África Pagará Mais pela Vacina Russa
EQUIPA DA ADF
Apesar de orgulhar-se do facto de a sua vacina Sputnik V, contra a COVID-19, ser acessível, a Rússia irá cobrar a União Africana três vezes mais do que esta paga pelas vacinas da Oxford-AstraZeneca e Novavax, de acordo com uma reportagem recente do jornal Financial Times.
Num comunicado de imprensa, de Novembro de 2020, o PCA do fundo de riqueza soberana da Rússia, que comercializa a vacina no exterior, elogiou a Sputnik V por ter “um preço que é duas vezes inferior do que o das outras vacinas com mesma taxa de eficácia.”
Os recibos da União Africana dizem o contrário.
A equipa de aquisição da vacina da UA anunciou, no dia 19 de Fevereiro, que a Rússia tinha feito a proposta de um pacote de financiamento de 300 milhões de doses ao preço de 9,75 dólares cada. São necessárias duas doses por cada pessoa.
Citando fontes que conhecem o aprovisionamento da vacina da UA, o Financial Times comunicou, no dia 25 de Fevereiro, que a AstraZeneca e a Novavax irão cobrar a UA 3 dólares por dose, enquanto a Pfizer cobrará 6,75 dólares por dose e a Johnson & Johnson cobrará 10 dólares pela sua vacina de dose única.
Desde o começo, o desenvolvimento da vacina da Rússia foi visto como tendo sido apressado e foi encarado com cepticismo.
O presidente Vladimir Putin declarou, em meados de Agosto de 2020, que a Rússia se tinha tornado no primeiro país do mundo a aprovar uma vacina contra a COVID-19. Mas cientistas condenaram aquela decisão pelo facto de os ensaios em grande escala para testar a segurança da vacina não terem sido concluídos, e os ensaios iniciais incluíram apenas 76 participantes em dois hospitais.
“Esta é uma decisão imprudente e tola,” disse o geneticista do Colégio Universitário de Londres, Francois Balloux, num comunicado, naquela ocasião. “Não é ético implementar vacinações em massa com uma vacina testada de forma inapropriada.”
Outros questionaram se a motivação para correr com a vacina era para ganhar influência política.
“Putin está a utilizá-la para fortalecer uma imagem muito manchada da destreza técnico-científica da Rússia,” Professor da Universidade de Georgetown, Lawrence Gostin, disse à The Associated Press. “Ele está a utilizá-la para fins geoestratégicos em lugares onde a Rússia gostaria de ter esferas de influência.”
África tem grande necessidade de doses da vacina para alcançar a sua meta global de vacinar 60% da população do continente de cerca de 1,3 bilhões de pessoas.
Mais de 3,5 milhões de casos da COVID-19 foram confirmados no continente e aproximadamente 89.000 pessoas morreram, de acordo com as estatísticas do dia 28 de Janeiro, do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC).
Em meados de Fevereiro, as primeiras doses da AstraZeneca chegaram em África quando o Gana recebeu 600.000 doses através da COVAX, uma iniciativa global que distribui vacinas gratuitamente a 92 países de média e baixa renda, incluindo vários em África. A COVAX está a pagar 3 dólares por cada dose da vacina, que é fabricada na Índia.
Surgiram problemas mais sérios do que o preço com a composição da Sputnik V.
É uma vacina de vector viral — tecnologia que os cientistas têm utilizado desde a década de 1970 — que utiliza o adenovírus humano inofensivo para provocar o sistema imunológico. Mas os especialistas dizem que os fabricantes não são capazes de garantir um resultado estável porque os ingredientes biológicos criam inconsistência na qualidade do produto acabado.
Para além destes problemas está a deliberada falta de informação e transparência da Rússia.
Uma funcionária sénior da Agência Europeia de Medicamentos alertou, no dia 7 de Março, aos membros da União Europeia para não concederem a aprovação para a Sputnik V enquanto a agência analisa questões de segurança e eficácia da vacina.
“Precisamos de documentos para que possamos fazer a análise. Ademais, neste momento, não temos dados sobre as pessoas vacinadas,” disse Christa Wirthumer-Hoche, na empresa de radiodifusão austríaca, ORF. “Não se conhece. É por isso que eu aconselharia urgentemente contra a possibilidade de se dar uma autorização de emergência nacional.”
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