268 rinocerontes-negros, de acordo com um relatório recente feito pelos Parques Nacionais da África do Sul.
“Estes números chocantes confirmaram os nossos piores receios quanto ao número de rinocerontes no Parque Nacional Kruger,” disse Cathy Dean, PCA da Save the Rhino International. “Os rinocerontes do Kruger sofreram imensamente desde que a crise da caça furtiva tomou o país, em 2008. Agora estamos a testemunhar a escala devastadora e completa do problema.”
Injectar Denver e Igor foi o primeiro passo do Rhisotope Project — o estágio onde se vai “provar o conceito.” Os rinocerontes serão alvo de monitoria nos próximos três meses para detectar se os isótopos passam para os seus corpos.
Larkin espera poder apresentar um conceito viável no Dia Mundial do Rinoceronte, 22 de Setembro — dia do seu aniversário. A partir daí, o trabalho será oferecido aos proprietários de rinocerontes estatais e privados do continente e do mundo.
Larkin pretende dar a qualquer organização de conservação, que quiser utilizar a técnica, o seu direito de propriedade intelectual, formação e apoio gratuitamente.
“Temos como meta ter a maior parte do trabalho concluído até ao final do ano,” disse. “É uma grande exigência, mas, dado o interesse demonstrado e as ofertas de cooperação, pode ser bem possível.”