Além Do Cumprimento Das Obrigações

As Mulheres Das Forças De Defesa Do Lesoto Cuidam Das Suas Comunidades

CAPT. NOLUKHANYO NDLELENI, FORÇAS DE DEFESA DO LESOTO

As mulheres são uma parte crucial das Forças de Defesa do Lesoto (LDF). Elas perfazem cerca de 16% do pessoal uniformizado, ocupam postos que vão desde os níveis iniciais até ao de brigadeiro. Mas as mulheres não trabalham apenas em “serviços de apoio” militar. Elas também são destacadas para combates, e uma grande maioria trabalha em batalhões da infantaria. Para além das suas muitas obrigações nas LDF, elas demonstram serviço abnegado que vai para além do serviço militar, melhorando as vidas das pessoas na comunidade, especialmente das crianças.

O país de 30.000 quilómetros quadrados e cerca de 2 milhões de habitantes tem poucas preocupações com a segurança global, mas as LDF lidam com muitas questões domésticas de segurança. A sua principal função é proteger a integridade territorial e a soberania do país, enquanto também defendem a Constituição. As obrigações do dia-a-dia das LDF incluem a patrulha da fronteira com a África do Sul. Os soldados ficam atentos a certos pontos de foco para prevenirem a travessia ilegal de gado e roubo de animais de criação, bem como contrabando de armas de fogo e canabis sativa. A força também garante a segurança em instalações públicas tais como barragens.

Guarda cerimonial exclusivamente de mulheres das LDF marcha no Aeroporto Internacional de Moshoeshoe 1, em Maseru, em Agosto de 2019. GABINETE DE RELAÇÕES PÚBLICAS DAS LDF

As LDF desempenham papéis secundários de dar assistência a outros ministérios governamentais. Durante catástrofes naturais, como fortes tempestades de neve, as LDF trabalham com as Autoridades de Gestão de Calamidades do país para ajudar cidadãos vulneráveis. Além disso, os que têm mais de 70 anos de idade têm direito a uma Pensão de Velhice paga mensalmente, que é desembolsada em cerca de 300 locais de pagamento em todo o país. As LDF fazem a entrega do dinheiro nos pontos de pagamento por via aérea e garantem a segurança.

Recentemente, o pessoal das LDF participou em esforços da COVID-19, testando cidadãos nacionais Basotho, que regressavam da África do Sul e de outras partes do mundo, maior parte dos quais utilizando pontos de travessia de fronteira não oficiais. Os soldados também garantem a segurança em instalações de quarentena.

O produto interno bruto per capita do Lesoto está estimado em 3.319 dólares, que é relativamente alto para um país em vias de desenvolvimento. Mas a distribuição da riqueza é muito desigual. Uma das principais repercussões desta desigualdade é a alta prevalência da pobreza no país. Cerca de 57% da população vive abaixo da linha da pobreza.

Por causa destas realidades demográficas, o Lesoto precisa de pessoas que podem pensar fora da caixa, pessoas que estão dispostas a servir em vez de somente querer ser servidas. As mulheres das LDF decidiram fazer uso do seu espírito de luta para trabalhar para além dos limites das suas obrigações regulares.

INSPIRADAS PARA AGIR

Um incidente trágico serviu de inspiração para que estas mulheres assumissem uma nova missão: a de ajudar as pessoas mais vulneráveis do país — as suas crianças órfãs.

Foi em 2010 quando uma mulher particular nas LDF, mãe de um menino, foi morta pelo seu parceiro. Depois da sua morte, o seu filho não tinha outros membros da família que o cuidassem, mas em pouco tempo foi adoptado. Quando as mulheres soldados contemplaram a tragédia deste evento, sugeriram formas de prestar apoio a famílias que cuidavam de órfãos. Criaram um sistema para evitar a recorrência do evento, fornecendo às mulheres soldados uma forma de procurar aconselhamento quando sofressem algum abuso. As mulheres soldados procuraram olhar para além do caso único de 2010 para procurar casos semelhantes e trouxeram assistentes sociais para a equipa de modo a ajudar as mulheres em serviço.

Todas as mulheres, excepto as que estavam no treinamento de recrutas, participam cuidando de órfãos e crianças vulneráveis no país. Elas o fazem angariando fundos e realizando doações desses fundos para as crianças, assim como doando bens pessoais, tais como absorventes higiénicos, roupas, material escolar e outros itens.

Através dessas contribuições mensais, as mulheres soldados e oficiais estão determinadas a lidar com questões socais da comunidade, tais como a pobreza, o analfabetismoe a alta incidência de crianças deixadas órfãs por causa do HIV/SIDA, entre outras situações. Uma das formas que as mulheres usam para angariar fundos para apoiar as crianças é através de actividades conhecidas como Mokhibo, uma dança tradicional feminina executada em grupo e de joelhos em celebrações. As mulheres executam esta dança e cobram as entradas para angariar fundos. Também aceitam roupas e outros donativos nos seus eventos.

As mulheres realizam outra dança tradicional dos Basotho chamada litolobonya, uma forma de canção e dança exclusivamente para raparigas e mulheres casadas. A versão das raparigas de litolobonya pode ser executada em lugares abertos e assistida por qualquer pessoa. A versão para mulheres, contudo, é altamente secreta e executada apenas por aquelas que já deram à luz filhos nascidos vivos e apenas em frente de outras mulheres numa apresentação conhecida por pitiki.

As mulheres das LDF apresentam a dança tradicional dos Basotho, conhecida como Mokhibo, num dia em que ofereceram contentores de roupas e materiais aos órfãos que elas têm apoiado. GABINETE DE RELAÇÕES PÚBLICAS DAS LDF

As mulheres das LDF aceitam doações em dinheiro e bens. Os órfãos recebem artigos de primeira necessidade todos os anos, tais como material escolar, roupa, alimentos, entre outros donativos. Os órfãos de pessoal militar podem aceder a serviços de saúde através do Hospital Militar de Makoanyane. Até então, todo o apoio tem vindo dos salários de mulheres soldados das LDF e pagamento de bilhetes para as entradas nas actuações de dança. Nenhum financiamento externo já foi usado até então.

Por quanto tempo estes esforços irão continuar, sendo que é algo que é feito por bondade e não dentro dos parâmetros das obrigações normais? Estas mulheres demonstraram serviço abnegado, disciplina, compromisso e dedicação para aquilo que é positivo. Também criaram uma forma de garantir que os seus esforços sejam geridos de forma adequada. A sua iniciativa tem uma estrutura sólida e um comité de 14 membros para supervisionar os seus esforços. O comité é composto por mulheres soldados das LDF e uma civil da secção de contabilidade. Existe uma presidente, a sua vice-presidente, uma secretária, duas tesoureiras, uma oficial de relações públicas e oito membros que representam várias unidades das LDF.

As mulheres têm tido apoio incondicional do comando superior das LDF. A natureza do seu trabalho humanitário exige que se afastem das obrigações regulares periodicamente, e os comandantes as têm apoiado, permitindo esta flexibilidade. Em 2019, o comandante das Forças de Defesa do Lesoto, Tenente-General, Mojalefa Letsoela, distribuiu presentes em nome das mulheres, durante a celebração do Mês da Mulher Africana, demonstrando o seu apoio aos esforços das mulheres soldados.

Estas mulheres demonstraram não apenas amor, mas amor sacrificial pelo país e pela sua população mais vulnerável. Um verdadeiro soldado coloca a segurança dos outros em primeiro lugar. Os esforços destas mulheres soldados passam despercebidos na maior parte das vezes. O facto de que elas dedicaram as suas vidas para o bem-estar dos outros é algo inspirador. Elas merecem ser aplaudidas por fazerem mais do que o seu dever, sacrificando as suas finanças e o seu tempo para lidar com estas questões sociais importantes.

Embora tenha sido um pequeno começo, estes esforços cresceram para ser algo de que as mulheres das LDF — e de todo o Lesoto — possam se orgulhar.  

Sobre a autora: Capt. Nolukhanyo Ndleleni é membro das Forças de Defesa do Lesoto desde 2003. Ela fez a formação para cadetes em 2009-2010, na Academia de Treino de Oficiais da Índia, onde recebeu um prémio de melhor aluna internacional e muitos outros. Possui o grau de Mestrado em Administração de Empresas, pela Wits Business School, em Joanesburgo, África do Sul, e é aluna de doutoramento na mesma escola, com um foco em investimentos sociais militares. É casada e tem dois filhos.

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