EQUIPA DA ADF
A propagação da desinformação sobre a COVID-19 é tão generalizada que a Organização Mundial de Saúde (OMS) caracterizou-a como sendo uma “infodemia.”
Trolls online têm utilizado as redes sociais e aplicativos de envio de mensagens para inundar o continente africano com teorias de conspiração, falsas curas e mensagens anti-vacina desde que a pandemia começou.
“A desinformação pode matar e garantir que a doença continue a propagar-se,” disse a directora regional da OMS para África, Dra. Matshidiso Moeti. “As pessoas precisam de factos comprovados, baseados em ciência, para poderem tomar decisões informadas sobre a sua saúde e bem-estar, e o excesso de informação — uma infodemia — com desinformação à mistura, faz com que seja difícil saber o que é correcto e real.”
Enquanto a OMS formou uma aliança para lutar contra a desinformação, um artigo na página da internet da The Conversation, uma organização jornalística sem fins lucrativos, detalha as formas através das quais os países africanos podem transmitir de forma eficaz a informação sobre a COVID-19 e lutar contra a desinformação.
O artigo, da autoria de um médico nigeriano, um professor zimbabwiano de desenvolvimento e agronegócios e um outro especialista da área, oferece seis lições aprendidas de campanhas anteriores contra a desinformação:
- Disseminar informação exacta quanto mais rápido possível. Isto é importante porque estudos demonstram que as pessoas guardam as opiniões de forma firme logo que a mesma é formada.
- Destacar o trabalho inovador dos cientistas africanos. Os inovadores do continente produziram ventiladores de baixo custo, kits de diagnóstico caseiros e pesquisas importantes sobre a vacina. Mostrar estas soluções produzidas internamente é uma forma importante de combater as teorias de conspiração sobre a medicina estrangeira.
- Os mensageiros de informação sobre a COVID-19 devem reflectir a diversidade do continente. Os cientistas africanos devem envolver o público através das redes sociais e partilhar a informação por meio de uma linguagem fácil de compreender.
- Fazer o uso da infografia e de fotografias de alta qualidade para disseminar informação válida, tal como fazem os que disseminam a desinformação. Fotografias de políticos e celebridades recebendo vacinas podem edificar a confiança entre o público em geral. Os presidentes de Gana, Nigéria, Serra Leoa e África do Sul foram fotografados a receberem vacinas logo que as mesmas foram entregues.
- Focalizar-se em mensagens simples de que as vacinas salvam vidas, vai reduzir o sofrimento económico, e elas são o único caminho para a retoma à normalidade.
- Combater a desinformação logo que ela surgir. Isto requer um esforço contínuo, porque as novas teorias de conspiração são criadas de forma contínua. O activista queniano, Nelson Kwaje, faz isto de forma rotineira, através de uma organização que também combate o incitamento ao ódio através da internet. Kwaje disse à Al Jazeera que teve de desmistificar a ideia de que consumir cebola, tomar chá sem açúcar ou ingerir bebidas alcoólicas pode manter as pessoas livres do vírus.
Para compreender a desinformação, os profissionais de saúde devem fazer o esforço de ler o que existe por aí, para que possam estar preparados para combatê-la. Eles devem também reconhecer que as mensagens precisam de ser personalizadas para comunidades específicas dentro de um país.
“É importante que procuremos compreender quais são os problemas em cada ambiente; não devemos assumir nada,” Charles Wiysonge, director da Cochrane South Africa, no Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul, disse num artigo publicado no The Lancet. “Embora possamos ter sensibilização sobre a [vacina] para todos, para populações específicas, talvez possamos precisar de intervenções adicionais diferentes.”
Os profissionais de saúde também devem ver isso como uma oportunidade valiosa para educar o público sobre a importância das vacinas.
“Penso que a desinformação acontece em parte porque, a princípio, as pessoas não possuem realmente a informação correcta,” Susan Goldstein, directora-adjunta do Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul/Centro de WITS em Ciências de Saúde, Economia e Decisão, disse ao The Lancet. “Como espécie humana, ainda não celebramos as vacinas como uma das maiores ferramentas de prevenção que temos para a saúde.”